Lutar ou aceitar?
Por Umberto Fabbri*
A vida nos convida constantemente a lidar com desafios e mudanças. Muitas vezes, diante das dificuldades, nos questionamos se devemos lutar para transformar as circunstâncias ou se devemos aceitá-las com serenidade. Essa reflexão nos convida a compreender a diferença entre conformismo e conformação, conceitos que, embora pareçam semelhantes, possuem significados profundamente distintos.
No capítulo 131 do livro Palavras de vida eterna¹, Emmanuel nos esclarece essa diferença ao afirmar que "conformismo é o sistema de ajustar-se alguém a todas as circunstâncias", enquanto "conformação é a submissão voluntária e serena da pessoa às aperturas da vida". Essa distinção é essencial para nosso amadurecimento espiritual, pois o conformismo pode nos levar à inércia e à acomodação, ao passo que a conformação representa um estado de aceitação ativa, que nos permite crescer diante dos desafios que não podemos modificar.
O conformismo ocorre quando nos entregamos à resignação passiva, aceitando as adversidades sem reflexão ou esforço para melhorar a situação. É quando deixamos de exercer nosso livre-arbítrio, permitindo que o desânimo e a apatia nos afastem das oportunidades de aprendizado e crescimento. Essa postura pode levar à estagnação, impedindo-nos de cumprir nossa missão espiritual e contribuir para o bem ao nosso redor.
Por outro lado, a conformação está ligada à compreensão da vontade divina e à aceitação consciente daquilo que não podemos mudar. Ela exige humildade e confiança na sabedoria de Deus, reconhecendo que certas provações fazem parte do nosso aprendizado. Conformar-se, nesse sentido, não significa desistir, mas alinhar-se aos desígnios divinos com serenidade e coragem.
Um exemplo marcante dessa distinção está na forma como lidamos com o desencarne de entes queridos. O conformismo poderia nos levar ao desespero ou à apatia, tornando-nos prisioneiros da dor. Já a conformação nos ensina a acolher a separação temporária com fé, compreendendo que a vida prossegue além da matéria e que os laços do amor verdadeiro jamais se rompem.
Essa compreensão encontra um belo resumo na “Oração da Serenidade, amplamente conhecida:
"Concedei-me, Senhor, a serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para mudar aquelas que posso e sabedoria para distinguir entre elas."
Aqui encontramos a chave do equilíbrio entre agir e aceitar. Precisamos de coragem para transformar as situações que dependem de nosso esforço, como superar nossas limitações, cultivar virtudes e auxiliar o próximo. Mas também necessitamos de serenidade para aceitar aquilo que está além do nosso controle, como as provas da vida, as perdas e os desafios inevitáveis da existência. A sabedoria nos ajuda a discernir entre uma coisa e outra, evitando tanto a rebeldia diante do inevitável quanto a passividade diante do que pode ser mudado.
No caminho do progresso espiritual, somos chamados a exercer essa sabedoria diariamente. Jesus, nosso modelo maior, demonstrou conformação ao aceitar sua missão com amor e confiança no Pai, mas jamais foi conformista diante do sofrimento alheio, buscando sempre transformar o mundo pelo bem.
Que possamos seguir esse exemplo, cultivando a fé ativa, a coragem para agir quando necessário e a serenidade para aceitar o que foge ao nosso controle.
¹ Por Francisco Cândido Xavier, FEB.
* Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor de diversos livros espíritas, dentre eles: O traficante (pelo espírito Jair dos Santos), O político (Adalberto Gória) e Bastidores de uma casa espírita (Luiz Carlos), ed. Correio Fraterno.