O índio apegado ao seu passado
Por Madalena Fruad
Em 1985, fui pela primeira vez com meu marido para o sul do Brasil. Passamos por diversas cidades, lugares lindos, com contato inesquecível com a natureza, céu azul maravilhoso, ambientes aconchegantes e bem-estruturados. Tudo indicava que teríamos dias e dias de passeios só de lazer, descanso e alegria.
Em um dos dias, depois de horas de estrada, chegamos a um dos nossos destinos: a cidade de Florianópolis, SC. De carro, entramos no hotel pelo acesso dos fundos, pelo estacionamento.
Já bem instalada, à medida que as horas passavam, ao contrário do bem-estar de antes, alguma coisa dentro de mim mudava. Não me sentia bem no lugar. Uma aflição estranha me invadia a alma, deixando-me angustiada sem saber o motivo.
Nos divertimos no dia seguinte, mas o aperto no coração foi se intensificando ao entardecer novamente e me acompanhou até a hora de dormir.
Fiz minha prece e pedi proteção espiritual para minhas horas de descanso. Entretanto, dormi agitada e acabei sonhando com um índio, que estava muito bravo e exigia que saíssemos dali.
Eu via o índio em sua tribo, terra batida, num local circundado por um rio.
E a ameaça dele continuava.
Acordei assustada e contei o pesadelo ao meu marido.
Descemos para o café da manhã e, quando fomos deixar a chave do quarto na portaria do hotel, não acreditei:
O hotel tinha um nome indígena. E ao olhar pela janela, o rio sinuoso estava lá, bem na perspectiva em que eu havia visto em sonho.
A informação final veio logo, quando perguntei sobre o quadro com um índio na parede atrás da recepcionista.
– Dizem que neste lugar moravam índios antes.
Deduzi que aquele índio com quem sonhei estava insatisfeito e apegado, tanto tempo depois de desencarnado, ao passado, requerendo para si o que julgava ainda ser suas terras.
Fizemos uma prece vibrando muita luz para aquele espírito. Para que ele pudesse ser socorrido e orientado sobre sua condição.
Somente depois disso é que comecei a me sentir melhor, aproveitando minhas férias com muita alegria. O socorro, com certeza, havia chegado para todos nós.
(Artigo original publicado no Jornal Correio Fraterno)