O poder do feitiço
Médiuns e feiticeiros são a mesma coisa? Podemos ser enfeitiçados? — Luciana Germano, Assis, SP
Por Eliana Haddad
No livro O que é o espiritismo1, em “Diálogo com o crítico”, ao ser abordado sobre as ‘potências ocultas’ com relação à mediunidade, Allan Kardec lembra que em todos os tempos houve médiuns naturais e inconscientes que, pelo simples fato de produzirem fenômenos incompreendidos, foram qualificados de feiticeiros e acusados de pactuarem com o diabo.
Diz também que o mesmo teria acontecido com a maioria dos sábios que dispunham de conhecimentos acima do vulgar. “A ignorância exagerou seu poder e, muitas vezes, eles mesmos abusaram da credulidade pública”, afirma Kardec, destacando que “basta-nos comparar o poder atribuído aos feiticeiros com a faculdade dos verdadeiros médiuns para conhecermos a diferença.”
Kardec explica que o espiritismo, “longe de fazer reviver a feitiçaria, a aniquila, despojando-a do seu pretenso poder sobrenatural, de suas fórmulas, amuletos e talismãs, reduzindo a seu justo valor os fenômenos possíveis, sem sair das leis naturais”. Assinala que os espíritos não estariam sujeitos aos caprichos de ninguém, mas que “há espíritos de baixa categoria que podem se prestar à produção desses fenômenos e que se divertem, talvez por já terem sido prestidigitadores na vida terrena”. A obtenção desses fenômenos à vontade, e sobretudo em público, seria sempre suspeita.
Em O livro dos espíritos, itens 551 e 552, fica esclarecido que não pode um homem mau, com o auxílio de um mau espírito, fazer mal ao seu próximo; “Deus não o permitiria.” A crença nesse poder de enfeitiçar teria explicação no grande poder magnético que algumas pessoas dispõem e que dele podem fazer mau uso, e ainda com a possibilidade de serem auxiliadas por outros espíritos maus. “Não creias, porém, num pretenso poder mágico, que só existe na imaginação de criaturas supersticiosas, ignorantes das verdadeiras leis da natureza. Os fatos que citam como prova da existência desse poder são fatos naturais, mal observados e sobretudo mal compreendidos”, esclarecem os espíritos.
Continuando, o item 553, sobre as fórmulas e práticas ‘mágicas’, afirma: “Não há palavra sacramental nenhuma, nenhum sinal cabalístico, nem talismã, que tenha qualquer ação sobre os espíritos, porquanto estes só são atraídos pelo pensamento e não pelas coisas materiais”.
1- Allan Kardec, FEB.
Como se proteger?
Herminio C. Miranda*
Naquilo que Deus não o permite, realmente, nada podem fazer os espíritos ainda voltados para o mal — e essa é a nossa proteção, pois o que seria de nós se tudo lhes fosse permitido? Quando, porém, nos credenciamos a esse amparo? Talvez seja melhor reformular a questão: Quando nos tornamos vulneráveis e, portanto, expostos à cobrança? A partir do momento em que nos atritamos com as leis divinas, colocando-nos, portanto, não fora de sua proteção, não abandonados por Deus, mas submetidos às consequências de nossas próprias ações. É assim que um espírito faltoso coloca-se, por exemplo, ao alcance de dores inomináveis, como a da obsessão. Realmente, seria desastroso que qualquer espírito desajustado pudesse fazer conosco o que bem entendesse, mas estejamos certos de que, ao cometer nossos desatinos, abrimos a eles as portas da nossa intimidade. O próprio Cristo advertiu-nos de que, se não nos reconciliássemos com os nossos adversários, eles nos levariam ao juiz, e o juiz nos mandaria à prisão, donde somente seríamos liberados depois de cumprida toda a pena, até o último centavo.
Como muito bem observa Kardec, em nota de sua autoria, seguida à questão número 555 [O livro dos espíritos], “O espiritismo e o magnetismo nos dão a chave de uma imensidade de fenômenos sobre os quais a ignorância teceu um sem número de fábulas, em que os fatos se apresentam exagerados pela imaginação.” Com os esclarecimentos contidos hoje na doutrina espírita, estamos em condições de entender muitos desses segredos e mistérios. (...) Os espíritos vivem em grupos, ligados por interesses comuns, e revezam-se na carne e no além, apoiando-se mutuamente, alguns empenhados em finalidades nobres, construtivas e reparadoras, e outros envolvidos, século após século, em lamentáveis e tenebrosas práticas de dominação e vingança, tortura, perseguição.
Em espiritismo, diríamos que se trata de sintonia vibratória. Não que a magia tenha poderes por si mesma, pois ela não encontra ressonância e, por conseguinte, não alcança êxito junto àqueles que já se redimiram, ou que, pelo menos, acham-se defendidos pela prece, pela vigilância e pela prática da caridade, no serviço ao próximo.
Do livro Diálogo com as sombras, de Herminio C. Miranda. FEB, 2004.