A genialidade de Rochester na tradução de Herminio Miranda
Por Redação
Estudioso do espiritismo e respeitado pelos mais de 40 livros publicados, o escritor Herminio Miranda (1920-2013) conta que titubeou quando, na condição de grande admirador de Rochester, recebeu um exemplar, em francês, do romance A feira dos casamentos para avaliação.
Uma semana depois, a decisão sobre o convite para que traduzisse a obra estava tomada: ele não apenas leu, mas dezenas de páginas já haviam sido traduzidas, conta o Herminio, acrescentando que ninguém resistia ao Rochester.
“Ele é um mestre consumado na arte de contar histórias. Sabe armar situações, criar e movimentar personagens, reproduzir com incrível perícia diálogos de impressionante realismo e naturalidade. Sabe arrastar o leitor até o último suspiro da última personagem”, descreve.
Foi assim que o livro, psicografado pela médium russa Vera Kryzhanovskaia, chegou ao público brasileiro, no ano 1987, através da editora Correio Fraterno.
A história se passa na Rússia Imperial, no século 19, quarenta anos antes da Revolução que implantou o regime comunista, num ambiente social que retratava a alta roda de príncipes, condes e barões, movimentando-se numa sociedade corrupta e corruptora, sofisticada e imoral.
Tudo isso Herminio vai contando logo na introdução do romance, e nessa conversa com o leitor, diz da amargura que causa a miséria moral, o egoísmo, a vaidade e o cinismo dos personagens, mas que o leitor logo perceberá a razão de ser do quadro desolador que se arma para contar uma história maior, de fortaleza moral, de lealdade, de bom senso, de incorruptibilidade e de pureza, no meio de toda a decadência.
“Rochester consegue narrar a sua história utilizando-se quase que exclusivamente do diálogo. Ele não precisa explicar suas personagens, nem o que dizem e fazem. Cada cena tem seu lugar e finalidade; nenhuma frase ou palavra é desperdiçada ou fica perdida no texto”, reconhece o escritor, não menos afeito à arte da escrita. Com relação
à criatividade do autor espiritual na escolha dos nomes dos personagens, ele cita “Pfauenberg, a pavonear-se pela sociedade, ambicioso e fantasiado de (falso) médium, para melhor abrir certas portas. Um dos vilões, nos quais Rochester é um especialista, também traz nome apropriado à sua condição moral: Arsênio, um sujeito venenoso e envenenado. Tâmara, a heroína do livro, é um ser de excepcionais virtude, que parece realmente sozinha num deserto de decência, como uma tamareira a produzir frutos raros, de sabor indefinível e um pouco ácido ao paladar daquela gente.”
Não tem como ler A feira dos casamentos e não se apaixonar, pela magnitude da arte tecida pelo autor espiritual para dar forma a mais uma trama, espelho de nossa própria condição humana, rumo à evolução.