Quando a vida muda
Por Umberto Fabbri*
A vida na Terra é marcada por constantes transformações. Cada fase, cada vínculo e cada conquista está sujeita à impermanência, pois vivemos em um mundo de provas e expiações, onde o aprendizado se dá, muitas vezes, por meio da dor e da renúncia. O espiritismo nos convida a olhar para essas experiências não apenas com os olhos do mundo, mas com os olhos da alma.
Quando falamos em luto, a maioria das pessoas pensa imediatamente na perda de um ente querido. De fato, poucas dores se comparam à de perder alguém que amamos. O corpo parte, o convívio se interrompe, e ficamos com um silêncio profundo, tentando compreender o porquê. Nesses momentos, o espiritismo oferece um consolo único: a certeza da imortalidade da alma, da continuidade da vida após a morte, e da possibilidade do reencontro. Como nos ensina O livro dos espíritos1, a vida no plano espiritual é a verdadeira vida, e a morte do corpo é apenas uma passagem.
Mas o luto não se restringe à morte física. Ele pode se manifestar em diversas situações de perda: o fim de um relacionamento, a perda de um emprego, a saída dos filhos de casa, a perda da saúde ou mesmo de um sonho. Todas essas mudanças causam dor, pois envolvem o desapego de algo que era importante para nós. São formas simbólicas de morrer para uma realidade e nascer para outra.
Essas perdas fazem parte do processo evolutivo. Como nos diz O evangelho segundo o espiritismo, em “Bem-aventurados os aflitos"2 , muitas vezes a dor é necessária para a purificação do espírito. A perda nos obriga a olhar para dentro, a repensar valores, a buscar forças espirituais que estavam adormecidas. Nesse sentido, o luto pode se tornar um campo fértil para o despertar da consciência e para o reencontro com Deus.
Importante lembrar que o luto é um processo pessoal e intransferível. Cada um vive à sua maneira, com seu tempo e intensidade. Não devemos apressar o outro a ‘superar’, nem julgar suas reações. O espiritismo nos ensina a acolher, a compreender, a respeitar o momento do outro, oferecendo palavras de consolo e preces sinceras. A solidariedade e a empatia são formas de caridade.
A prece, aliás, é um recurso poderoso nesses momentos. Ela nos conecta com os bons espíritos, eleva nossos pensamentos e tranquiliza nosso coração. Quando perdemos alguém, a oração é um elo que nos mantém unidos em vibração e amor. Quando enfrentamos perdas materiais ou emocionais, a prece nos fortalece para seguir o caminho com coragem e fé.
O luto é uma travessia. Às vezes longa, às vezes silenciosa. Mas não estamos sozinhos. Deus nos sustenta, os bons espíritos nos assistem, e as experiências dolorosas, quando bem compreendidas, nos tornam mais maduros, mais humanos e mais próximos do nosso propósito espiritual.
Por isso, diante das perdas, confiemos: tudo passa, tudo se transforma, e o que realmente importa – o amor que cultivamos – permanece eterno.
Allan Kardec, questões 149 a 165, FEB.
Allan Kardec, capítulo 5, FEB.
*Profissional de marketing, Umberto Fabbri é orador e escritor com diversos livros publicados.