Nosso compromisso como eleitores
Por Aylton Paiva*
“Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” - Mateus, 22: 39.
Geralmente essa afirmação de Jesus é vista como de aplicação individual, apenas se referindo ao amor entre as pessoas. Todavia, ela é mais abrangente. Seu amor não foi apenas de forma individualizada a algumas pessoas, e sim o amor pela humanidade.
Sob essa perspectiva, devemos considerar que Jesus nos concita a amar a sociedade em que vivemos.
O que seria amar a sociedade? Inquestionavelmente, fazer todo o bem em nossas ações, através da família, da profissão, do lazer, nas ações voluntárias às organizações sociais e culturais, na participação em organizações não governamentais que visem melhorar as condições econômicas, sociais e culturais das pessoas.
Sendo assim, “torna-se evidente que a pessoa tem um compromisso com a sociedade em que vive. Nela deve participar dando sua contribuição de acordo com suas possibilidades intelectuais e sentimentais.”¹
Há um momento específico e muito importante para a expressão desse amor quando, como cidadãs e cidadãos eleitores, temos o compromisso de votar e escolher as pessoas que deverão nos representar, nos poderes executivo e legislativo, nos níveis municipal, estadual e federal ou então candidatando-nos ao exercício desses cargos.
Para expressarmos de maneira efetiva e conscientemente esse amor à sociedade é preciso ter critérios éticos, que nós espíritas encontramos na filosofia espírita, em O livro dos espíritos, em sua terceira parte, nas leis morais.²
Eis alguns desses critérios que podem nortear com maior segurança a nossa escolha:
A verdadeira adoração a Deus é “Fazer o bem e evitar o mal”. (Q. 654).
“O uso dos bens da Terra é um direito de todos os homens, que é consequente da necessidade de viver.” (Q.711).
Todos os homens são iguais perante Deus. “Todos tendem para o mesmo fim e Deus fez suas leis para todos.” (Q.803).
“As desigualdades sociais são obras dos homens”. (Q. 806).
“A igualdade absoluta das riquezas não é possível; a isso se opõe a diversidade das faculdades e dos caracteres.” (Q.811).
“São iguais perante Deus os direitos do homem e da mulher. A ambos Deus outorgou a inteligência do bem e do mal e a faculdade de progredir.” (Q.817).
“Não há no mundo condições para o homem gozar da absoluta liberdade, porque uns precisam dos outros.” (Q. 826).
“O sentimento de justiça está na Natureza e a ideia de injustiça gera revolta.” (Q. 873).
“A legítima propriedade é a que foi adquirida sem prejuízo de outrem.” (Q.883).
“Para Jesus o verdadeiro sentido da caridade é: benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros e perdão das ofensas”. (Q.886).
Consequentemente, ao escolher um candidato para votar, é fundamental verificarmos se a pessoa se aproxima, pelas ideias e conduta, desses valores éticos.
Também, aqueles que pretendam concorrer aos cargos eletivos nos poderes executivo e legislativo precisam avaliar o quanto são coerentes, nos seus ideais e condutas, levando em conta os critérios mencionados.
BIBLIOGRAFIA
¹ Espiritismo e política: contribuições para a evolução do ser e da sociedade. Aylton Paiva, FEB.
³ O livro dos espíritos, Allan Kardec, FEB.
*Escritor e articulista espírita (Dirigente Espírita, USE-SP; Reformador, FEB). Funcionário público aposentado; ex-diretor técnico da Câmara Municipal de Lins, SP.
A visão ético-moral de Allan Kardec
Allan Kardec enaltece em suas obras o viés moral e ético que deveria orientar a conduta humana nas esferas política e social, esclarecendo que o progresso moral e intelectual da humanidade levaria consequentemente à justiça social, à igualdade e à fraternidade. Tais pressupostos seriam fundamentais para o avanço das sociedades para que, aos poucos, as leis humanas se aproximassem das leis divinas, baseadas na promoção do bem comum, na caridade e no respeito ao próximo.
É o que diz a questão 573 de O livro dos espíritos sobre a missão dos espíritos encarnados que consistiria “em instruir os homens, em lhes auxiliar o progresso, em lhes melhorar as instituições por meios diretos e materiais. Mas, para tanto, os que possuem autoridade devem governar visando o bem de todos, e não para satisfazer a vaidade ou o desejo pessoal de poder.”
A questão 797 também considera que “se os homens fossem todos bons, bastariam as leis naturais; mas, como são egoístas, é necessário o concurso das leis humanas para reprimir os excessos e manter a ordem. Aliás, a natureza humana exige que a sociedade seja organizada por instituições adequadas ao seu estado atual, e que acompanhem o progresso moral e intelectual dos homens.”
Ao comentar sobre o papel das instituições humanas e o impacto da moralidade e da espiritualidade no governo e na organização social, Kardec entende, conforme Obras póstumas, que as instituições humanas, incluindo as políticas, são reflexos do estágio de evolução moral dos indivíduos que compõem essas sociedades, antevendo um futuro em que a humanidade será governada por líderes mais éticos e espiritualmente evoluídos. Isso se daria, aos poucos, à medida que os indivíduos compreendessem melhor os princípios da caridade e da solidariedade.
(Redação)