Um diálogo com Deus
Por Adair Ribeiro Jr.
A doutrina espírita nos ensina que a prece é um ato que nos conecta com Deus, permitindo-nos louvar o Criador, pedir e agradecer. Ela é uma necessidade universal, independente das religiões. Através da prece, elevamos nossa alma, entramos em comunhão com Deus e nos identificamos com o mundo espiritual. Quando feita com fervor e confiança, ela traz alívio. Se o pedido é sincero, o socorro nunca é recusado.
A documentação do acervo pessoal de Allan Kardec, disponível no Projeto Allan Kardec da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, nos oferece a chance de conhecer documentos da época do surgimento do espiritismo, que se referem ao poder das preces.
Em um manuscrito de 1857, no início do desenvolvimento dos princípios da doutrina espírita, podemos perceber toda a humanidade e humildade de Kardec. Em um diálogo íntimo com Deus, está registrado o aceite de Kardec à sua missão, onde ele pede forças ao Senhor Deus todo-poderoso para cumpri-la, rogando que nem o orgulho nem a ambição tomem lugar durante a execução de sua obra. Kardec se entrega nas mãos de Deus e pede amparo para conduzir o projeto, cujos meios ele reconhece que só poderiam vir da divina Providência. “Os espíritos me disseram também que meu projeto me foi inspirado por eles, assim ouso acreditar que ele é do vosso agrado, e que provereis à sua execução; eis o favor que solicito com todas as forças da minha alma, e que vos suplico dignar me conceder, se me julgais digno.”
Em outro diálogo com Deus, agora em 1860, Kardec registra estar em um estado deplorável, confuso, descontente, cheio de ansiedade e mau humor. Ele solicita força para afastar a causa e repelir qualquer má influência. Caso fosse uma prova, pede que sirva para sua humildade; caso fosse para sua instrução, solicita a luz necessária para descobri-la. Roga ao Espírito de Verdade para que sua calma seja restaurada e que lhe sejam inspirados os caminhos a seguir. Pede que, durante o sono, possa se retemperar e se restabelecer entre os bons espíritos, buscando uma intuição saudável para resolver os problemas que o afligem.
Em uma das instruções de 1862, vindas do mundo espiritual, é relatado que a oração deve ser feita com o coração. É necessário que ela brote da alma pura e suave para que possamos obter força moral suficiente para suportar corajosamente os sofrimentos, problemas, desgraças, adversidades, em suma, as provações da vida. Os espíritos ensinam, nessa comunicação, que não há boa oração sem o devido recolhimento.
Que possamos seguir o exemplo de Kardec, dialogar mais com Deus e seguir as orientações dos bons espíritos!
* Adair Ribeiro Jr. é curador do Museu AKOL – Allan Kardec.online.