Suicidólogo analisa novo livro de André Trigueiro

Por  Carlos Felipe D'Oliveira

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Um dos principais suicidólogos do país, o psiquiatra do Ministério da Saúde e Coordenador da Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio (2005-2009), atual coordenador da Rede Brasileira de Prevenção do Suicídio (Rebraps), Carlos Felipe D'Oliveira comenta sobre o livro do jornalista André Trigueiro, Viver é melhor opção, a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo.

Leia a crítica do especialista.

Em Viver é a melhor opção: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo, o jornalista André Trigueiro traz para o debate da sociedade de uma forma compreensível para todos, profissionais e leigos, um tema que tem se mantido como um verdadeiro tabu, ressaltando aspectos fundamentais.


Como um profissional da mídia não poderia deixar de dar ênfase especial a importância da informação e seu papel no campo da prevenção do suicídio sem colocar de lado a atenção a questão dos cuidados disponíveis na sociedade, seja através de instituições públicas ou privadas, ou aquelas que se organizam para dar atenção ao tema como o Centro de Valorização da Vida – CVV, instituição que há mais de cinquenta anos desenvolve um trabalho sistemático de ajuda aos indivíduos.


Utilizando uma lista de referencias conceituadas na literatura da suicidologia fortalece seu texto mantendo suas posições próprias e sua experiência em anos de jornalismo e trabalho dentro da sociedade.


Quando dá um highlight sobre o suicídio como um tema da saúde pública presta um grande serviço a toda a sociedade porque este ainda não foi totalmente incorporado, particularmente pelas instituições públicas, aquelas que deveriam estar mais presente nesta agenda. Mas ele clama no seu texto pela inclusão nesta agenda.


No campo da saúde pública traz um conjunto vibrante de dados e informações sobre os diversos registros envolvendo distintas violências, no Brasil e no mundo, utilizando os índices do Ministério da Saúde, da Organização Mundial da Saúde e o Mapa da Violência, para fazer análises e comparações entre as diversas regiões e populações especificas. Todas estas informações contribuem para dar uma maior visibilidade ao problema, sendo portanto de grande utilidade que estejam condensadas neste livro.


Ainda neste campo observa o trabalho que foi desenvolvido no Brasil a partir de 2006, quando o Ministério da Saúde lançou a Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio, trabalho este pioneiro no âmbito público e que permitiu a formalização de uma política que hoje é referencia aqui e reconhecida pela OMS, entre os 28 países que possuem uma proposta formal de intervenção. Aí ressalta a importância do relatório da OMS em 2013 sobre o tema e o compromisso destes países em reduzir em 10% a taxa de suicídio. Certamente uma grande contribuição do livro em divulgar este compromisso que esperamos que toda a sociedade se movimente para cumprir.


Em vários momentos é tratado o tema das patologias de ordem mental associadas ao suicídio como a depressão e seu papel importante em sua abordagem como um fator de alto risco já que se trata de uma doença diagnosticável e com tratamento conhecido.


O autor trata do tema com muita propriedade quando observa seu aspecto complexo e que não permite avaliações ou análises simplistas, que não são úteis nem para os indivíduos, nem para as famílias sobreviventes, nem para a sociedade.


Nesta direção caminha observando os aspectos da vida e da constituição da civilização, com seus aspectos filosóficos, religiosos e culturais para fortalecer esta visão de complexidade do tema, com os cuidados que merece.


No capítulo sobre os tabus e mitos que envolvem a questão do suicídio, traz exemplos claros como estes afetam a vida dos indivíduos pela força que exercem na sociedade.


Como jornalista envolvido no debate do impacto da mídia sobre o suicídio sente-se muito a vontade para expor todo seu conhecimento sobre o assunto trazendo referências importantes que consolidaram os diversos temores da mídia no tratamento do assunto, mas também oferece dicas, bem elaboradas e já consolidadas por diversas instituições, dentro e fora do Brasil, do possível papel positivo da mídia e das trilhas que podem seguir para não fugir do tema, sem abordá-lo de uma forma nociva.


Nos capítulos finais, André trata o tema do suicídio e da doutrina espírita fornecendo informações importantes como esta doutrina vê a questão do suicídio, sem nenhum proselitismo.
Sabe-se que todas as religiões fazem críticas ao suicídio, considerando a vida como um dom divino o qual o individuo não tem o direito sobre o seu fim. Esta visão religiosa que tem origem na filosofia desde os clássicos gregos é considerado como um fator de proteção.


Uma diferença marcante na doutrina espírita e por causa de sua visão do suicídio, como mostra amplamente nos capítulos finais, é que conduz a um trabalho intenso no sentido de oferecer ajuda para que o indivíduo não atente contra a vida.


Podemos finalizar com uma citação interessante contida no livro de Leon Tolstoi, Sofrimentos, que representa a meu ver uma alternância da possibilidade diante dos sofrimentos da vida: "diante de uma perda amorosa não vale a pena se matar por amor; nem se desesperar; arranje outro amor". Em outras palavras, dê outro sentido ou outra direção à sua vida, disponibilizando todo o amor que você tem.

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