O papel da educação no desafio da atualidade

Por Eliana Haddad

Gladis Pedersen de Oliveira

Gladis Pedersen de Oliveira

O papel da educação do espírito na atualidade é desafiador. Despertar nas crianças e jovens os melhores valores, baseados nos ensinos do Evangelho e nas bases do espiritismo para que se tornem pessoas melhores, adultos mais felizes, nem sempre é tarefa fácil. Ex-presidente da Federação Espírita do Estado do Rio Grande do Sul, Gladis Pedersen de Oliveira é graduada em Pedagogia e pós-graduada em Ciências da Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com larga experiência como educadora, diretora e supervisora pedagógica. É autora e organizadora do projeto Coleção Conte Mais (Feergs). Vale a pena acompanhar suas reflexões na entrevista a seguir.

O espiritismo está cumprindo seu papel de educação social?
Allan Kardec previu que a última etapa da divulgação do espiritismo seria atingir a sociedade como um todo. Este processo está acontecendo gradativamente através da divulgação nos centros espíritas para as pessoas da comunidade onde ele está inserido e também pelo livro, pela imprensa e pelas redes sociais. Primeiro é preciso que haja o conhecimento das bases doutrinárias para ser assimilado; no segundo passo vem a aplicação do conhecimento em nossas vidas. A aprendizagem só se verifica quando a pessoa aplica em sua vida o que aprendeu. Os espíritas deveriam ser menos acomodados e investir mais na propaganda da doutrina espírita como o consolador prometido por Jesus, para acelerar a influência do espiritismo na educação social.


O que é, afinal, educar?
Educação deriva de educar que, na sua origem latina, era composta por duas palavras: ex e ducere. 'Ex' significa tirar de dentro e conduzir para fora, extrair; 'ducere' significa conduzir, o que pode ser entendido como extrair do educando todo o potencial divino que ele traz em germe dentro de si. Assim, educar, no verdadeiro sentido, é estimular o desabrochar de tudo de bom que a pessoa traz em si, desde a mais tenra infância. Esta grande tarefa compete, primeiramente, aos pais, à família; depois, à escola e à sociedade organizada.


Tantos conflitos familiares, violência e desentendimentos na Terra. A educação dos homens está sendo falha?
A educação, de um modo geral, privilegia mais o desenvolvimento do intelecto, da instrução racional em detrimento da educação emocional, moral e espiritual. A família é o grupo especial para começar a vivência da fraternidade e do respeito. Para tal, os pais têm que dar o exemplo, serem os primeiros educadores dos filhos, corrigirem os erros de forma firme, mas amena, serem a representação da autoridade moral. Seja o dizer dos pais: sim, sim; não, não. Evitar gritar, mas conversar, esclarecer, sem mudar o tom de voz, não impor, mas propor. O habito da prece em família, do Evangelho no lar, do diálogo, vai ajudar a amenizar os conflitos e desentendimentos.


O que podemos fazer para educar melhor nossos filhos?
Começar a educar o filho desde a gestação e intensificar a educação nos primeiros anos de vida. A fase infantil é a mais propícia para o aprendizado do bem. O que se aprende no lar fica gravado, indelevelmente, no psiquismo. A mente infantil absorve todas as informações que recebe, tanto o que é certo quanto o que é errado. A identidade moral é construída desde a infância e deve ser consolidada até por volta dos catorze anos. Os pais não devem perder este período e é preciso que eles tenham um plano claro de educação moral, emocional e espiritual para os filhos com o objetivo de formar uma pessoa de bem. A alma da criança precisa ser nutrida de amor e exemplos do bem, com base no Evangelho de Jesus. Orar com a criança, falar em Deus, mostrar a natureza. O espírito da criança precisa aprender o caminho de volta para Deus, ser cultivado como um solo fértil.


Há quem diga que no passado éramos mais educados e preparados para os desafios da vida. Você concorda?
Sim, concordo, pois no passado, os meios de comunicação de massa eram mais restritos. O lar era a base e todos tinham que colaborar de alguma forma para mantê-lo. A mãe ficava em casa com a família, mais numerosa. Havia mais diálogo e os papéis eram mais definidos. Hoje há mais individualismo, silêncio, falta de diálogo e de aconchego no lar. Precisamos contar histórias para nossas crianças, olhá-la nos olhos, perceber suas emoções, orar com elas, passear de mãos dadas junto à natureza apreciando os espetáculos que ela apresenta. Nesses momentos mágicos é que se é genuinamente feliz.


Hoje vemos pessoas mais preparadas intelectualmente, mas também com muito mais crises existenciais, depressões, suicídio, etc. Como educar para a felicidade?
As pessoas podem estar mais preparadas intelectualmente pois desenvolvem, preferentemente, a dimensão intelectual da inteligência. As dimensões moral, emocional e espiritual estão sendo desenvolvidas de forma precária. Atualmente, na infância, as crianças não estão sendo frustradas ou contrariadas, sendo atendidas em todas suas exigências. Irão enfrentar, no futuro, os desafios naturais da vida e as contrariedades. Tornar-se-ão pessoas infantilizadas que não cresceram emocional e espiritualmente. Educar para a felicidade significa criar o filho dentro da realidade, mostrando o verdadeiro sentido da vida, que somos espíritos imortais criados por Deus e estamos juntos enfrentando as dificuldades para evoluirmos.


A educação moral é obra de trabalho individual? Como estimular esse processo dentro de nós?
A identidade moral é construída desde a tenra infância, até por volta dos catorze anos. O processo reencarnatório começa antes da gestação e se consolida na adolescência. É neste período que se educa moralmente. Se isso não acontecer pela educação, vai ocorrer pela dor, pelo sofrimento, nas outras fases da vida. Neste ponto, a doutrina espírita tem um papel preponderante; o jovem, o adulto ou o idoso poderá ser despertado para o verdadeiro sentido da vida e modificar sua percepção sobre as leis divinas, no estudo da doutrina e na vivência de seus postulados.


O que esperar da educação no futuro para o progresso espiritual do planeta?
Nós somos muito otimistas sobre o futuro. O espiritismo, no Brasil, deu um grande passo com a Campanha Permanente de Evangelização Espírita Infanto-Juvenil da FEB, desde 1977. Em 2000, quando a UNESCO lançou os quatro pilares para a educação do Terceiro Milênio – aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e apreender a ser – percebemos que o trabalho de evangelização no Brasil tinha se antecipado nesta linha de ação. Surge agora o quinto pilar: aprender a crer. A Evangelização sempre trabalhou este pilar, ou seja, o desenvolvimento da espiritualidade e da fé. Assim, temos que investir mais nesta linha de ação para melhorar nosso futuro.


Como educar a família para que haja menos conflitos e mais felicidade nos lares?
O Evangelho no Lar é um recurso especial para evangelizar a família; aprendemos a tolerar, respeitar, aceitar o outro como ele é. Os pais têm que se autoeducar, corrigir seus defeitos, dar exemplos para os filhos, dialogar mais, oportunizar momentos simples de reunião na família, de forma descontraída, sem cobrança de nada, com camaradagem. Ouvir mais e falar menos.


Qual o limite entre a liberdade e a responsabilidade? Ser livre é ser educado?
Toda a liberdade tem limites; não há liberdade absoluta, só a de pensamento. Como somos seres sociais, dependemos uns dos outros. Por isso temos a responsabilidade de respeitar o outro, assim como queremos ser respeitados em nossos direitos. Saber usar o livre-arbítrio envolve o dever de não ultrapassar o limite entre a liberdade pessoal e o direito do próximo. Para isso é preciso se autoeducar.

 

Como os ensinamentos de Jesus podem ser divulgados mais adequadamente para a época atual?
Temos o dever de divulgar, cada vez mais, o Evangelho de Jesus no lar, no centro espírita, na vida social. O evangelho segundo o espiritismo deve ser o livro básico para isso. Dentro do possível, deve ser colocado à disposição das pessoas, presenteado, estudado na tribuna do centro espírita, nos congressos espíritas, esquecido nos bancos das praças, dos ônibus... Muitas vezes a pessoas, por sua maneira equilibrada de agir, demonstra a vivência do evangelho e serve de exemplo para muitos.


Como vê o futuro do espiritismo no Brasil e no mundo como obra de transformação moral para a Humanidade?
Vemos este futuro com muita esperança. O acervo de boas obras espíritas, começando com as básicas, é muito grande. Percebemos que o tempo que nos resta nesta encarnação não será suficiente para abarcarmos todo este conteúdo. Estamos despertando para a busca do conhecimento espírita sério, consciencioso, individual e em grupo. Temos em mãos um tesouro inestimável.


Poderia citar algumas recomendações para que o ano de 2019 seja mais proveitoso para todos nós?
Agradeçamos a Deus a oportunidade de estarmos encarnados no Brasil. Temos que aproveitar o novo ano para estudar mais e trabalhar no bem, procurar viver de acordo com o "amai-vos uns aos outros", como ensinou Jesus.


Suas considerações finais.
Evangelizemos a criança e o jovem. Se eles forem deixados à margem da mensagem de Jesus terão muitas dificuldades no futuro. Fiquemos alertas quanto às comunicações nas redes sociais pois, atualmente, muitos estão ficando tecnodependentes do uso dessas mídias, principalmente crianças e jovens. As pessoas estão cada vez mais individualistas, isoladas, com dificuldades de comunicarem-se normalmente, olho no olho, expressarem suas emoções e sentimentos, mesmo dentro do lar. Estranhos uns aos outros, dentro do mesmo teto.

(Artigo original publicado no Jornal Correio Fraterno)

 

ENTREVISTAEliana HaddadComentário