Kardec no cinema: Os bastidores, as críticas e as repercussões

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Por Eliana Haddad

O mês de maio foi marcado pela estreia, no dia 16, do filme Kardec, a história por trás do nome nos cinemas do país. Sob o comando da Sony Pictures e da Conspiração Filmes, a produção de R$ 9 milhões levou nas primeiras duas semanas de lançamento mais de meio milhão de pessoas para assistir à história do educador francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), reconhecido depois como Allan Kardec.Protagonizado pelo ator Leonardo Medeiros (Allan Kardec) ao lado de Sandra Corveloni (Amélie Boudet), o roteiro de Wagner de Assis e L.G. Bayão optou por um recorte na trajetória de Kardec, do período em que atuava como educador, passando pela investigação dos fenômenos, pelo processo de codificação da doutrina espírita, até a publicação e repercussão de O livro dos espíritos.A divulgação contou com a exibição prévia em cabines para grupos, espíritas e não-espíritas, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro. O filme mereceu destaque em diversos órgãos de imprensa, cujos articulistas demonstraram o que há de melhor na apreciação de qualquer arte, dentre as quais o cinema: a liberdade da crítica.. (veja quadro).Até o fechamento desta edição (30/5), o filme estava sendo exibido em 433 salas e já havia arrecadado cerca de 7 milhões de reais, liderava o ranking das estreias nacionais e se posicionava em quarto lugar no quadro geral de lançamentos.Kardec chamou a atenção, surpreendeu, emocionou, gerou curiosidade, incentivou leituras, despertou estudos e pesquisas sobre o universo espírita. O assunto pautou a mídia digital e comentários não faltaram nos órgãos de imprensa de todo o país e até do exterior. Segundo Wagner de Assis, um dos maiores desafios para se retratar Kardec nas telas foi mostrar um homem comum de seu tempo, com suas dúvidas e inseguranças, coragem e decepções. "A humanidade de Kardec é uma vacina contra o fanatismo", observa. Uma das cenas interessantes do filme e que causou surpresa foi a passagem de Kardec por uma detenção na delegacia. Segundo Assis, há fontes seguras que confirmam a existência de documentos que comprovam essa e outras passagens, envolvendo fatos até então desconhecidos.Para a produtora Eliana Soarez, da Sony, todo o processo foi uma grande surpresa. "Tivemos muitos desafios, o filme é de época, em uma Paris que já não existe mais, o elenco e equipe foram uma escolha muito acertada, está tudo na tela. A atuação dos atores impecável, os figurinos de época, a arte e fotografia lindas, efeitos especiais irretocáveis. É um filme para se ver com calma, apreciar, se envolver, se divertir e se emocionar", observa.Depois de adaptar a trajetória de Kardec para o cinema, Wagner de Assis e Marcel Souto Maior lançam o livro Kardec: a história por trás do filme (Record), relatando os desafios e emoções do processo de produção da cinebiografia. "Todo o processo foi muito emocionante e precisa ser registrado", revela Marcel . "Nunca vou me esquecer do dia em que vi "Kardec" pela primeira vez, já na pele do ator Leonardo Medeiros. Foi no dia das filmagens do lançamento de O livro dos espíritos. Eu estava de pé, em um salão típico da França do século 19, quando ele se aproximou de mim, me encarou sério e estendeu a mão. - "Como vai?", perguntou e eu mal consegui responder. Dias depois, já mais relaxado, brinquei: "Eu deveria ter aproveitado o encontrado para perguntar o que ele achou da biografia e se queria que eu fizesse alguma mudança. A sensação que tive foi a de que Kardec estava mesmo vivo, 150 anos depois de sua morte', conta Marcel.Wagner de Assis compartilha na primeira parte do livro crônicas escritas no dia a dia das filmagens, e Marcel Souto aborda na segunda parte o processo de desvendar Kardec. Ao final, uma conversa entre os dois sobre espiritualidade, cinema e projetos futuros. A obra conta ainda com um catálogo de imagens dos bastidores do longa.Sabe-se que muitos documentos sobre Kardec ainda virão ao conhecimento público, depois de várias pesquisas que já estão sendo realizadas sobre acervos inéditos.. O jeito é aguardar. A história de Kardec e do espiritismo continua.

 
 

O que disse a imprensa


Destaque na atuação
É notável ver a atuação consistente de Leonardo Medeiros no papel de Rivail/Kardec e como sua postura séria combina com a trajetória de evolução de seu personagem (...). Kardec é uma biografia que exprime bem o tom da época em que a história aconteceu e entrega de fato todas as informações para entendermos quem foi o homem que criou a doutrina espírita. Barbara Demerov – Adoro Cinema


Tom solene
A Paris do século 19 é reconstituída de modo cuidadoso e requintado na recriação da trajetória do professor, escritor e tradutor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), conhecido como Allan Kardec. Mas a dimensão humana buscada sai arranhada pelo tom solene de muitas situações. Sérgio Rizzo – O Globo


Manifesto atual
Comparativamente, Kardec é uma obra-prima – pelo menos de produção. Visual apurado, certa fluidez do relato. Certa porque Assis não evita um tanto de solenidade. Kardec tem diálogos que beiram o pronunciamento. (...) O importante é que o espectador não precisa ser espírita para assistir ao filme. O filme pode ser visto como um manifesto em defesa da liberdade – de expressão e investigação. Um manifesto em defesa da caridade. Numa França devastada pela miséria, Rivail/Kardec ousou defender a solidariedade com o próximo desvalido, outro ponto de contato com o Brasil atual. Luiz Carlos Merten – O Estado de S. Paulo


Estado laico
Das recentes produções sobre espiritismo no cinema nacional, Kardec talvez seja a mais palatável a leigos e religiosos. A história é uma bela amostra de que é possível falar de Estado laico ao mesmo tempo em que se mostra, de maneira poética, uma religião. Clara Campoli – Metrópoles


Sob o olhar de Amélie
"Ter coragem para mudar o mundo ou aceitar as coisas como elas são". Foi assim que o professor Hippolyte Léon Denizard Rivail pediu dispensa da escola em que trabalhava na França dos anos 1800 por não aceitar as imposições da Igreja Católica no sistema educacional da época. Um dos destaques da obra é para a representação da esposa de Kardec, Amélie Gabrielle Boudet, interpretada pela atriz Sandra Corveloni. O perfil dela ganha espaço no longa com detalhes sobre a influência dela no olhar do protagonista. Marília Sena – Jornal de Brasília


Filmaço para todos
Kardec é um filmaço e deve ser assistido por todos, independente da religião. Obviamente, Kardec é impulsionando como 'filme religioso', um filão cada vez mais pulsante ao redor do mundo. E aqui temos como figura central a imagem de um homem responsável pela fé e espiritualidade de milhões de pessoas pelo planeta. Allan Kardec, independentemente de qualquer outro fator, é uma personalidade icônica, e retratá-lo da forma correta era imprescindível. Jonas Laskouski – Se liga!


Discurso altruísta e amoroso
O filme tem todos os atributos de um longa fictício imponente: fotografia, direção de arte, figurinos e locações, todos cuidadíssimos, além do uso de efeitos visuais eficientes. O roteiro multifuncional de L.G. Bayão é a liga certa, ao construir a jornada do questionador que se vê dono das respostas; o homem comum que encara a fúria do povo de peito aberto, rebatendo fake news do século retrasado. Kardec tem o coração e a alma no lugar certo, e garante com honestidade um discurso altruísta e amoroso, muito necessário – cada vez mais – atualmente. Pablo Mazarello – Cinepop


Didatismo
O espiritismo ganhou a forma que conhecemos hoje porque o professor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail decidiu investigar o fenômeno das 'mesas girantes', que tomava conta de Paris no século 19. (...) A tática que Kardec criou para provar que estava falando com os espíritos é apresentada no filme como uma prova científica irrefutável. O filme também não deixa de fora a importância que a sua mulher, Amélie-Gabrielle Boudet, teve para a sua vida. (...) O roteiro é demasiado didático, há vários momentos piegas (como quando um mendigo se suicida), além de uma trilha sonora dramática. Há pontos positivos, como as locações feitas em Paris e a reconstituição de época, com figurinos e cenários convincentes. Felipe Branco Cruz – UOL

Informações: Para ver as salas disponíveis, acesso em https://movieid.ingresso.com/kardecfilme e https://bit.ly/2McYJqD. Para solicitar exibição em cidades ainda fora do circuito ou obter condições especiais para grupos: e-mail grupos@kardecfilme.com.br ou whatsApp (11)98912-9798 (Magali Bischoff /Zook Comunicação)

(Artigo original publicado no Jornal Correio Fraterno)

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