O método de emancipação intelectual que inspirou Kardec
Por Adair Ribeiro Jr.*
Criado pelo professor e filósofo francês Jean-Joseph Jacotot (1770-1840), o método de emancipação intelectual, também conhecido como o “método do mestre ignorante” ou “método do ensino universal”, defendia a autoeducação e foi utilizado por Allan Kardec ao longo de seu trabalho, ainda nos tempos em que era conhecido como professor Rivail.
O método surgiu quando Jacotot ficou exilado na Bélgica. Sem dominar a língua holandesa, ele se deparou com o desafio de ensinar, na Universidade, alunos que não falavam francês, observando que eram capazes de aprender a língua por conta própria, a partir da comparação de textos, buscando-se correspondências entre palavras e estruturas gramaticais.
Quando o professor Rivail, em 1830, traduziu do francês para o alemão o clássico Telêmaco (1869), de François Fénelon (1651-1715), dedicou a Jacotot a obra Les trois premiers livres de Télémaque em allemand (Os três primeiros livros de Telêmaco em alemão), afirmando ter se utilizado do método por ele criado.
A abordagem de Jacotot foi uma ruptura com o método tradicional de educação, que tem sempre o mestre como principal fonte de informação. Baseava-se em três princípios – todos os homens têm inteligência igual; todo homem recebeu de Deus a faculdade de se instruir; tudo está em tudo.
Também defensor da autonomia no aprendizado, Allan Kardec demonstrou mais tarde em suas obras a importância do interesse e do fazer por si mesmo os estudos sobre o espiritismo. A influência de Jacotot em seus escritos pode ser observada na ênfase dada à emancipação intelectual e incentivo ao estudo sério, como ferramentas indispensáveis para o progresso individual e coletivo, através do exercício da razão para questionamentos e reflexões, visando a construção e compreensão da doutrina espírita.
Inspirado talvez por Jacotot, Kardec pode ter desenvolvido uma forma de educação a distância, autodidata, ao formular as obras fundamentais do espiritismo, permitindo que seus leitores o compreendam sem a presença física de um mestre. “Só com o tempo e o estudo se adquire o conhecimento de qualquer ciência. Ora, o espiritismo é uma ciência, uma filosofia, que já não podem ser aprendidas em algumas horas...”, escreveu em O livro dos médiuns, em 1861, observando que sua compreensão era construção paulatina, que dependia da vontade, um conhecimento profundo e extenso que não poderia ser adquirido de qualquer modo, que não por um estudo perseverante, feito “no silêncio e no recolhimento e através de numerosas observações”.
*Adair Ribeiro Jr. é curador do Museu AKOL – Allan Kardec.online.