Marlene Nobre e a medicina da nova era
Por Rita Cirne*
Ao longo de sua vida, a médica, conferencista e escritora Marlene Rossi Severino Nobre recebeu inúmeros convites para trabalhar na seara espírita, chamados que a conduziriam para uma missão maior, sendo reconhecida por sua dedicação a obras sociais, à escrita e à implementação de uma entidade que ergueu pontes, aproximando espiritualidade e medicina. Tratou-se de uma mudança de visão sobre saúde e doença, construída aos poucos, com a fundação da Associação Médico-Espírita, que se consolidou e vem ampliando sua atuação Brasil afora e em outros países.
Nascida em berço espírita, na cidade de Severínia, interior de São Paulo, em 1937, Marlene Nobre recebeu o seu primeiro chamado em 1958. Foi convidada pelo colega de faculdade, Waldo Vieira, para a ir conversar com Chico Xavier. O pedido teria sido feito pelo próprio médium pouco tempo antes de ele se instalar definitivamente em Uberaba, MG, vindo de Pedro Leopoldo.
Convidada a trabalhar na Comunhão Espírita Cristã junto ao médium, a estudante de medicina bebeu em fonte segura durante os quatro anos em que lia e interpretava textos da codificação nas sessões públicas da casa. Foi também em Uberaba que Marlene Nobre conheceu o jornalista e político José Freitas Nobre, com quem se casou em 1962.
Atuação em São Paulo
No ano seguinte, já morando em São Paulo, o casal inicia projetos de assistência social na região do ABCD Paulista, fundando, em 1968, em Diadema, a instituição espírita Lar do Alvorecer. Eles também participaram da fundação em São Paulo do Grupo Espírita Cairbar Schutel e do jornal Folha Espírita, todos em plena atividade.
Em 1968, sob a inspiração dos espíritos Batuíra e Bezerra de Menezes, através da mediunidade de Spartaco Ghilardi, inicia-se a fundação da Associação Médico-Espírita de São Paulo, a AME-SP, reunindo médicos espíritas, como Luiz Monteiro de Barros, Adroaldo Modesto Gil, Antonio Ferreira Filho e Eurico Brando Ribeiro.
Em fevereiro de 1990, Marlene assumiu a presidência da Associação, dando um dos seus testemunhos de resiliência, pelo período de turbulência espiritual pela qual a instituição passava. Mas não faltou o estímulo de Chico Xavier, encorajando-a, dizendo que ela estaria amparada por Bezerra de Menezes.
O chamado de Bezerra
No mesmo ano, quinze dias depois de se despedir de Freitas Nobre, que desencarnou aos 68 anos, vitimado pelo câncer, Marlene recebeu o segundo chamado. Desta vez, diretamente de Bezerra de Menezes, que lhe apareceu ao pé de sua cama, dizendo-lhe que a Associação Médico-Espírita já estava formada no coração de Jesus e que era preciso materializá-la na Terra.
E assim foi feito. Em 1991, para concretizar esse projeto, Marlene organizou o primeiro Congresso da AME-SP, no Centro de Convenções Anhembi, conclamando os colegas de todos os estados para a fundação das AMEs nas diversas regiões do Brasil. No terceiro Congresso, realizado em junho de 1995, com nove AMEs já fundadas, a AME-Brasil foi instituída, levando a médium a ficar mais voltada ao movimento médico-espírita, mas sem abandonar as outras tarefas doutrinárias, além do seu trabalho na Folha Espírita.
“A Europa, Marlene, a Europa...”
Em 1999, representantes de vários países, como Argentina, Colômbia, Guatemala, Panamá e Portugal, foram reunidos em um dos Congressos da AME-Brasil. Mas havia muito mais a fazer. E, em 2000, enquanto trabalhava no planejamento de novos encontros, recebeu o terceiro chamado:
“Marlene, bonjour!”
Era Léon Denis, que lhe perguntava: “A Europa, Marlene, a Europa... Quando você vai começar o trabalho por lá?”
Como ela lhe respondera que estava pronta, mas que não havia recebido nenhum convite para ir à Europa, ouviu dele: “Você está esperando convite, Marlene?”
E assim começava para ela uma nova fase de trabalho, sendo a Espanha o seu primeiro destino, onde foi realizado o primeiro congresso internacional, na cidade de Barcelona, em 9 de outubro – na mesma data em que, em 1861, aconteceu o Auto de fé de Barcelona, quando foram queimados em praça pública 300 exemplares de O livro dos espíritos por ordem do bispo da cidade.
Marlene conseguiu não só falar de espiritismo e ciência a vários povos, como conectou o movimento médico-espírita a nomes expressivos da ciência mundial, trazendo para os congressos no Brasil expoentes como Harold Koenig, Amit Goswami e Peter Fenwick, comenta Décio Iandoli Jr., presidente da Associação Médico-Espírita de Mato Grosso do Sul, MS.1
Marlene Nobre escreveu cerca de 10 obras, dentre elas A obsessão e suas máscaras, O clamor da vida, A vida contra o aborto e seu último livro, Chico Xavier, meus pedaços do espelho, pela FE Editora.
Sua tarefa por aqui terminou em 5 de janeiro de 2015, aos 77 anos, vitimada por um infarto, deixando um legado inquestionável, que certamente estabeleceu caminhos para a medicina da nova era.
Bibliografia
¹ No livro Marlene Nobre e o ideal médico-espírita, ed. AME-Brasil.
² O Legado de Marlene Nobre, de Paulo Rossi Severino, ed. FE.
³ Programa Mulheres Notáveis – Renovando Consciências, no YouTube. Entrevista com o médico Décio Iandoli Jr.: youtu.be/MANNoy4vYt4
4 Blog do Ismael. Entrevista de Marlene Nobre, em 12.04.2010: ismaelgobbo.blogspot.com/2010/04/focalizando-o-trabalhador-espirita_12.html
* Rita Cirne é jornalista e colaboradora do Grupo Espírita Batuíra, em São Paulo, e do jornal Valor Econômico.