Os fenômenos de materialização de Peixotinho
Por Mariana Sartor
Indignado com a pobreza e o sofrimento impregnados no nordeste, Francisco Lins Peixoto, que frequentava seminário por vontade de seus tios, começou a questionar a existência de Deus. Ao contrário de Fabiano, o retirante nordestino, que "dava-se bem com a ignorância", no romance de Graciliano Ramos, Peixotinho não aceitava as respostas da Igreja às injustiças sociais e ao nascimento de pessoas deficientes.
O cearense, nascido em Pacatuba, órfão desde pequeno, morava com os tios maternos, em Fortaleza. Aos 14 anos, decidiu ir sozinho para o Amazonas, tentar a sorte nos seringais, extraindo borracha. A trajetória sofrida impunha dúvidas, mas muitas respostas foram então encontradas na Doutrina Espírita.
E foi, quando voltou, dois anos depois, para a terra natal que sua mediunidade se manifestou, passando a sofrer interferências de espíritos sofredores, que o envolviam em brigas, o que fez com que decidisse se isolar em casa. Com essa decisão, por forte envolvimento espiritual, passou mais de vinte horas em estado cataléptico, chegando quase a ser dado como morto.
Pouco tempo depois, viu-se preso, por uma paralisia. Auxiliado pelo vizinho, membro de uma sociedade espírita de Fortaleza, que lhe prestou socorro espiritual, foi se restabelecendo. Durante esse período, cerca de seis meses, pôde estudar as obras de Kardec, ler romances espíritas, dando início à sua jornada de dedicação ao Espiritismo.
Diversas capacidades mediúnicas foram despertadas, dentre elas a de efeitos físicos. Na casa espírita, passou a receber orientação de Vianna de Carvalho, o cearense nascido em 1874, conhecido pelo expressivo trabalho na divulgação do espiritismo no Brasil.
A autenticidade dos fenômenos de efeitos físicos realizados por Peixotinho chamavam a atenção. Moldagem de mãos, pés e rostos em parafina com as linhas idênticas às dos espíritos quando encarnados, frases escritas em letreiros luminosos com a assinatura do autor do plano espiritual, objetos materializados como pedras e cristais; fenômenos de pneumatografia – escrita produzida diretamente pelo espírito, sem intermédio material.
O trabalhador espírita e escritor Henrique Magalhães, que conviveu com o médium e participou de diversas reuniões de efeitos físicos descreve: "Durante as reuniões, nossos irmãos de Espaço solicitavam-nos pensar em uma frase evangélica ou referente a Jesus Cristo. Logo após a frase surgir em nosso pensamento, ei-la aparecendo em pequeno quadrado, como que feita de gás néon. E o quadrado, com a frase inscrita dentro de, começava a percorrer o espaço de um para o outro lado do recinto. Um prova dessa somente podia ser realizada estando o recinto às escuras. Dava gosto assistirmos a essas reuniões."
Convocado a servir o exército, Peixotinho chegou ao Rio de Janeiro, em 1926, onde fundou o Centro Espírita Pedro. Casou-se, em 1933, com Benedita Vieira Fernandes, com quem teve 9 filhos. Mudou-se muitas vezes, ainda a serviço da força militar. Ao retornar ao Rio, em 1945, reencontrando os amigos, do antigo Centro Espírita que freqüentara, fundou, com a equipe, o Grupo Espírita André Luiz, cenário de diversas materializações.
"Certo dia, estando Peixotinho no quartel em serviço, foi acometido de fortíssima crise de asma. Um colega de trabalho se aproximou e indicou o endereço Moncorvo Filho, dizendo que curas milagrosas estariam ali se registrando. Por que não recorrer à ajuda dos espíritos? Mal refeito da crise, Peixotinho confessou: "É, eu conheço". Por modéstia, ou acanhamento, deixou de declinar o nome do médium..." Era o endereço provisório do recém-fundado Centro Espírita André Luiz, onde ele mesmo era quem possibilitava a ação dos espíritos e as curas, lembra Henrique Magalhães.
A autenticidade dos fenômenos que ocorriam através do médium puderam ser testemunhadas por Chico Xavier, que autenticou os registros fotográficos das materializações. Foi naquele ano, 1948, que ocorreu o primeiro encontro entre essas duas grandes personagens do Espiritismo, na cidade mineira de Pedro Leopoldo.
Um dos fenômenos mais interessantes, intermediados por Peixotinho, foi psicografar, pela mão direita mensagem científica e com a esquerda, outra de teor filosófico; tudo isso, enquanto transmitia uma mensagem verbal, por meio da psicofonia.
O filho de Miguel Peixoto Lins e Joana Alves Peixoto, desencarnado no dia 16 de Junho de 1966, em Campos, RJ, completaria, em 2007, o centenário, de acordo com seu registro civil, realizado 2 anos após o seu nascimento, em 1905.
Assumindo com seriedade suas faculdades mediúnicas, Peixotinho pôde, além de curas, promover sólidas provas da existência e influência dos espíritos no mundo material.
(Artigo publicado no Jornal Correio Fraterno)