A lição do amor para Madalena

Por Beatriz Maciel

Maria Madalena, na série The Chosen, interpretada pela atriz americana Elizabeth Tabish

Muitas vezes, quando pensamos em alcançar o amor exemplificado por Jesus, deparamo-nos com uma sensação de impotência. Parece-nos impossível olhar para a eternidade e vermos concretizado em nós esse amor-modelo do Mestre. Isso poderia nos paralisar, se não observássemos que todos os dias somos testemunhas de que o aprendizado do amor é uma construção que se realiza através dos desafios e experiências da vida.

É preciso lembrar que a proposta divina não é a de se criar o amor nos nossos corações, porque isso já está em nós, mas a de nos incentivar ao melhor aproveitamento de todas as oportunidades que a vida nos oferece para desenvolvê-lo, afinal o caminho da evolução nos convida a aperfeiçoá-lo em nós mesmos, sendo essa a nossa principal tarefa.

Amar, portanto, é compartilhar o que já existe em nós. Amar ao próximo é efeito do que já mora no nosso coração. O fato de esse amor ser correspondido ou não é outra questão, e é compreensível que, em nosso estado evolutivo, necessitemos ainda da retribuição, da resposta do amor do outro, o que nos faz mais felizes quando encontramos essa sintonia. Contudo, o amor verdadeiro é incondicional.

Quando esse encontro de corações não acontece, muitas vezes nos perdemos em uma gama de outros sentimentos e intenções contrárias ao amor, que se realiza muito mais em dar do que em receber. O fato é que ainda temos muita dificuldade em aperfeiçoar a nossa capacidade de amar, estando esse aprendizado também ligado ao conhecimento e entendimento da lei divina, retratada na perfeição da Criação. Tudo no seu devido tempo.

Os exemplos de Jesus, muito mais voltados às leis morais e atitudes interiores do que à obediência a regras exteriores, nos trazem um guia seguro para nortear nossas atitudes. É necessário que aprendamos o valor do amor em nós e, nessa caminhada, o autoconhecimento é indispensável, permitindo que nos tornemos primeiramente plenos, inteiros, conscientes das nossas disposições e limites, para conseguirmos o aprimoramento do sentimento que desejamos compartilhar. Daí a profundidade espiritual do maior mandamento – amar a Deus de todo coração e entendimento, e ao próximo, como a si mesmo.

Amar é escolher ser feliz e ter o propósito de aprender a ser melhor todos os dias. Muitas vezes, porém, nos fechamos para o amor, seja para ofertar ou receber. Imaturos ainda quanto a essas riquezas espirituais que nos habitam, carregamos uma pesada armadura que nos impede de reconhecer o amor em nós mesmos e no próximo, deixando-nos cansados, desanimados, porque não percebemos que essa rigidez sufoca o amor e permite que o sofrimento e a dor endureçam o nosso coração.

O convite de amor de Jesus se refere a essa jornada interior que devemos realizar para encontrar o sentimento sincero e verdadeiro. O chamado é por trabalho, transformação. É sobre nos colocarmos a serviço do amor que desejamos e necessitamos aperfeiçoar.

Em sua primeira epístola aos Coríntios, Paulo nos ensina sobre a excelência do amor, revelando que sem amor ele mesmo nada seria. “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece, não busca os seus interesses, não se irrita, (...) tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha”, escreve.

O escritor Khalil Gibran retrata muito bem a delicadeza, as nuanças desse nobre sentimento. Em seu livro Jesus, o filho do homem¹, ele comenta passagens da vida do Mestre, dentre elas a história de Maria Madalena. Conta que ela andava pela cidade de Magdala, quando viu Jesus caminhando por uma plantação de trigo, mas que ele não lhe correspondeu ao aceno feito, fazendo-a sentir-se totalmente desprezada.

Tal sentimento foi tempos depois renovado, quando Madalena pôde encontrar-se com o Mestre e finalmente estar aberta para entender e assimilar todo o amor que dele emanava.

A futura discípula e Jesus “escutou a natureza, a vida e a si mesma; redescobriu sua alma”, descreve Gibran.

O amor é mesmo assim: só é possível com o encontro de si mesmo. É somente a partir daí que poderemos vislumbrar um futuro promissor, um caminho de esperança e luz no entendimento e alcance de todos, como viveu Jesus.

¹ Ed. Martins Fontes.