Um projeto de sucesso para refletir sobre o centro espírita

Por Eliana Haddad

Já vai para quatro anos que um grupo de dirigentes espíritas vem se reunindo virtualmente aos sábados, às 7 horas, para trocar experiências sobre a vivência e os trabalhos realizados nas casas espíritas. Inicialmente concentrado em São Bernardo do Campo, SP, o Projeto Centro Espírita se consolidou e hoje agrega participantes de diversas cidades de São Paulo e de outros estados, com a presença da USE Regional do Grande ABC.

“A gente não se considera um grupo de estudos, mas um grupo de trabalhadores espíritas que ensinam e aprendem. A abordagem do nosso trabalho é de compartilhamento”, elucida Walteno Silva, idealizador do projeto. “Trata-se de uma pausa para os dirigentes discutirem como as atividades na casa estão sendo desenvolvidas, uma oportunidade para se entender o trabalho espírita, pois muitos de nós, ao recebermos o encargo de uma nova função, nos deparamos com a insegurança com a justificativa de não estarmos preparados para a tarefa. A doutrina fala sobre evolução e progresso, e diz que é na interação, na lei de sociedade, que iremos crescer. O projeto é para essa troca, onde ninguém se coloca na posição de dono da verdade”, explica Walteno.  

O projeto tem parceria com o Correio Fraterno, fundado há 57 anos pelos trabalhadores do Lar da Criança Emmanuel, em São Bernardo do Campo. “Há uma sinergia muito grande, porque estamos trabalhando no mesmo ideal”, observa a editora Izabel Vitusso, assinalando que o maior desafio de todos os espíritas está em fazer com que a doutrina espírita chegue de uma forma mais eficiente, consoladora e alinhada com Kardec, trazendo o espiritismo à atualidade e às necessidades do movimento, numa divulgação sempre contextualizada e aliada à profundidade que o espiritismo exige”, explica a jornalista.

Programação 2024

Para este ano, serão seguidos quatro eixos temáticos: A inclusão do jovem no centro espírita, Autores clássicos do espiritismo, Lições do livro Paulo e Estevão e O centro espírita, seu papel e suas atividades.

“A inclusão do jovem no centro espírita é um dos temas mais emergentes. Pesquisas apontam que a média de idade dos evangelizadores passou de 45, para 50 anos, uma média elevada, fora os dirigentes com mais de 60 e sem ter processo sucessório. Quem vai continuar o trabalho?”, provoca Walteno.

Já sobre a obra Paulo e Estevão, a ideia é compartilhar depoimentos com relação à experiência de leitura e estudo do livro, tendo-o como guia para a sustentação e fortalecimento do trabalhador espírita. O grupo lembra que em O mistério do bem e do mal (ed. Correio Fraterno), por exemplo, Herculano Pires salienta que “trata-se de uma obra que justificaria sozinha a existência e o apostolado de Chico Xavier, mas não é livro para ser lido apenas como romance. Na bibliografia mundial talvez não exista livro mais importante do que esse.” Também Yvonne Pereira em Recordações da mediunidade escreve: “Aprendi com Paulo de Tarso novos roteiros, decisões novas para minha experiência terrena”.

Com relação ao eixo O centro espírita – seu papel e suas atividades, temas polêmicos e necessários da atualidade estão sendo trabalhados, como o meio ambiente, sexualidade, comunicação e avanço tecnológico. No último 23 de março, o projeto contou com a participação do jornalista a ambientalista André Trigueiro (veja box), justamente para desenvolver o tema “O centro espírita e a preservação do planeta”.

Em Autores clássicos, as reflexões serão em torno da contribuição das obras de Ernesto Bozzano, Léon Denis, Gabriel Delanne e Camille Flammarion. “Muitas vezes, a maneira como eles escrevem nos ajuda a entender melhor Kardec, que será sempre a base. É uma questão de amplitude de horizontes para melhor divulgar o espiritismo, buscando-se a caridade do conhecimento que esclarece”, explica Walteno, recordando a resposta de Raul Teixeira sobre a proliferação das obras psicográficas de baixa qualidade. “Nós todos temos sido responsáveis por essa chuva de lodo sobre a nossa literatura espírita. A literatura clássica do espiritismo ninguém conhece mais e a obra de Kardec, só de abrir ao acaso na hora do Evangelho”, destaca Raul.¹

¹ www.youtube.com/watch?v=XslGUes5-uc&ab_ channel=LuizCurcino

A questão ética de preservação do planeta

Como convidado para falar sobre o tema O centro espírita e a preservação do planeta, o jornalista André Trigueiro deixou claro que a questão se refere à autopreservação da espécie. “Estamos realizando escolhas hoje que depredam as bases de sustentação da vida planetária”.

Entre as reflexões, Trigueiro sugeriu maior cuidado com os exemplos dados às crianças para a preservação do planeta, como o de servir água fluidificada em copos de plástico. Destacou a necessidade do ajuste da grade de palestras na casa espírita, de modo a promover conteúdos que permitam a correlação espiritismo e meio ambiente. “Quando se fala de lei de destruição e conservação, abrem-se janelas interessantíssimas de aprofundamento do nosso senso ético como consumidores, cidadãos, eleitores, membros de um grupo social”, exemplificou, lembrando que a espiritualidade, por exemplo, se refere ao mundo de regeneração em termos éticos e morais, mas não revela com detalhes qual será o estado físico, químico e biológico, ecológico, desse planeta a partir desse advento.

Perguntado se a crise ambiental não seria uma expiação, Trigueiro argumentou que a evolução do conhecimento, da ética e da moral determina outros padrões de conduta e isso alcança a nossa relação com o meio ambiente. “Na curva de aprendizagem da humanidade os dissabores da crise ambiental causados por nós, podem ser entendidos como lei de causa e efeito. Até aí seria a dinâmica da natureza no capítulo da evolução. O que eu não consigo entender e legitimar é quando todas as evidências apontam na direção da necessidade da mudança e a gente não muda. Aí, não é expiação, é escolha, é afrontar a vida, arruinando conscientemente as condições que a sustentam em equilíbrio”.