Entregue esta flor para a Carmem

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Por Maria Elena S. Rodrigues

Participei durante muitos anos de nossa reunião de estudo e assistência espiritual às terças-feiras num Centro Espírita em São Bernardo.

Com a família grande, eu sempre estava correndo com os afazeres da casa.

Naquela terça, um pouco antes de começar a fazer o almoço, um vento muito leve soprou, mas o suficiente para derrubar da árvore em que estava pendurado um dos vasos de orquídeas que eu cultivava.

Recolhi o vaso do chão e, com pesar, vi que um cacho das flores havia se quebrado. Ao me abaixar para pegá-lo, ouvi direitinho em meu ouvido: Leva para a Carmem (uma das amigas que faziam parte do grupo). Mas para a Carmem – pensei – E as outras? São tantas, não posso fazer diferença!

Coloquei o vaso perto da cozinha, onde rapidamente preparei o almoço, coloquei-o na mesa e, depois do almoço ligeiro, fui trocar de roupa, porque pegava carona com meu marido, que retornaria ao trabalho.

Mas foi só quando vi a Carmem entrando na sala da reunião, já no Centro, que me dei conta de que havia me esquecido da orquídea. Mesmo assim, disse em poucas palavras que eu tinha uma surpresa para ela, mas havia me esquecido.

Passada a parte dos estudos, nem bem começavam os trabalhos mediúnicos, ouvi novamente em meus ouvidos: e o presente da Carmem?

Pedi licença e então contei ao grupo sobre a orquídea e os recados que eu ouvira.

Carmem caiu num choro convulsivo e eu só pensava: por que fui esquecer a flor!

Só depois de conseguir conter as lágrimas ela contou:

“Eu estava em casa fazendo almoço quando começou a tocar uma música na rádio, aquela ‘Eu nunca mais vou te esquecer’. De repente me senti tocada por uma saudade tão grande e tão profunda. Pensei, saudade de quem, se nem nunca tive um grande amor em minha vida! ”

E foi assim que em poucos instantes, através do intercâmbio mediúnico, o espírito trazia um recado para a amiga. Dizia:

“Nunca se sinta só e não amada. Eu nunca te esqueci. Você é e sempre será o meu grande amor! Apenas não programamos estar juntos nesta vida. Mas estivemos e ainda estaremos muitas delas juntos! A distância programada era necessária para nós. Mas sempre que possível estou! Você nunca estará só.”

Depois da grande emoção e, finalizada a reunião, Carmem então disse para nós:

“Vocês não imaginam como foi bom ouvir tudo isso! É difícil a vida sem ninguém” – Carmem já tinha alcançado a idade madura, mas permanecia solteira, nunca havia encontrado alguém que gostasse de verdade!

Eu queria me sentir amada! É muito bom saber que eu tenho também um grande amor.

Vocês não imaginam como é bom saber que tenho um amor que me espera na espiritualidade!”

Quando acabou a reunião, eu disse então à minha amiga: Vou dar um jeitinho de te entregar o seu presente! O seu lindo cacho de orquídeas!

(Artigo original publicado no Jornal Correio Fraterno)