Clichês mentais de outras vidas
Por Eder Andrade*
O espiritismo sugere que memórias ou imagens que despertam do nosso inconsciente podem refletir acontecimentos de outras vidas. Esse fato interfere na atual encarnação, com o objetivo de promover uma transformação profunda no nosso ser.
Lembranças e imagens podem ser acionadas por gatilhos emocionais ou estímulos externos atuais, que despertam em momentos específicos como um chamamento para algo que precisa ser feito, pois somos portadores de sentimentos adoecidos de outras vidas.
No livro Ação e reação, psicografado por Chico Xavier, encontramos um interessante diálogo entre o diretor da Mansão Paz com André Luiz, que explica:
“No plano físico, muitos de nós supúnhamos que a morte seria ponto final aos nossos problemas, enquanto outros muitos se acreditavam privilegiados da Infinita Bondade, por haverem abraçado atitudes de superfície, nos templos religiosos. A viagem do sepulcro, no entanto, ensinou-nos uma lição grande e nova – a de que nos achamos indissoluvelmente ligados às nossas próprias obras. Nossos atos tecem asas de libertação ou algemas de cativeiro, para a nossa vitória ou nossa perda. A ninguém devemos o destino senão a nós próprios.”1
Herdeiros, portanto, das nossas imagens mentais, nos resta compreender qual o caminho a ser trilhado para estarmos em paz com nossa consciência na atual existência, mergulhados que estamos em uma cultura em que pensamentos atávicos e crenças acabam norteando nossas atitudes, hábitos que nos deixam engessados diante de um processo de mudança, pois nem sempre nos sentimos prontos para a necessária renovação.
Benfeitores espirituais vão sempre ajudar os que desejam superar seus desafios interiores, como Emmanuel cita na obra Rumo certo:
“Esforçando-te por superar dificuldades e contratempos, nas áreas da reencarnação, recorda o patrimônio das bênçãos de que dispões, a fim de que os dissabores e empeços educativos da existência não te sufoquem as possibilidades de trabalhar e de auxiliar.
Em todas as provas que te assaltam os dias considera a quota das bênçãos que te rodeiam. E, escorando-te na fé e na paciência, reconhecerás que a Divina Providência está agindo contigo e por teu intermédio, sustentando-te em meio dos problemas que te marcam a estrada, para doar-lhes a solução.”2
Isso nos leva a compreender por que as dores da alma muitas vezes refletem o arrependimento do espírito e seu desejo de reparação das faltas cometidas. E, aqui, a reflexão de Kardec não poderia ser mais oportuna, no que diz respeito à justiça e misericórdia das leis divinas, presentes em nossas vidas e sempre voltadas ao nosso aprendizado e progresso. Tudo a seu tempo:
“[...] em virtude do axioma todo efeito tem uma causa, essas misérias são efeitos que devem ter uma causa e, desde que se admita um Deus justo, essa causa deve ser justa. Ora, como a causa sempre precede o efeito, já que ela não está na vida atual, deve ser anterior a esta vida, isto é, pertence a uma existência precedente.”3
Bibliografia
1. Ação e reação, André Luiz, cap. 2. FEB.
2. Rumo certo, por Chico Xavier, cap. 3. FEB.
3. O evangelho segundo o espiritismo, Allan Kardec, cap. 5, FEB.
*Professor de história e sociologia, frequentador do Centro Espírita Consolador, no Rio de Janeiro, RJ.