O limite entre o supérfluo e o necessário

Por Umberto Fabbri*

Ao abordar a relação entre o supérfluo e o necessário, o espiritismo nos convida a uma reflexão profunda sobre a verdadeira essência da vida. Muitas vezes, criamos necessidades vazias, impulsionados por desejos transitórios, incluindo o apelo materialista, confundindo prazer momentâneo com felicidade verdadeira. Essa busca desenfreada pelo supérfluo não apenas nos desgasta, mas também nos distancia do nosso caminho espiritual.

Podemos observar isto na metáfora do coelho correndo atrás da cenoura que está pendurada à frente de sua testa. Ela representa a busca incessante por objetivos inalcançáveis, uma corrida simbólica, onde o coelho nunca para, e está sempre movido pelo desejo de mais e mais.  Ele não admira o caminho, e nem percebe que a cenoura já está ali, e que poderia simplesmente parar e comê-la.

Desejar progredir e melhorar é algo intrínseco na criatura, mas precisamos diminuir o passo e, com equilíbrio, nos empenharmos também para as conquistas espirituais.

Allan Kardec, em O livro dos espíritos, questiona o que é realmente essencial para a vida e a felicidade, destacando que o necessário está diretamente ligado à simplicidade e ao equilíbrio. Prazeres efêmeros podem trazer momentos de satisfação, mas são incapazes de preencher o vazio existencial que surge da desconexão com os valores espirituais.

Felicidade, por outro lado, não é um estado de posse, mas de ser. Ela está enraizada em conquistas morais, no trabalho pelo bem coletivo e na capacidade de reconhecer as bênçãos cotidianas. A prática da observação, recomendada pela doutrina espírita, é um exercício essencial para identificar o que verdadeiramente nos eleva e o que apenas alimenta as ilusões materiais.

Ao aprendermos a distinguir o supérfluo do necessário, cultivamos uma vida mais leve, conectada ao que realmente importa: nosso progresso espiritual, as virtudes e os laços de afeto que construímos ao longo da jornada terrena, sem tantas exigências da perfeição que estamos longe de possuir.

Refletir sobre o peso que nos impomos se faz urgente.

Nossa sociedade está cansada, exausta, pois concentra sua energia de forma a desenvolver cada vez mais a ansiedade.

Esta busca desenfreada, sem repouso, nos exaure, mas sempre podemos refletir e mudar. E para nos guiar por estes caminhos de dúvidas temos sempre o Evangelho de Jesus com suas sábias lições, que nos falam sobre o amor, a paciência e a esperança.

 

* Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor de diversos livros espíritas, dentre eles: O traficante (pelo espírito Jair dos Santos), O político (Adalberto Gória) e Bastidores de uma casa espírita (Luiz Carlos), ed. Correio Fraterno.