O ambicioso projeto editorial de Kardec antes de partir

Por Adair Ribeiro Jr.*

Catálogo original lançado por Allan Kardec em 1869

Antes de sua desencarnação, em março de 1869, Allan Kardec deixou delineado e pronto para publicação seu ambicioso projeto editorial final: a criação de uma editora e livraria própria, que seria a responsável pela publicação das obras do espiritismo e a distribuição de um catálogo trazendo nomes de obras para os estudiosos do espiritismo. Este último empreendimento representava a concretização de um sonho antigo do codificador do espiritismo.

Localizada na Rue de Lille, número 7, a Livraria Espírita e de Ciências Psicológicas foi concebida para ser mais do que um mero ponto de venda. Além de editar obras relativas ao espiritismo, ela faria venda exclusivamente de livros de temática espírita e obras de interesse dos leitores da doutrina. Kardec idealizou-a como um espaço para conter obras de todas as épocas, funcionando como um centro de aquisição de materiais destinados à formação de uma biblioteca espírita. Além das obras fundamentais do espiritismo, a livraria selecionaria e catalogaria outros títulos considerados necessários para a complementação dos estudos dos espíritas, com variados gêneros da literatura.

Curiosamente, a permissão oficial para o funcionamento da livraria foi concedida pelas autoridades francesas apenas dois dias após a partida de Kardec.

Juntamente com o conteúdo da Revista Espírita de abril de 1869, que ele deixou totalmente pronto, Kardec também finalizou e preparou para remessa aos assinantes o então Catálogo racional para se formar uma biblioteca espírita.

Este livreto de vinte páginas tinha como propósito apresentar uma relação de títulos disponíveis, com detalhes sobre suas edições, descrições e respectivos preços para aquisição.

A característica principal do catálogo era seu conteúdo dinâmico e variável, adaptando-se às edições e títulos disponíveis para o público. Essa ideia de um ‘inventário’ abrangente de obras relacionadas à ciência espírita, de todas as épocas e países, já havia sido externada por Kardec em 1861. Na Revista Espírita de fevereiro daquele ano, ele compartilhou sua intenção e solicitou colaboração, indicando o tempo que o trabalho demandaria. A proximidade de sua publicação foi anunciada na Revista em dezembro de 1868.

Apesar de ser uma obra não autoral de Kardec, a primeira versão original do Catálogo só se tornou conhecida do movimento espírita em 2020, após a localização de um exemplar da Revista Espírita de abril de 1869 pelo Museu AKOL. Essa versão inaugural relacionava 241 títulos diferentes, cuidadosamente selecionados por Kardec como complementares ao estudo da doutrina.

* Adair Ribeiro Jr. é curador do Museu AKOL – Allan Kardec.Online.