Palpite infeliz

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Por Jaider Rodrigues de Paulo

Fui procurado por uma jovem de vinte e poucos anos, solteira. Estava muito assustada porque aconteciam alguns fenômenos estranhos e, por isso, ela tinha medo de estar enlouquecendo. Contou-me que tinha uma vizinha jovem, viúva há pouco tempo, que tivera um filho desse casamento. Tornaram-se amigas e foram ficando confidentes. Passaram a se ver mais amiúde.

Certo dia, a amiga viúva confidenciou que estava namorando às ocultas. Não queria tornar ainda público, porque o marido havia falecido há pouco tempo e pensava ficar chato aparecer com outro tão cedo. A paciente incentivou que ela investisse no romance. Afirmava que ela era jovem e que a vida continuava. Elas conversavam muito sobre isso.
Um dia, almoçaram juntas e ela deitou-se no sofá da sala da amiga e cochilou. Teve um pesadelo. Um homem jovem apareceu com o dedo em riste e lhe disse: "Se a minha mulher firmar namoro com esse sujeito, você me paga. Vou infernizar a sua vida. Você vai ver o que vai acontecer". Desde então, passou a ter pesadelos persecutórios, a acordar cansada, ansiosa. Ter muito medo. A situação piorou quando confidenciou para a amiga o que estava acontecendo. A jovem viúva buscou, então, um retrato dela com o falecido marido, o que a deixou mais assustada, pois identificou o homem que aparecia em seus sonhos.
Orientei que ela fizesse a leitura das obras O livro dos espíritos e O livro dos médiuns, de Allan Kardec, já que ela não tinha nenhuma objeção. Ela havia nos procurado considerando que, além de psiquiatras, éramos espíritas. Precisava saber se o que ocorria com ela era fruto de algum distúrbio mental. A essa pergunta respondemos que, à primeira entrevista, não. Frisei bastante a necessidade de que ela orasse por ela e pela entidade espiritual, e que deixasse para a amiga a resolução da sua vida amorosa. Orientamos que ela procurasse o apoio espiritual de uma casa espírita e que se algum fato novo de importância ocorresse, poderia nos procurar.
Situações às vezes embaraçosas nos levam a despertar para fatos de suma importância na vida. É bem provável que essa paciente passou por tudo isso para despertar a sua atenção para o fenômeno da vida após a morte e para ter mais cuidado no relacionamento com essa verdade. Muitas vezes não damos a devida importância às nossas palavras em relação a assuntos sobre pessoas já falecidas. Isso pode nos sustar dissabores desnecessários.

*Este fato foi narrado pelo psiquiatra e homeopata Jaider Rodrigues de Paulo, de Belo Horizonte, em um de seus livros: Saúde mental, relatos do dia a dia de um psiquiatra espírita, AME, 2014.

(Artigo original publicado no Jornal Correio Fraterno)