Encontro nacional reúne pesquisadores em Juiz de Fora

Luciana Farias, Alexandre Fonseca, David Monducci e Humberto Schubert

Por Eliana Haddad

Realizou-se nos dias 16 e 17 de setembro, em Juiz de Fora, MG, o 18º Enlihpe - Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, que teve como tema central “Perispírito: concepções e pesquisas”.

Humberto Schubert fazendo a abertura do evento

O evento apresentou nove trabalhos inéditos e teve como sede a Aliança Municipal Espírita de Juiz de Fora, de onde pôde ser acompanhado presencial e virtualmente, reunindo 80 participantes de 17 cidades dos estados da Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal.

A abertura foi realizada pelo coordenador do evento, Humberto Schubert Coelho, pela presidente da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, Rosana Gaspar, pela presidente do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo Eduardo Carvalho Monteiro (CCDPE-ECM), Julia Nezu, e pelo presidente da Aliança Municipal Espírita de Juiz de Fora, Geraldo Soares.

“Há às vezes uma percepção errônea no movimento espírita de que haveria entre pesquisadores um excesso de intelectualidade, de teoria. Na contramão dessa percepção, há a ideia de que seria necessário a permanente qualificação, a pesquisa, o estudo intenso e sistematizado de qualquer tema sério que mereça a atenção suficiente de pessoas que dedicam suas vidas a essas ideias, que tem princípios filosóficos e que isso não podia ser de outra forma. A Lihpe concretiza e estimula esse aprofundamento e quer se expandir para outras áreas onde ela atualmente não chega, convidando a todos a buscá-la, a dialogarem com seus membros”, enfatizou Schubert dando início ao Encontro.

Alexandre Fonseca

Na manhã de sábado, dia 16, o neurocirurgião David Monducci apresentou seu trabalho sobre o tema “O perispírito e os campos morfogenéticos”; o físico Alexandre Fonseca, sobre “Incoerências doutrinárias na obra Evolução em dois mundos: a questão do automatismo fisiológico”; Luciana Farias, Adair Ribeiro e Carlos Seth sobre “Perispírito e a natureza do corpo de Jesus”. Depois, numa segunda mesa-redonda, apresentaram-se o cientista da religião Brasil de Barros, que abordou o assunto “Características religiosas do espiritismo: conceitos controversos”; Luiz Jorge Lira e Luciana Farias sobre “O ciclo de vida organizacional da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas na gestão de Allan Kardec”. No formato de breve conferência, foi também apresentado por Vitor Moura o “Projeto piloto de replicação do Controle Universal de Ensino dos Espíritos”.

No sábado à tarde, os estudos ficaram por conta de Bruno Faez, que abordou o assunto “Investigação científica de sobrevivência pós-morte da consciência: delineamentos conceituais e filosóficos”; Jéssica Plácido, Marco Aurélio Junior, Paulo Bastos, Thaise Toutain e José Miranda, que falaram sobre “Caracterização funcional do transe mediúnico: eletroencefalografia e redes funcionais cerebrais”, e Daniel Salomão, que discorreu sobre “Trocas de vestes e transformações: descrições análogas ao perispírito na literatura não canônica do judaísmo antigo”. 

A ciência e a sobrevivência da alma

Lucas Argolo e Vitor Moura

O filósofo Humberto Schubert Coelho e o psiquiatra Alexander Moreira-Almeida também participaram de um pinga-fogo sobre o livro Ciência da vida após a morte, que teve recente tradução do lançamento original, em inglês, para o português e está sendo traduzido para o alemão e espanhol. Publicado pela Springer, editora científica internacional, o livro foi prefaciado pelo professor emérito de psiquiatria Robert Cloninger, MD, PHD da Escola de Medicina da Universidade Washington, nos Estados Unidos.

O desafio dos autores, juntamente com a psiquiatra Marianna de Abreu, foi o de condensar em cem páginas o que já existe de mais importante no mundo em pesquisa acadêmica sobre uma questão central da filosofia e, basicamente, de todas as religiões: a sobrevivência da consciência após a morte. 

Luis Jorge Lira

“Apesar de toda a discussão que existe no mundo sobre o tema, de um modo geral ainda se considera espiritualidade como uma crença, uma prática religiosa. Não se discute a realidade ontológica fundamental da existência do espírito, de algo além da matéria. Pesquisamos durante um ano as melhores evidências para trazer o debate para o ambiente acadêmico e para o leitor leigo, interessado no assunto”, explicou Moreira-Almeida, esclarecendo que o livro “desmonta” alguns argumentos considerados, a priori, contrários à existência de vida após a morte. “Para quem quiser se aprofundar, o livro traz 350 referências bibliográficas acadêmicas. Ele deixa o leitor minimamente informado com um gosto de quero mais”, revelou, ao lembrar que todo mundo tem uma opinião sobre esse tema, mas poucos conhecem o que já existe de evidências comprovadas sobre ele.

Brasil de Barros

Para Schubert, o destaque fica por conta de que há aproximadamente 150 anos não há um livro que evidencie cientificamente a possibilidade da sobrevivência da consciência humana. “Tínhamos esses livros quando essas pesquisas ainda estavam muito no começo. Quando surgiam, eram livros sobre mediunidade, memórias de vidas passadas ou experiências de quase morte (EQMs). Ele explicou que, se por um lado, o tema tenha sido ligado ao espiritismo, há também uma forte resistência social e cultural a esses fenômenos quando rotulados como “espíritas”, como se fossem pontos de fé, questões dogmáticas ou crenças espíritas, e não como fatos da natureza, fenômenos que fazem parte da vida espiritual de todos os povos.

José Garcia Miranda, Jéssica Plácido, Daniel Salomão e Bruno Faez

Perguntados sobre as implicações da aceitação desse fato pela ciência, Schubert esclareceu que o livro mostra que a ciência já forneceu provas da sobrevivência da alma e que são as pessoas agora que precisam se adaptar a isso. A resistência seria cultural. Já Alexander pontuou que a vida após a morte sempre foi um tema filosófico ou religioso . “A gente mostra que a ciência vem há 150 anos trabalhando com isso, sendo um tema passível de investigação científica. As evidências são muito convincentes e bastante convergentes, indicando que o homem é algo mais que um aspecto material ou apenas biopsiquicossocial. Ele tem um aspecto que transcende a tudo isso e a implicação fundamental é que isso começa a mudar a compreensão do que é o ser humano. Não basta a explicação da genética e do ambiente. Há um outro aspecto – a mente, o espírito. Isso muda muita coisa frente ao livre-arbítrio, à doença, ao luto, ao sentido da vida, à ciência da religião. Muda a percepção de tudo”. Para assistir aos vídeos do evento, acesse Enlihpe 2023, no Youtube. 

Durante o evento foram lançados os livros: Perispírito: concepções e pesquisas, com os textos selecionados do encontro para a série “Pesquisas brasileiras sobre o espiritismo”, e História geral do espiritismo, de autoria de Lucas Berlanza e Eric Pacheco.

https://www.amazon.com.br/Livros-Lucas-Berlanza/s?rh=n%3A6740748011%2Cp_27%3ALucas+Berlanza

https://ccdpe.org.br/produto/historia-geral-do-espiritismo-resumo-expositivo/

O que é a Lihpe

A Liga de Pesquisadores do Espiritismo (Lihpe) é uma comunidade virtual que reúne pesquisadores, espíritas ou não, sejam acadêmicos ou não, que se interessam em pesquisar o espiritismo ou o movimento espírita, com o objetivo de fornecer ajuda mútua para o desenvolvimento das pesquisas, através da troca de informações entre os integrantes.

Fundada sob a denominação de Liga dos Historiadores e Pesquisadores do Espiritismo, com o tempo reduziu-se o seu nome para Liga de Pesquisadores do Espiritismo e, por tradição, manteve-se o “H” na sigla.

A data simbólica da criação da Lihpe é 17 de março de 2002, quando o pesquisador Eduardo Carvalho Monteiro, reuniu um grupo interessado para criar uma rede virtual de historiadores e pesquisadores de vários estados brasileiros e membros na Áustria, Suécia, Inglaterra, Estados Unidos e Portugal. Em pouco tempo, mais de duzentos membros se filiaram à lista, iniciando-se os encontros anuais presenciais.

A LIHPE tem como parceiro natural o Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo Eduardo Carvalho Monteiro (CCDPE-ECM), com sede em São Paulo, que foi fundado em janeiro de 2006. Eduardo Monteiro desencarnou em dezembro de 2005.

Chamada de trabalhos para 2024

O 19º Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo será realizado em 24 e 25 de agosto de 2024, na cidade de São Paulo, e terá como tema central “160 anos de O evangelho segundo o espiritismo”. As inscrições já estão abertas e irão até 15 de março de 2024 para submissão de trabalhos com enfoque filosófico, científico, moral ou histórico, podendo contemplar diferentes áreas de pesquisa do espiritismo e do conhecimento. 19enlihpe@ccdpe.org.br.

Os temas já abordados nos Encontros

2008- A construção de estratégias para a memória e a pesquisa espírita

2009 - A temática espírita na pesquisa contemporânea

2010 - O espiritismo visto pela área de conhecimentos atuais

2011 - Espiritismo e ciência: objetos, fronteiras e métodos de investigação

2012 - Espiritismo na atualidade: das práticas cotidianas ao meio acadêmico

2013 - Espiritismo e ciência

2014 - Pesquisa espírita: passado, presente e futuro

2015 - Panorama atual das pesquisas científicas sobre a reencarnação

2016 - Mediunidade: pesquisa e história

2017 - Prece e curas espirituais

2018 - Sobrevivência da alma

2019 - Allan Kardec - 150 anos depois

2021 - 160 anos de O livro dos médiuns

2022 - Coerência doutrinária na pesquisa espírita

2023 - Perispírito, concepções e pesquisas