A modéstia de um grande educador

Por Eliana Haddad

Allan Kardec, antes de se dedicar à elaboração da doutrina espírita, exerceu na França durante 30 anos sua missão de educador. Discípulo de Pestalozzi, começou por aplicar o método do mestre, mas desde o princípio (ainda Hippolyte Léon Denizard Rivail) revelou ideias próprias e uma personalidade segura.

Seus primeiros textos pedagógicos mostram o quanto estava integrado em sua tarefa, refletindo sobre o papel de educador e propondo soluções aplicáveis para a melhoria do ensino de seu país.

Kardec teve amplo conhecimento em várias áreas, embrenhando-se com facilidade pela ciência e pela filosofia, fazendo parte de numerosas associações científicas. Mas, como educador, aplicava toda a sua cultura e suas especializações acadêmicas na instrução de crianças e jovens, seja em sua própria casa, seja em institutos de ensino, que fundou ou que atuou, ou ainda em numerosos livros didáticos, publicados ininterruptamente nos anos de dedicação ao magistério.

Sua atuação como educador, pouco conhecida por causa de sua modéstia e discrição, e ofuscada depois pela fama adquirida no campo espírita, mostra que Rivail era um sábio distinto e laureado, mas que preferia por convicção e ideal, dedicar seus talentos à obra educativa. Ele mesmo, em alguns de seus textos, comenta sobre os preconceitos de algumas pretensas sumidades, que consideram indigna de um sábio a função de educador.

Embebido, porém, dos ideais pestalozzianos, Rivail assumiu com dignidade, competência e autoridade moral a tarefa de educar crianças e jovens de seu tempo para se tornarem homens dignos como ele. Tendo sido druida em recuada encarnação, ele estava repetindo a tarefa educativa, pois os sacerdotes celtas não eram apenas os zeladores da fé de seus antepassados, mas também os educadores da juventude e os líderes políticos daquela sociedade.

Rivail e a esposa, Amélie Boudet, não tiveram filhos, o que não impediu que sua obra atingisse filhos alheios e, mais tarde, toda a humanidade com a codificação do espiritismo.

Tanto no exercício do magistério, como na execução de sua missão mais ampla, a de elaborar a doutrina espírita, Kardec revela o equilíbrio, a integridade, a força moral e a inteligência lúcida de um espírito extremamente evoluído. Apesar da amplitude de seu conhecimento e de sua estatura moral, sabe ensinar traduzindo os conceitos mais difíceis em linguagem simples, clara, objetiva, usando uma lógica inapelável e, ao mesmo tempo, sabe evitar o personalismo e a exibição de si. Nunca uma doutrina foi tão transparente e racional, coerente e bem encadeada como a espírita e nunca um homem eminente soube tão bem exaltar a Verdade, apagando a si mesmo e declarando-se sempre mero operário da obra, quando mereceu e merece, por todos os motivos, o título de mestre.

 

Referência: A educação segundo o espiritismo, de autoria de Dora Incontri, ed. Feesp.