Alcoolismo, um tema que compromete silenciosamente a sociedade
Poucos autores conseguem a façanha de conciliar um trabalho literário cativante com a abordagem de assuntos comportamentais inadiáveis e que frequentemente encontram resistências na sociedade, como a violência, a depressão, o consumo de drogas e suicídio.
A escritora e novelista Lygia Barbiére Amaral transita com maestria nesse ambiente e descreve como poucos a trama o envolvimento de um grupo de amigos que se envolvem com o alcoolismo. Em A ferro e flores, o leitor toma conhecimento das origens do problema e dos recursos que pacientes e familiares podem utilizar para vencer o desafio da doença que está entre os dez principais problemas de saúde pública do mundo e é a quarta doença mais incapacitante, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.
Convidado a prefaciar a obra, o neurologista e psiquiatra carioca Márcio Amaral alerta para a importância do engajamento do movimento espírita no trabalho de resgate de pessoas com esse problema, lembra que o álcool é a substância tóxica mais utilizada e porta de entrada para outras drogas e que o combate a esse mal esbarra sempre na insistente negação da doença por parte de seu portador.
"É importante que o enfoque, através da literatura, possa atingir as pessoas e fazê-las refletir sobre as consequências do uso que vem sendo feito de tal substância, pois a desestruturação não se dá apenas no lar dos envolvidos com alcoolismo, mas também atinge a sociedade como um todo, com o aumento das agressões físicas, dos acidentes automobilísticos e do alto custo que todos pagam pela vulnerabilidade a que estão sujeitos. A psicanálise apresenta uma abordagem para tentar explicar o que leva o ser humano a tal quadro de degradação. Com o surgimento da codificação de Kardec vem então uma luz, um entendimento diferenciado, que explica as origens do comportamento delinquente. Ao ler o livro, consigo vislumbrar e ter respostas mais claras a dúvidas que a ciência cartesiana não me permite responder."
O problema do alcoolismo na obra se revela em sua amplitude e complexidade. As relações entre dependentes, familiares e amigos são mapeadas nos dois planos da vida e impulsionam a busca por soluções. Elas descortinam uma nova visão para o significado do que é a vida e ensinam que para o socorro é preciso sempre determinação e muito amor!
(Publicado no jornal Correio Fraterno - Edição 457 maio/junho 2014)