Saber ouvir

Por Umberto Fabbri*

A comunicação tem grande importância na vida em sociedade; é uma ferramenta de integração, instrução, de troca e desenvolvimento.

O processo de comunicação consiste na transmissão de informação entre um emissor e um receptor que partilham conhecimento e, dentro deste compartilhar, podemos crescer com o conteúdo trazido pelas experiências e aprendizados do outro. Entretanto, para que esse processo se efetue é necessário saber ouvir.

Nos preocupamos muito com a forma correta de nos expressar, mas nem sempre nos atentamos para o ouvir adequadamente. 

Jesus já nos orientava sobre essa necessidade, ao dizer: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!”.¹ Possuir os ouvidos em nossa anatomia não é o suficiente; não devemos apenas registrar os sons de forma superficial, ou ainda notar de maneira mais intensa os boatos, escândalos, notícias perturbadoras.

Talvez tenhamos aprendido que quem ouve é aquele que não sabe, reduzindo o ato de ouvir a algo que fere o nosso orgulho, o nosso brilho, que nos diminui.

Esta falha na predisposição à escuta ativa afeta nossa vida muito mais do que imaginamos. No convívio familiar e social, podemos ter o triste hábito de não estar atento ao ouvir, de não respeitar o outro, de não identificar a sua vontade, suas ideias, suas dores e alegrias, reduzindo o diálogo a um monólogo mental onde, mesmo que o outro fale, não registramos.

 Um exemplo prático de como isso pode acontecer é quando iniciamos uma conversa com ideias preconcebidas, que nos levam a rebater e a contestar o pensamento do outro, desencadeando muitas vezes discussões e desapontamentos que poderiam não existir se simplesmente ouvíssemos.

Preste atenção em como você ouve:

Deixa o interlocutor terminar o raciocínio, ou interrompe antes que ele acabe?

Consegue ouvir outra pessoa falar de um problema sem colocar o seu como mais importante?

Dá tempo e espaço para que o outro desenvolva o seu raciocínio, mesmo quando não concorda com o que ele está dizendo? 

Para regular essa atividade o conselho do sábio Jesus vem a calhar. Como você gosta de ser ouvido? De ter reconhecida sua expressão, sua mensagem, sua ideia ou sua dor? 

Ouvir é também acolher.

A dificuldade em ouvir, em estar receptivo, registrando e reconhecendo o que vem dos nossos semelhantes, considerando o seu direito de expressar o que pensa e sente, é um entrave em nosso modo de nos relacionarmos, de crescer e aprender. É uma forma bem clara de egoísmo, que sabemos ser a chaga de todos os males e que atrapalham além das paredes dos nossos lares, das nossas amizades ou atividades profissionais.

Existem atividades dentro da casa espírita que necessitam dessa arte de ouvir: o atendimento fraterno a encarnados e o diálogo com os desencarnados, assim como a troca de ideias para melhorar nossas atividades; sem dizer das inspirações que também podemos incluir neste ‘ouvir’, embora de outra forma, mas que também requer a atenção ao que está além de nós.

Ouvir também é uma forma de caridade, de acolhimento e respeito ao outro, mesmo que ele não pense como nós.

¹ Mateus 11:15.


*Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor de diversos livros espíritas, dentre eles: O traficante (pelo espírito Jair dos Santos) O político (Adalberto Gória) e Bastidores de uma casa espírita (Luiz Carlos), ed. Correio Fraterno.