Adversidades

Por Umberto Fabbri*

Dizem que a maneira como enfrentamos nossos problemas revela nosso caráter e poderíamos acrescentar que nossa maturidade espiritual também pode ser avaliada ao nos depararmos com problemas, contrariedades e situações alheias à nossa vontade que nos tragam desconforto, angústia, medo, dor e tantos outros sentimentos contraproducentes. Eles podem ser testes para estimar nossa condição evolutiva e também a oportunidade de refazermos o que em outra ocasião realizamos de maneira indevida.

Cada um, frente a uma dessas situações, precisará tomar uma decisão, adotar uma postura para lidar com os desafios que a vida nos apresenta. Entretanto, nem sempre conseguimos ser assertivos em nossa reações e atitudes, pois ainda não educamos a emoção, os sentimentos, e, infelizmente, mesmo detendo o conhecimento teórico, acabamos por falir em nossa prova prática.

Exemplos vivos

Vejamos o caso de Judas e Pedro, apóstolos de Jesus: os dois receberam os ensinamentos diretamente do Mestre, observaram-no, caminharam com ele, presenciaram as curas, as desobsessões, as orientações confortadoras e amorosas,  alimentaram-se de sua vibração ímpar e contagiosa do amor puro. Todavia ainda possuíam em seu íntimo dificuldades emocionais necessitadas de transformação.

Judas, ainda iludido por um poder que de fato não existia da forma em que acreditava, trai o amigo leal e devotado. Não que lhe desejasse o mal, mas deixou seu orgulho comandar suas escolhas, mesmo tendo convivido com o exemplo máximo da humildade, da fraternidade e da paz. Não suportando o resultado de suas escolhas, tira a própria vida, ampliando sua dor e sentimento de culpa.

Pedro, sempre enérgico e voluntarioso, nega conhecer Jesus por três vezes, pois permitiu que o medo e a insegurança guiassem seus passos, mesmo tendo compartilhado de perto com a fé e a segurança inabalável de Jesus. Arrependido, supera sua culpa e vergonha tornando-se o braço forte do Evangelho na Terra. Socorreu, amou, alimentou e curou tantos quantos lhe foram possíveis.

Dentro deste episódio, encontramos ainda a postura firme e exemplar do mestre nazareno.

Seu martírio foi um grande teste para todos. Alguns se destacaram, outros faliram, mas todos eles continuaram a receber a ajuda, o amparo, o conforto espiritual de Jesus, pois ele nos ama sem exceção ou condições e sabe que necessitamos de tempo para efetivar nosso crescimento e aprendizagem.

Frente às adversidades, comportou-se com fé e coragem. Não atacou, não desistiu, não revidou ou odiou a quem o ferira. Deixou-se abater fisicamente para que com seus exemplos aprendêssemos a superar as desventuras e o mal que ainda reside em nós e no coração de nosso semelhante.

Pequenas e grandes escolhas

Durante muito tempo, e ainda hoje, assistir aos filmes ou ler sobre os momentos finais de Jesus encarnado sempre me trouxe tristeza e grande desconforto. Ontem, esta tristeza nascia por ver um homem bom sofrer injustamente. Hoje a consternação vem de saber que ‘nós’ lhe causamos, com nossa ignorância e rebeldia, no mínimo certo sofrimento. Mas, assim como Judas e Pedro, temos a opção de desistir ou de enfrentar nossas escolhas, bem como a moléstia do desamor que ainda reside no mundo, e optarmos pelo trabalho em servir ao Evangelho redentor com todo nosso coração, propagando-o com nosso exemplo, nos sustentando na fé e na certeza de um mundo melhor que nos cabe construir, dia a dia, nas pequenas e grandes decisões.

 

 *Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor de diversos livros espíritas, dentre eles: O traficante (pelo espírito Jair dos Santos) O político (Adalberto Gória) e Bastidores de uma casa espírita (Luiz Carlos), ed. Correio Fraterno.