Spam espírita
Por Marco Milani*
A utilização de ferramentas de comunicação à distância ganhou um enorme impulso com as restrições de deslocamento provocadas pela pandemia da Covid-19 e, desde então, alterou os hábitos de milhões de pessoas que antes necessitavam visitar um centro espírita para participar de atividades tipicamente presenciais, como palestras, entrevistas, estudos e outras ações com temáticas doutrinárias. Ao serem oferecidos à distância, ampliou-se o público usuário desses serviços, sinalizando uma ótima oportunidade para a apresentação e compreensão dos princípios e valores espíritas.
Diante dos novos canais de interação, a própria divulgação dos eventos espíritas redimensionou-se, ganhando espaço no ambiente virtual das redes sociais. Diversas instituições investiram na constituição e desenvolvimento de páginas eletrônicas e grupos virtuais para atender esse tipo de demanda.
Diferentemente de propagandas e anúncios não solicitados que invadem caixas postais eletrônicas, conhecidos como “spams”, o compartilhamento da maioria dos cartazes de atividades com temática espírita é sempre bem-vindo nas redes sociais direcionadas aos adeptos e simpatizantes. Afinal, acaba sendo uma prestação de serviço, já que eventos espíritas tendem a oferecer momentos de nobres reflexões e práticas edificantes, sendo iniciativas que devem ser divulgadas.
O lado bom da nova realidade
Um interessante fenômeno também passou a ocorrer diante da farta produção de eventos à distância, os quais não se limitam mais aos tradicionais frequentadores dos salões e auditórios dos centros espíritas e respectivas regiões, mas voltam-se a quem se deparar com as respectivas peças de divulgação nas redes sociais. Como ocorrem vários eventos no mesmo dia e horário, os participantes dos grupos virtuais podem escolher qual deles assistir, ao vivo ou gravado.
Dirigentes e divulgadores espíritas sensatos sabem que essa concorrência é esperada e perfeitamente normal em um ambiente com várias possibilidades de interação à distância, além de que cada evento tende a atrair um público com perfil específico, conforme as características do conteúdo e as condições de participação para cada um deles.
Compreensível a preocupação em tornar a arte de cartazes e outras peças de divulgação mais técnicas e profissionalizadas, favorecendo a comunicação. Certamente, um material bem elaborado reúne mais condições de atingir o seu objetivo informacional, mas não quer dizer que cartazes mais rudimentares não cumpram o seu papel.
Alerta para o bom-senso
Entretanto, alguns divulgadores, ao encararem a existência de eventos concorrentes como uma competição de mercado, não limitam-se a aperfeiçoar a arte de cartazes e a utilizar mais canais para a devida comunicação eletrônica. Creem que a quantidade de inserções do material de divulgação, ainda que seja no mesmo canal ou grupo de rede social, seja um diferencial para obter vantagem competitiva. Ao fazerem isso, correm o evidente risco de saturarem o usuário dessas redes sociais e gerarem o efeito inverso, criando resistência ao divulgador.
Há casos de indivíduos, bastante motivados para a obtenção de visibilidade, publicarem diariamente eventos semelhantes ou iguais, consumindo inadvertidamente o precioso tempo e contando com a serenidade dos participantes desse canal de comunicação.
Logicamente, o ambiente virtual pode (e deve) possuir regras e diretrizes de publicações que evitariam tal abuso, mas isso é de responsabilidade dos administradores das páginas e grupos.
A divulgação de eventos espíritas em canais apropriados é uma prática útil e necessária, até caridosa, mas a motivação competitiva para tal prática, lastreada na intenção de sensibilizar a maior quantidade possível de pessoas pela cansativa republicação sem que os usuários assim tenham solicitado e sem se atentar ao tempo alheio consumido, pode se afastar da caridade e do bom senso, além de se aproximar de uma prática de “spam”.
*Diretor do departamento de doutrina da USE- SP.