Meditação: a importância da escuta interior

Por Eliana Haddad

A palavra meditação aparece nas obras de Allan Kardec referindo-se à análise e reflexão, diferentemente do seu conceito oriental relacionado à técnica de relaxamento e concentração em si mesmo, com especial atenção à respiração, em busca de uma sensação de quietude e harmonia interior.

Analisada pela visão espiritual, a atitude meditativa pode muito auxiliar, por exemplo, no recolhimento de uma prece, na busca da inspiração e na percepção de sentimentos e emoções que facilitam o autoconhecimento.

O espiritismo nos mostra uma visão diferente sobre os benefícios da vida contemplativa. Na questão 657 de O livro dos espíritos, Kardec pergunta se os homens que se consagram à vida contemplativa, não fazendo nenhum mal e só pensando em Deus, têm algum mérito. Os espíritos respondem: “Não, porquanto se é certo que não fazem o mal, também não fazem o bem e são inúteis. Quem passa todo o tempo na meditação e na contemplação nada faz de meritório aos olhos de Deus, porque vive uma vida todo pessoal e inútil à humanidade, e Deus lhe pedirá contas do bem que não houver feito.”

O fato aqui se refere a alguém que passasse a vida meditando, o que difere do uso da meditação para nos auxiliar a encontrar um pouco mais de serenidade e equilíbrio para seguirmos no esforço da transformação moral, grande finalidade do espírito perfectível.

Pode-se ilustrar, por exemplo, também, com as recomendações de Santo Agostinho, na questão 919, quando ensina o processo de autoconhecimento, que seria em muito auxiliado pela conscientização de quem somos, como agimos, um mergulho todas as noites na interioridade das nossas atitudes.

Meditação para Léon Denis

O filósofo e escritor espírita Léon Denis, refere-se à meditação tal como concebida atualmente. Diz ele em sua obra em O grande enigma: “Deus nos fala através de todas as vozes do infinito. Ele nos fala não numa bíblia escrita há séculos, porém numa bíblia que se escreve todos os dias com esses caracteres majestosos que se chamam oceano, mares, montanhas e astros do céu, através de todas as harmonias suaves e graves que sobem do seio da terra ou descem dos espaços etéreos. Ele nos fala ainda no santuário do nosso ser, nas horas de silêncio e de meditação”.

Com sua explicação poética, Denis esclarece que, quando os ruídos discordantes da vida material se calam, então, a voz interior desperta e se faz ouvir. “Essa voz sai das profundezas da consciência e nos fala de dever, de progresso, de ascensão. Há em nós um refúgio íntimo, como uma fonte profunda de onde podem jorrar ondas de vida, de amor, de virtude, de luz”.

 Em outra obra, O problema do ser, do destino e da dor, defende que a meditação metódica auxilia no desenvolvimento dos sentidos psíquicos. “Consiste em insular-se uma pessoa em certas horas do dia ou da noite, suspender a atividade dos sentidos externos, afastar de si as imagens e ruídos da vida externa, o que é possível fazer mesmo nas condições sociais mais humildes, no meio das ocupações mais vulgares. É necessário para isso concentrar-se e, na calma e no recolhimento do pensamento, fazer um esforço mental para ver e ler no grande livro misterioso o que há em nós. E ainda recomenda nesses momentos: “apartai de vosso espírito tudo o que é passageiro, terrestre, variável. (...) A meditação, a contemplação e o esforço constante para o bem e o belo formam correntes ascensionais, que estabelecem a relação com os planos superiores e facilitam a penetração em nós dos eflúvios divinos. Com esse exercício repetido e prolongado, o ser interno acha-se pouco a pouco iluminado, fecundado, regenerado”.

Sintonia em busca do Bem

A meditação seria mais um caminho, mais uma ferramenta a se juntar a tantas outras para se adquirir um estado de harmonia e melhor cuidado com a sintonia espiritual em busca do Bem. Um momento, como recurso, e não como uma vida toda de contemplação.

Espiritualmente, sabe-se que todo estado de recolhimento interior provoca experiências diversificadas que retratam a atividade do espírito, com seu desdobramento, liberdade e vontade.

Como meditar:

  • Escolha um horário que você possa estar 100% presente na prática.
  • Desligue o celular, o computador e evite o máximo de distrações. Fique em um ambiente tranquilo, para que nada te incomode.
  • Sente-se de maneira confortável com a coluna ereta e feche os seus olhos.
  • Comece a prestar atenção na sua respiração, no batimento do seu coração e em todas as sensações do seu corpo. Se algum pensamento surgir, não se prenda a ele, deixe que vá embora. Tente manter a atenção no momento presente.

Referência: Meditação e espiritismo, de Cesar Braga Said e Sylvia Vianna Said, Ed. Infinda.