A fé e o sentido da vida
Por Umberto Fabbri*
Jesus, no diálogo com Marta, diante da morte de Lázaro, perguntou-lhe com profundidade: “Crês tu isto?”1. Essa pergunta, aparentemente simples, atravessa os séculos e chega até nós como um convite à reflexão mais íntima: No que realmente cremos?
Crença é mais do que uma aceitação intelectual de princípios religiosos. Emmanuel, na lição 137 do livro Palavras de vida eterna2, nos lembra que “crença é poder da alma, gerando vida dentro da vida”. Ou seja, é uma força que movimenta nosso comportamento, nosso olhar sobre o mundo e, principalmente, nossas escolhas.
No entanto, é importante considerar como estamos utilizando a nossa fé. Recentemente, uma reflexão chamou minha atenção: “Para quem Deus é o fim, há espiritualismo. Para quem Deus é o meio, e o mundo é o fim, há materialismo.” Essa frase nos convida a uma análise profunda: Estamos buscando Deus como um caminho de transformação interior, ou apenas como um recurso para alcançar objetivos materiais?
É muito comum vermos a fé sendo usada como moeda de troca: Acredita-se, ora-se, frequenta-se cultos ou reuniões espíritas, com o objetivo de conseguir algo – um emprego, a cura de uma doença, a proteção de um ente querido. Não há erro em pedir ajuda ao Alto. Jesus mesmo nos convida a isso. Mas há uma diferença essencial entre confiar em Deus e tentar usá-lo como meio para conquistar bens passageiros. A fé genuína não é uma ferramenta para evitar o sofrimento, mas uma força que nos sustenta quando ele chega.
O espiritualista verdadeiro vê Deus como a fonte, o destino, a razão de ser. Ele não o procura apenas para resolver os problemas do mundo, mas para compreender sua existência e crescer como espírito eterno. Já o materialista pode até frequentar ambientes religiosos, pode até falar sobre Deus, mas mantém o foco principal naquilo que é transitório. Deus, para ele, é um atalho, uma ferramenta de conquista no plano físico.
É nesse ponto que devemos nos perguntar: Como tenho vivido minha fé? Ela me torna uma pessoa melhor? Mais justa, mais compassiva, mais paciente? Ou tenho usado minha fé apenas como uma tentativa de controlar o que acontece à minha volta?
A fé verdadeira, como nos ensina O evangelho segundo o espiritismo3, é a mãe da esperança e da caridade. Ela não elimina os desafios da vida, mas nos oferece serenidade para enfrentá-los. Maria, diante da dor de perder o filho, manteve a dignidade e a confiança. Paulo, mesmo preso, doente, incompreendido, sustentou a fé que o transformou completamente. Esses exemplos mostram que a fé viva produz frutos de renovação moral.
Emmanuel completa sua lição dizendo que a crença que não se transforma em ação edificante, em paz interior, em caridade sincera, é como lâmpada apagada: tem forma, mas não ilumina. Por isso, a fé que professamos precisa sair dos lábios e descer ao coração, guiando mãos e pensamentos.
Encerrando, deixo a todos nós um convite: olhemos para dentro e perguntemos, com sinceridade: Amo a Deus pelo que Ele é, ou pelo que Ele pode me dar?
A resposta honesta a essa pergunta nos dirá muito sobre nossa jornada espiritual.
Que possamos fazer da fé uma ponte para a vida eterna, uma luz que ilumina, não só nossos caminhos, mas os caminhos daqueles que nos rodeiam.
*Profissional de marketing, Umberto Fabbri é orador e escritor.
1 João 11:26.
2 Emmanuel, por Chico Xavier, FEB, CEC e FEB.
3 Capítulo 19.