Carlos Imbassahy: Espiritismo com lógica e senso de humor
Por Lúcia Loureiro*
Em meu livro recentemente lançado, Memórias históricas do movimento espírita no estado da Bahia*, dediquei um capítulo a perfis de personalidades que dedicaram parte de suas vidas à divulgação da doutrina espírita no Brasil, especialmente na Bahia.
Dentre elas, cito Carlos Imbassahy, advogado, jornalista e escritor que nasceu em Salvador, BA, em 1883, indo posteriormente residir em Niterói, RJ. Mais tarde, depois de bacharelar-se em direito, retornou à Bahia, onde passou a exercer o cargo de promotor na cidade de Andaraí.
De formação no catolicismo, dizia que, mesmo fiel àquela religião, seus pensamentos oscilavam em acreditar ou não na existência do inferno, onde as almas dos pecadores abrasariam pela eternidade. Considerava o fato uma iniquidade, que o fazia descrer da bondade divina, motivo que o fez se afastar definitivamente da religião considerada a oficial do Brasil.
Mesmo antes de se tornar espírita, o escritor dedicava-se à leitura de obras filosóficas, religiosas e científicas, relacionando-as posteriormente com os ensinamentos absorvidos através das obras doutrinárias organizadas e escritas por Allan Kardec.
Autor de quase vinte obras e tradutor de uma dezena delas, o considerado “Ernesto Bozzano Brasileiro”, por seu grau de conhecimento e estudo, dizia que a aceitação dos princípios espíritas veio aos poucos. Sua iniciação nos estudos ocorreu quando lhe chegou ao conhecimento o livro Depois da morte, de autoria do escritor e pesquisador Léon Denis, importante obra da bibliografia espírita, que acabou influenciando sua decisão, por confirmar as ideias que possuía sobre a imortalidade da alma.
“Imbassahy era um filósofo por excelência, pouco afeito ao evangelismo bíblico que, à sua época, infestava o meio espírita, causado, segundo ele, pelo número de adeptos que haviam se convertido de seitas protestantes, da igreja católica e outras”, comenta Carmem Barreto, nora do escritor, em seu livro As melhores respostas de Imbassahy (Petit).
Reconhecido por sua inteligência e acurado senso de humor, Imbassahy dedicou-se também à pesquisa em memoráveis reuniões de efeitos físicos, todas às sextas-feiras, na intimidade do lar, das quais participavam amigos e familiares.
Curiosamente, seu dom da oratória só se manifestou após o seu ingresso no movimento espírita. Constrangia-lhe falar em público. Tanto que não se dedicou à advocacia forense. Sua primeira palestra aconteceu de maneira arbitrária, quando, ao chegar numa instituição que visitava com o amigo Amaral Ornelas, foi por ele apresentado como sendo o orador da noite. Julgando que mal pronunciaria algumas palavras gaguejadas, Imbassahy discorreu admiravelmente sobre assuntos da doutrina que ele mesmo julgava desconhecer.
Em sua vasta produção literária estão romances profanos até as obras filosóficas, científicas e, sobretudo, de conteúdo moral. Polemista de longa atuação, combatia adversários, defendia pontos de vista e ideias sem perder seu estilo próprio e elegante, por mais acirrada que se tornasse a demanda. Sua grande cultura filosófica e de filólogo era largamente conhecida no meio espírita brasileiro.
Conhecedor da língua francesa com profundidade, traduziu autores clássicos, como César Lombroso, Gabriel Delanne, Ernesto Bozzano, Justinus Kerner, George Vale Owen, dentre outros.
Carlos Imbassahy desencarnou em Niterói, em 1969, aos 86 anos de idade, deixando sua marca e sua grande contribuição para o espiritismo, sendo considerado um dos grandes divulgadores e defensores das obras de Allan Kardec.
*Articulista e escritora, Lúcia Loureiro é também grande incentivadora da arte espírita, sendo uma das fundadoras do Teatro Espírita Leopoldo Machado, em 1984, em Salvador, BA.
Memórias históricas do movimento espírita no estado da Bahia – a saga dos pioneiros e a repercussão no Brasil. LL Editora, 2021.