O perdão e a lei divina
Se eu pedir perdão e o outro não me perdoar, o problema continua sendo meu? – Cláudio Helmont, São Paulo
Por Izabel Vitusso
Quando existe um deslize de nossa parte contra algo ou alguém, quando ferimos a lei do ‘não fazer ao outro o que não queremos que nos seja feito’, ser perdoado é apenas uma parte do processo para voltarmos a estar quite com a lei do equilíbrio que permeia a todos nós. O arrependimento e o pedido de perdão não bastam.
Podemos ser perdoados por uma má ação cometida, mas a necessidade da reparação do nosso erro permanecerá para que aprendamos a não o repetir e possamos trilhar, experientes, o caminho do acerto. Continuaremos assim a responder pelos nossos atos praticados, faltando reparar de alguma forma o mal que ainda nos acusa a consciência, onde está ‘escrita’ a lei de Deus.
O reparo não seria um castigo, uma punição, mas um processo de aprendizado para o espírito, tendo em vista o princípio fundamental de que todas as ações têm consequências, que retornam para nós como parte do processo evolutivo. Essa lei é vista como uma manifestação da justiça divina e da liberdade, permitindo que cada um escolha e colha as consequências de seus atos.
Essa reparação muitas vezes poderá ocorrer não necessariamente com relação àquele a quem ferimos e da mesma forma como tenhamos com ele agido.
No capítulo VII de O céu e o inferno, Allan Kardec lembra que a necessidade da reparação é um princípio de rigorosa justiça, que se pode considerar como a verdadeira lei de reabilitação moral dos espíritos. Mas que algumas pessoas a repelem, porque acham mais cômodo poder pagar suas más ações com um simples arrependimento. Mas questiona se elas ficariam satisfeitas com um indivíduo que, tendo-as arruinado por abuso de confiança, se limitasse a dizer apenas que lamenta. Kardec conclui que quando essa perspectiva da reparação for assimilada pelas massas, ela será um freio tão mais poderoso que aquele do inferno e das penas eternas.
Paulo, o apóstolo, explica que há duas maneiras bem diferentes de perdoar: o perdão dos lábios e o perdão do coração. Lembra que muitas pessoas dizem, com referência ao seu adversário, “eu lhe perdoo”, mas interiormente alegram-se com o mal que lhe advenha, acrescentando ainda “ele tem o que merece”. Diz também que há muitos que dizem “perdoo” e acrescentam: “mas, não me reconciliarei nunca; não quero tornar a vê-lo em toda a minha vida”.
“Será esse o perdão, segundo o Evangelho?”, provoca o apóstolo, explicando que o perdão verdadeiro é aquele que lança um véu sobre o passado. “Deus não se satisfaz com as aparências. Ele sonda o recesso do coração e os mais secretos pensamentos”, analisa, observando que o esquecimento completo e absoluto das ofensas é próprio das grandes almas e que o rancor é sempre sinal de baixeza e de inferioridade, reconhecendo que mais importantes que as palavras são os atos.”1
Capítulo 10, “Bem-aventurados os misericordiosos”.
* Perdão O lançar o véu sobre o passado. Um ato de compaixão. A cura que liberta do peso das mágoas e ressentimentos, que promove a paz interior.
* Reparação Caminhada para a reabilitação moral do espírito. Restabelecimento do bem no lugar do mal que nos acusa a consciência.