Quando fala o amor maior

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O médium Michell Paciletti acaba de lançar pela editora Correio Fraterno o livro Amor maior, obra psicográfica que retrata uma emocionante história, onde não faltam suspense e bom entretenimento no entrelaçamento de vidas, cuja origem se prende a um passado comprometedor. Michell também realiza significativo trabalho assistencial no Lar Espírita Irmão Max, no bairro da Lapa, em São Paulo, ligado à Pousada do Sol, em Embu Guaçu, onde mantém cerca de 40 idosos. Vale conferir sua entrevista:

Sendo italiano e tendo sido educado no catolicismo, como foi lidar com a mediunidade desde a infância?

Cheguei a São Paulo com quatro anos. Numa tarde, olhando para o céu, vi uma intensa luz, que me causou espanto e temor. Pouco mais tarde, os efeitos mediúnicos se intensificaram, inicialmente através do desdobramento, o que muito me afligia quando se aproximava a noite. Pedia a minha mãe que me ensinasse a orar o Pai Nosso, na tentativa de evitar aquele sofrimento. Com o tempo, outras manifestações foram surgindo, como a premonição de situações familiares. A imediata reação de meus pais foi de tudo atribuir à imaginação infantil. Depois, procuraram ajuda psicológica de um especialista, julgando-me portador de algum distúrbio mental.

 Como soube que se tratava de mediunidade?

Aos oito anos, matriculado no Internato do Colégio Liceu Coração de Jesus, meus pais acreditavam que a educação, respaldada pela liturgia católica, canalizaria os fenômenos da minha infância e eu me transformaria numa 'criança normal'. Enganaram-se, pois os episódios de desdobramento se acentuaram. Em certa ocasião, ao cantar um hino, Viva a Jesus, olhando para a cúpula da igreja, novamente tive aquela mesma visão inicial. Não resisti e desmaiei, causando preocupação a todos. Acabei saindo do Colégio, sendo reencaminhado a psicólogos. Mais tarde, em segredo, depois de buscar respostas em alguns centros espíritas e não me satisfazer com elas, resolvi ir a Uberaba para falar com Chico Xavier. Temendo não ser recebido por ele, escrevi num pequeno pedaço de papel a questão que me afligia desde a infância, deixando um pequeno espaço para que ele escrevesse. Queria saber quem era meu mentor espiritual. Chico recebeu o pequeno pedaço de papel, amassado por ficar longo tempo entre meus dedos, e escreveu 'Bezerra de Menezes'.

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 E sobre sua sensibilidade mediúnica no campo da música, o que tem a contar?

Também desde criança sempre senti necessidade de tocar algum instrumento. Enchia garrafas com água e tocava melodias através delas; posteriormente, em um pente envolto em papel celofane, também tentava reproduzir as melodias que surgiam em meu cérebro, sem que eu compreendesse de onde vinham. Meu pai, vendo a minha inclinação para a música, comprou um piano e me matriculou em um conservatório. Para decepção de toda a família, porém, frequentei apenas uma aula de solfejo e desisti do curso, sendo severamente repreendido pelos meus pais. Debruçava-me no piano para chorar e em minutos eu já estava com as mãos sobre o teclado, dedilhando acordes. Essas manifestações também me trouxeram dúvidas e foi também Chico Xavier que me afirmou serem elas 'autenticamente mediúnicas'. Comecei então a gravá-las, pois como não sou músico desconheço partituras. Hoje são mais de cem músicas, a maioria ao piano; algumas delas com letra também, permitindo-nos participar de festivais internacionais de música mediúnica.

 Com relação à mediunidade, o que mais lhe marcou nesses encontros com Chico Xavier?

Após ter-me confirmado a mediunidade, retornei à Uberaba, para obter mais esclarecimentos sobre os fenômenos que se somavam a cada dia. Uma verdadeira multidão, previamente cadastrada, permanecia na fila para ser atendida pelo médium e eu, muito triste, por não conseguir uma ficha de cadastro, tentei em vão entrar no pequeno salão. Chico, porém, ao chegar, passando por mim e sem me olhar, disse: "Vamos à luta Michell." Duvidando que fosse comigo, sentei-me na soleira da porta, quando, para minha surpresa, a porta se abriu atrás de mim e o secretário do Chico disse-me: "Michell, vamos trabalhar. O Chico mandou lhe chamar para sentar à mesa!".

 E sobre o romance Amor maior, quando começaram as psicografias?

A psicografia, para mim, sempre esteve mais voltada a poesias. Este romance ficou na gaveta por quase dez anos. A princípio surgiu em minha mente uma pequena história que eu intentava relatar na reunião do Lar Espírita, o qual dirijo há mais de quarenta anos. Certo dia, em meu local de trabalho, num período de descanso, resolvi escrever aquela pequena narrativa e o que parecia ser um pequeno conto foi se transformando em um complexo enredo, com inúmeras tramas simultâneas. Extasiado com a história, comecei a escrevê-la um pouco por dia, sempre atendendo ao que me era ditado pelo autor espiritual que se nomeou L'Lino. Houve momentos em que me vi inserido na história, compartilhando muito de perto os sentimentos, dores e alegrias dos personagens .

 O romance evidencia os conflitos nas relações familiares. Qual o papel da reencarnação nesse enredo?

Observando as leis que regem todos os universos da vida, de ação e reação, de causas e efeitos, fica claro observar que todos os vínculos e relações do presente têm estreitas relações com a história pregressa de cada um. Geralmente as reencarnações se processam na árvore genealógica, sendo este o primeiro educandário, que possibilita a reparação dos desafetos familiares e das controvérsias do passado, somados posteriormente àqueles a quem tenhamos prejudicado no pretérito, quando partilhavam a mesma senda evolutiva de nossa vida. O enredo de Amor maior aborda exatamente essa questão.

 

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