Os projetos que Allan Kardec não chegou a realizar

Por Adair Ribeiro Jr.*

Desnecessário elencar o fantástico legado de Allan Kardec. Trabalhando incansavelmente, muitas vezes à luz de velas e fazendo uso de aparos metálicos e tinteiros, ele efetuou pesquisas que resultaram em milhares de páginas que estão reunidas nas obras fundamentais do espiritismo.

O surgimento de uma grande quantidade de documentos nos últimos anos, advindos dos arquivos pessoais de Kardec e da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, tem ajudado a revelar o modus operandi e os bastidores desse processo de construção do conhecimento espírita. Entre as informações, constam nessas fontes primárias detalhes dos diálogos e os suportes que ele recebeu do mundo espiritual; o seu trabalho de seleção das comunicações mediúnicas; a constatação documental que trata do intercâmbio com outros grupos espíritas; a possibilidade da identificação de médiuns que receberam mensagens que passaram a integrar os livros da codificação; a observação das intervenções e tratamento dos textos das comunicações feitos por Kardec antes de suas publicações; o detalhamento da sequência de livros a serem elaborados e a sugestão de seus títulos, sob a orientação dos guias superiores.

Dois manuscritos com a caligrafia de Kardec e que integram o acervo do Museu AKOL, dizem respeito a ‘projetos’ a serem desenvolvidos pelo codificador.

Sem data, o primeiro documento lista os trabalhos que Kardec pretendia executar: o desenvolvimento de cursos de espiritismo; a elaboração de um quadro sinótico contendo a escala espírita; a produção das explicações sobre os artigos de fé da doutrina cristã e católica à luz do espiritismo; estudos sobre as concordâncias e comentários dos textos tidos como sagrados, sob a ótica espírita; pesquisas sobre o espiritismo nas religiões.

Outra fonte primária, datada de março de 1865, é um revelador manuscrito que apresenta o diálogo entre Kardec e o mundo espiritual, podendo-se verificar a assistência dos espíritos superiores para a constituição do espiritismo. Nele, o Espírito da Verdade descreve as obras que Kardec ainda deveria escrever e publicar: O livro dos magnetizadores, A gênese segundo o espiritismo, Os milagres do evangelho segundo o espiritismo, O céu e o inferno segundo o espiritismo, A religião segundo o espiritismo, O estado social e o reino de Deus segundo o espiritismo.

Os ‘conselhos’ foram fielmente seguidos por Kardec. Em setembro de 1865, foi publicado O céu e o inferno segundo o espiritismo. Em janeiro de 1868, não como duas publicações separadas, mas em um único livro, A gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo. Infelizmente, a lista não pôde ser concluída. 

Se Allan Kardec não tivesse desencarnado em 31 de março de 1869, quase certo que teríamos inúmeras outras obras, dentre elas as demais obras sugeridas a ele pelos espíritos.

 

*Adair Ribeiro Jr. é curador do Museu AKOL – Allan Kardec.online.