O desafio de Amália Soler diante de sua cegueira

Nascida a 10 de novembro de 1835, na cidade de Sevilha, Espanha, Amália Domingos Soler, considerada uma das maiores poetisas do século 19, foi figura de grande destaque no espiritismo espanhol, enfrentando com muita coragem uma existência de muitos percalços. Seu pai morre antes de ela nascer. Os problemas visuais acompanham-na por toda a vida, mas, graças aos esforços da mãe, dos dois aos cinco anos aprende a ler e, aos dez anos começa a escrever poesias, iniciando-se as publicações aos 18.

Com a morte de sua mãe, aos 25 anos, Amália passa por grandes dificuldades também financeiras. Sozinha, numa noite, caminhando sem esperanças, sua mãe lhe aparece. A visão causa-lhe espanto, mas reaviva suas esperanças, fazendo-a recordar-se da religião. Busca auxílio em uma igreja luterana, volta a escrever versos, costura e tenta se reerguer. Cega, procura a ajuda de um médico homeopata, dr. Hysern, que lhe entrega um exemplar de "El Critério", periódico espírita que circulava na época.

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O pequeno jornal desperta sua curiosidade e Amália acaba por se aprofundar nos estudos do espiritismo, escrevendo para revistas espíritas da época. Seus artigos chamam a atenção e, aos poucos, integra-se ao movimento espírita espanhol, participando de reuniões em casas espíritas.

Em 9 de maio de 1879 aparece-lhe seu guia espiritual, o padre Germano. Em Barcelona, encontra-se com o médium sonâmbulo Eudaldo, que recebe várias mensagens a ela destinadas, muitas delas reunidas num clássico de sua autoria "Memórias do padre Germano".

Animada por profunda fé em Jesus e nos benfeitores espirituais, conseguiu recobrar a visão. Eis como ela relata esse importante acontecimento de sua vida:

– Bela manhã, estando em casa senti repentino doloroso e estranho fenômeno: pareceu-me que toda minha cabeça se tinha enchido de neve, tal o frio intenso que nela sentia. Prestei atenção e acreditei ouvir esta breve palavra: Luz... luz... luz... para a minha alma e para os meus olhos; gritei movida por inexplicável impressão: Luz, necessito, meu Deus. E sem saber por que, chorei, não com amargura desconsolada.

Sem dar conta do que fazia, encaminhei-me para um espelho, numa exclamação de júbilo e de assombro indescritível ao ver meus olhos perfeitamente abertos como há muito não os podia ver. Haveria chegado a hora da minha liberdade? – perguntei em alta voz, julgando que alguém pudesse me responder.

— Sim, murmurou uma voz longínqua.

O trabalho de Amália Domingo Soler foi intenso no campo da divulgação do espiritismo. Escrevera mais e cinquenta artigos rebatendo as acusações lançadas contra o espiritismo na época, publicando livros e pelo menos duas revistas "La Luz del Porvenir" e "O Eco da Verdade".

Bibliografia: Personagens do espiritismo, de Antônio de Souza Lucena e Paulo Alves Godoy, FEESP.

(Artigo original publicado no Jornal Correio Fraterno edição 449, de 2013).

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