Augustin Lesage - O grande médium da pintura
Por Izabel Vitusso
Quando, no início do século 20, a mediunidade do simples operário de mina de carvão eclodiu, poucas pessoas sabiam do que se tratava. Nem mesmo ele, Augustin Lesage, tinha ideia do fenômeno que nele se operava.
A cidade? Saint-Pierre-les-Auchel, interior da França, país que cinquenta anos antes assistira ao lançamento de O livro dos espíritos, a primeira obra da codificação.
Sua mediunidade manifestou-se quando ele contava com 35 anos de idade e o faria se tornar um dos médiuns pintores mais notáveis de que se tem notícias. "Um dia serás pintor!" — esta foi a primeira frase que Lesage ouviu no fundo da mina onde trabalhava. Oito meses depois, o médium já não pensava nas vozes, mas ouvira de um de seus companheiros da mina: "Sabem que os espíritos existem? E que é possível nos comunicarmos com eles? "Esta revelação me perturbou. E me perguntei: Será que o espiritismo não tem ligação com minhas vozes?" – pensou Lesage. No ano seguinte, o médium já se iniciaria nas reuniões mediúnicas, e em pouco tempo, os espíritos já produziriam desenhos por seu intermédio. Ali também receberia as recomendações: "Não tenhas receio e segue os nossos conselhos. Tuas pinturas serão analisadas pela ciência. De princípio acharás ridículo. Seremos nós – através das tuas próprias mãos – que executaremos. Antes de mais nada, vamos te indicar por escrito o nome dos pincéis e das cores que irás comprar na loja do senhor Poriche, em Lillers."
Sob o comando de seus guias espirituais, dentre eles Leonardo Da Vinci, o médium sujeitou-se a todo tipo de prova. Pintou em estilo egípcio no Instituto Metapsíquico Internacional, em Paris, sob a observação do presidente da casa, o cientista Eugène Osty, numa das telas que chegava a medir dois metros de altura.
Em transe, Lesage colocara nela milhares de miniaturas pintadas a óleo só analisadas em seus detalhes através de uma lupa. Pintava diante do público como uma máquina, com precisão e intermitência impressionantes, ao mesmo tempo em que respondia a perguntas.
Inúmeros estudiosos, como Charles Richet (prêmio Nobel), Sir Oliver Lodge (da Sociedade Real da Inglaterra) se impressionaram com o fenômeno que se realizava através de Lesage, um homem inculto, sem noções de desenho e pintura, ou mesmo atração pela arte.
Fora examinado por outros cientistas e intelectuais da época, chegando a ouvir do escritor e filósofo Léon Denis: "Você é o mineiro que encontrou o novo filão espiritual". O próprio Conan Doyle (criador do personagem Sherlock Holmes), que conhecera Lesage durante o Congresso Espírita Internacional, em Paris, se interessara em levá-lo, em 1928, à Inglaterra, para participar do Congresso Espírita em Londres, onde as telas mediúnicas foram expostas. Um ano antes, Lesage já havia comparecido ao 3o Congresso Internacional de Pesquisas Psíquicas, realizado em Sorbonne, tendo sido ele próprio tema de uma conferência.
Os jornais publicavam suas impressões: "A obra causa surpresa, ao final da execução. A complexidade que se acreditava acabar em desordem é de perfeito equilíbrio."
A partir de julho de 1912, Augustin Lesage passa a trabalhar também com a mediunidade de cura. "Começaram a aparecer enfermos de todos os lados. Ao voltarmos do trabalho, já encontrávamos uns cinquenta à nossa espera. Não tínhamos mais tempo de nos lavar; era preciso cuidar dos doentes!" – conta ele.
Lesage enfrentará ainda processos – médicos e farmacêuticos se ressentiram do desaparecimento da enorme clientela –, irá para as trincheiras, na Primeira Guerra Mundial, e, de volta a Saint-Pierre-les-Auchel, retomará os serviços na mina de carvão e a pintura.
Sua simplicidade e consciência, como mero instrumento que era na mão da espiritualidade, foram seus verdadeiros escudos, que lhe garantiram a ininterrupta presença dos espíritos a conduzirem o seu valioso trabalho pela mediunidade.
Quando faleceu, em 1954, Lesage deixou perto de oitocentas telas, espalahdas por coleções públicas e privadas. E sua presença na história da arte mediúnica. "Nada sou, senão um pobre mineiro. Jamais sonhei ser diferente. O cuidado e a vontade de não me distinguir fizeram com que nunca me apartasse dos homens, apesar de sentir crescer em mim o gosto pela solidão e pela vida interior". Bibliografia O fantástico Lesage, Marie-Christine Victor, trad. Iracema Sapucaia, Correio Fraterno, 1998.
(Publicado no jornal Correio Fraterno, edição 474, mar./abr 2017).