A ciência já aceita a existência da alma?
Por que tem tanta gente que não acredita ainda que existem espíritos? O que falta para se admitir essa realidade? – Jacira Nepomuceno, Itapira, SP
Por Eliana Haddad
Não. A ciência não reconhece a existência da realidade espiritual, não sendo verdadeiras as notícias de que isso estaria sendo demonstrado pelas descobertas da física quântica ou de outras disciplinas científicas. Embora haja certo entusiasmo sobre o tema e grupos de pesquisa sérios estudando a respeito, muitas afirmações tidas como científicas são opiniões precipitadas, que não validam a existência de algo inteligente, independente e fora da matéria – a alma ou o Espírito.
O objeto de conhecimento da ciência é físico e seus estudos estão voltados a causas materiais. A ciência ainda não aceita a existência da alma por ser algo além de seus limites de pesquisa, traçados pela própria matéria. Foi isso que Kardec quis dizer quando afirmou que o espiritismo não era da alçada da ciência.
“Nem a mecânica quântica nem o fenômeno de auto-organização dos corpos dos seres vivos servem de argumentos válidos para comprovar cientificamente a existência da alma”, destaca o físico e pesquisador Alexandre Fontes da Fonseca.
Segundo ele, a física quântica realmente questionou as bases materiais do mundo, demonstrando que objetos materiais, por serem formados por átomos e partículas subatômicas, não são sólidos e maciços, e que os eventos físicos são influenciados pelas escolhas do observador do fenômeno. “Isso gerou o chamado misticismo quântico, uma visão de que a mente altera a realidade via fenômenos quânticos. Entretanto, a base da física quântica é materialista e não serve para comprovar a sobrevivência da alma”, esclarece.
Quanto ao fato de os corpos vivos serem organizados, a ciência não aceita que isso seja efeito da atuação de um ser inteligente (alma) sobre eles para a manutenção de seu funcionamento e harmonia, mas de uma propriedade intrínseca de sistemas físicos, de auto-organização, o que foi demonstrada matematicamente na década de 1970 pelo químico e prêmio Nobel russo Ilya Prigogine.
“A ausência de conhecimento dessas e de outras descobertas geram especulações místico-científicas que não se sustentam. Hoje, sabe-se que esse dinamismo é propriedade da matéria, o que não impede, é claro, que nos seres vivos exista uma alma, e que essa alma atue de modo sutil no corpo. O problema é que os cientistas não conseguem ainda distinguir uma coisa da outra”, observa Fonseca.
Ele salienta que isso não nega Kardec, lembrando ainda que não sabemos em detalhes como se daria a ação do Espírito sobre a matéria ainda que sob a influência do perispírito. “Essa é uma das questões científicas mais importantes de nosso século, pois a resposta a ela pode significar justamente uma demonstração da sobrevivência da alma”, comenta.
Para quem é espírita, entretanto, essa comprovação não é necessária (veja quadro). “A preocupação em comprovar a alma usando conceitos ou ferramentas de outras ciências tem efeito negativo para o espiritismo. É como se o movimento espírita demonstrasse, com exemplos de tentativas superficiais, que valoriza mais as disciplinas científicas materiais do que o próprio espiritismo e seus métodos”, avisa.
O físico Silvio Chibeni, professor de filosofia da ciência da Unicamp, ao analisar a história da ciência, mostra que o espiritismo possui todos os ingredientes de uma disciplina científica legítima, assim discorrendo sobre o paradigma espírita:
“A obra de Kardec constitui um genuíno paradigma científico, e esse paradigma representa, até hoje, a única diretriz segura ao longo da qual se podem desenvolver pesquisas científicas acerca dos fenômenos espíritas e do aspecto espiritual do ser humano em geral.
Como uma indicação geral e aproximada, podemos dizer que O livro dos espíritos estabeleceu a ontologia e os princípios teóricos básicos; O livro dos médiuns e a segunda parte de O céu e o inferno efetuaram a conexão com a base experimental; O evangelho segundo o espiritismo e a primeira parte de O céu e o inferno exploraram as repercussões filosóficas do paradigma no campo da ética; A gênese e ensaios diversos nas Obras póstumas e Revista Espírita aprofundaram vários pontos da teoria, sendo que a Revista constitui também valioso repositório de relatos experimentais. Kardec nos forneceu em profusão exemplos concretos de problemas resolvidos pela teoria espírita, verdadeiros modelos a serem seguidos na abordagem de outros problemas. O paradigma espírita, publicado no Reformador em 1994