O que apontaram as rodas de conversa do Congresso Estadual
Por Eliana Haddad
Nos dias 24 a 26 de junho, em Atibaia, SP, mais de 700 pessoas participaram o 18º Congresso Estadual de Espiritismo, que comemorou os 75 anos da USE e que contou com palestras de Rossandro Klinjey, Alberto Almeida, Heloísa Pires, Haroldo Dutra, Emanuel Cristiano, Humberto Schubert e André Trigueiro.
Foram também realizadas oito rodas de conversa para reflexão sobre temas relevantes para o movimento espírita. “As rodas representam um diferencial do congresso da USE, promovendo um maior diálogo com os dirigentes e colaboradores em geral, destinando-se ao público mais afeito aos estudos do espiritismo, enquanto as palestras atendem a um público mais geral”, destacou o coordenador Marco Milani, diretor do Departamento de Doutrina da USE e presidente da USE Regional de Campinas. Ele observa que um ponto em comum a se destacar nas rodas foi a ênfase à necessidade de se priorizar Kardec como fonte principal das informações doutrinárias. “A Campanha Comece pelo Começo, lançada há 50 anos, foi lembrada em várias falas dos expositores”, lembrou.
Algumas das considerações dos grupos sobre os temas abordados:
Religião e seu sentido filosófico
• O espiritismo como filosofia nos ajuda a entender o nosso relacionamento com os outros e nos faz refletir sobre qual é o nosso objetivo na vida e qual a nossa expectativa no mundo material e espiritual.
• Allan Kardec apresenta a religião no sentido superior, integrada à filosofia e à ciência.
• A mensagem espírita é essencialmente filosófica, mas inclui o transcendente relacionado com o mundo espiritual. E a fé precisa estar apoiada na racionalidade.
Uso equivocado de teorias científicas no espiritismo
• Problemas apresentados como científicos, sejam fenômenos, teorias ou teses, para serem considerados como conhecimento espírita devem ser comprovados cientificamente, antes de serem divulgados como verdades.
• O movimento e o centro espírita devem ter muita prudência para não tomar a “opinião pessoal” de um espírito, médium ou um escritor famoso, como uma verdade espírita.
Práticas estranhas no centro espírita
• Respeito a todas as crenças, mas respeito igualmente às ideias espíritas, às quais não se deve inserir práticas estranhas. Devemos respeitar o espiritismo.
• Práticas estranhas (apometria, cristais, cromoterapia etc.) atraem muitas pessoas, mas depois, num efeito funil, somente um pequeno número busca por cursos. A base de tudo é o estudo.
Desafios da prática mediúnica na atualidade
• Necessidade de reavaliação da prática mediúnica presencial, face às possibilidades de se criar novas metodologias de estudo e práticas mediúnicas virtuais.
• Desde o início da pandemia a maior parte dos centros espíritas passaram a realizar o Evangelho com os trabalhadores dessa área, irradiações e, em alguns grupos, também, o intercâmbio com o mentor.
• Estudos de possibilidades de se implementar uma metodologia de educação mediúnica por meio virtual e de treinamento a distância. Não há experiências efetivas nesse campo, embora haja algumas especulações.
Diálogo entre gerações no movimento espírita
• Constata-se uma dificuldade de diálogo entre as gerações, com pontos a serem superados em todos os grupos, desde aqueles decorrentes da inexperiência dos jovens, assim como a necessidade de maior compreensão por parte dos dirigentes sobre as características culturais das novas gerações.
• O jovem deve ser mais ‘aproveitado’ não apenas para o apoio nas tarefas de serviços gerais, mas também nas atividades de estudos e palestras. Deve-se estabelecer um processo para essa preparação e acompanhamento.
A postura do espírita diante das mídias sociais
• Para se construir uma rede positiva deve-se passar rapidamente por conteúdos negativos nas mídias sociais para que os algoritmos não registrem esse perfil como de interesse e passe a disponibilizar conteúdos de igual perfil. As curtidas devem estar focadas no positivo, para a construção de rede social produtiva e interessante.
• Orar e vigiar também funciona nas redes sociais. Não dispender esforços inutilmente em discussões e focar no autoconhecimento.
• A melhor forma de se comportar nas redes sociais está descrita no item “O homem de Bem”, capítulo 17: Sede perfeitos, de O evangelho segundo o espiritismo. Respeitar a opinião dos outros, não alimentar o ódio e nem rancor.
Lições da pandemia ao centro espírita
• Parcela significativa dos centros espíritas se adaptou às novas tecnologias de comunicação a distância, porém outros ainda se mostram resistentes à ampliação do uso de recursos tecnológicos.
• Percebem-se mudanças nas prioridades dos centros espíritas, sem fugir de seu papel básico. Há atividades que deveriam ser realizadas presencialmente, apesar de haver estudos no sentido de realização a distância.
• As lições aprendidas se referem às práticas para a prestação de serviços e manutenção das atividades das casas espíritas, aprimorando essas ações, dadas as novas oportunidades tecnológicas de interação.
• As opiniões ou posições de políticos e ideologias políticas não são recomendáveis para os centros espíritas. Deve-se ter cuidado contínuo com as notícias falsas. A análise consiste em perguntar sempre quem é a fonte e qual o seu interesse.
Fatos históricos e coerência doutrinária
• Necessidade da análise crítica e aplicação de método e critérios racionais baseados em fatos e no corpo teórico espírita para obras literárias, palestras, mensagens etc. para não se aceitar ou negar ‘a priori’ nenhum conteúdo, apenas baseado na idoneidade de encarnados ou desencarnados, que agiriam nesses casos apenas como argumento de autoridade.
• Alerta para a existência de inúmeras informações ditas “históricas” em obras mediúnicas que não possuem validação pelos fatos registrados cientificamente, logo não podem ser tomadas como verdades doutrinárias.
• Romances mediúnicos com narrativas históricas expressam apenas a opinião de um autor espiritual e seus relatos não se caracterizam, isoladamente, como fatos históricos comprovados e que devam ser considerados válidos.