Voltando ao passado

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Por Therezinha Oliveira

Uma das experiências que obtive enquanto o sono concedia repouso ao corpo é o que desejo partilhar.

Era noite. À minha frente, uma casa com janela à esquerda e, à direita, uma entrada em arco, por onde se adentrava ao interior.
E uma voz me disse: "Lembra? Mas ainda não era assim".

Sem nada mais ouvir, aventurei-me a entrar. Atravessei aquela entrada e fui para o fim da construção, contornando-a sem encontrar abertura, e me detendo ante uma janela iluminada, que me permitia olhar o interior. Divisei ampla sala. Notei a pobreza de mobiliário. Um móvel tosco e pesado na parede ao fundo, uma mesa e alguns bancos ao seu redor.

Então eles me chamaram a atenção. Eram dois homens que me pareceram tropeiros, de vestes rústicas e espécie de manto sobre as costas, com aspecto de couro ou tecido crus. Estavam sentados de costas, de modo que não me viam. Iluminava-os a luz de um lampião sobre a mesa.
Entendi, amedrontada, que eles tramavam a chacina dos moradores.

Que fazer? Avisar aos moradores! Mas, para isso, teria de passar por eles, que certamente me viriam. Debati-me indecisa e, finalmente, decidi que fugiria.

Lembrei-me que naquela entrada da casa havia umas gavetas na parede, em que eu guardara joias. Precisaria delas para custear minha fuga.

Fui para a entrada, tateei nas paredes, abri a gaveta e tomei as joias nas mãos. "Joias"?! Eram colares, brincos e pulseiras pobres e rústicos... Tudo me parecia sem valor maior.

Quando decidi pegar aquelas joias e partir, ouviu-se um tumulto e uma cena ao fundo se fez visível para mim. Eram pessoas vestidas em roupas que me lembravam as túnicas gregas. Pareciam escravizadas e era delas que vinha o clamor. Estavam sendo acusadas de roubar as joias, ou precisariam delas e estavam sendo levadas embora... Não entendi bem, mas pensava: "tenho direito a elas, são minhas!"
E aquela multidão começou a vir em minha direção...
Foi então, que, na semiescuridão, apareceu um homem de aparência bela e presença poderosa, inspirando respeito, que estendeu o braço, onde a multidão descontrolada foi detida.
Olhou-me e estendeu sua mão sem dizer palavra, mas eu entendi que era para nela eu depositar as 'joias'...
Hesitei. Sentia-me com direito a elas.... Mas coloquei meus míseros valores em sua mão.
Tudo então desapareceu. Eu estava de volta à cena inicial. Fui deixando a casa e, atravessando o portãozinho da entrada, saindo de lá.
Que me poderia ensinar esse sonho espírita, a vivência que tive no plano espiritual, enquanto meu corpo dormia?
Guardei a impressão de que lá atrás, em outra encarnação, eu possa não ter agido com a coragem e desprendimento devidos.
E, também que, quaisquer sejam os valores de que dispomos e nos parecem 'nossos por direito', são, em verdade, recursos que Deus nos confia para os empregarmos em benefício geral.

(Artigo original publicado no Jornal Correio Fraterno)