Enfrentando a tempestade
Por Umberto Fabbri*
Alguns momentos de nossas vidas nos trazem surpresas avassaladoras. E sentimos nossas estruturas íntimas se abalarem, como se uma grande tempestade em escalas altíssimas chegasse de surpresa, sem avisar. Um fato alheio à nossa vontade, não programado, insuspeitável, vira nossa vida de cabeça para baixo e nos falta o chão...
De chofre, ficamos anestesiados, perdidos, sem reação, mas Deus em sua grande sabedoria nos dotou do instinto de sobrevivência que nos leva a buscar saídas, a nos manter em alerta. Todavia, este mesmo instinto de conservação precisa ser controlado por nossa razão e inteligência, elementos aliás que só conquistamos depois de um bom tempo e lutas enormes em nossos estágios como princípio inteligente, e posteriormente adentrando ao reino hominal, sendo chamados a novas e grandes experiências, a fim de desenvolvê-las.
Em um primeiro momento, nossos instintos têm a prerrogativa de nos manter vivos, todavia é a inteligência que deve tomar o comando; bem alinhada com as Leis Divinas nos poupam de muitos erros.
Howard Gardner elabora a teoria das múltiplas inteligências, como que dividindo as várias facetas da sabedoria e expertise de nossas capacidades, motoras, criativas, de relacionamentos, etc. Sabedores de que aqui estamos para o perfeito desenvolvimento de várias inteligências, precisamos acionar nossa razão para compreendermos a qual delas neste momento estamos sendo chamados a exercitar, a obter, a conhecer.
As dores e dificuldades, pertinentes ao nosso mundo de expiação e provas, dão o start para utilizarmos ou desenvolvermos as múltiplas inteligências. Algumas já desenvolvemos, mas para a grande maioria de nós uma delas ainda está em pleno desenvolvimento, que é a emocional.
A inteligência emocional, muito bem descrita por Daniel Goleman, na verdade foi muito antes sintetizada por Jesus, no “fazer ao outro o que gostaríamos que nos fosse feito”. Para nós, que ainda a estamos construindo, este preceito nos dá um norte seguro para nossas ações. O grande problema é que temos a bússola guardada no bolso e não a utilizamos, nos perdendo sempre que deixamos o medo, a maledicência, a falta de caridade, a desesperança guiar nossos pensamentos e atitudes. Mas ela pode ser retirada do bolso e passar a nos guiar pelos caminhos das incertezas, ansiedades, instabilidades, mesmo porque precisamos, para crescer, sair da zona de conforto, caminhar, seguir viagem, resignificando nossos valores e potencialidades.
“É necessário que tudo se destrua, para renascer e se regenerar; porque a isso que chamais de destruição não é mais do que a transformação.” Esta questão de O livro dos espíritos1 nos mostra racionalmente, que tudo na vida é impermanente, tudo, absolutamente tudo que nos cerca se transforma sempre, sob a égide divina e nela devemos confiar.
Não podemos esquecer que estamos todos no mesmo barco, enfrentando uma grande tempestade.
Confiar de forma absoluta no condutor do barco, mesmo no meio da tempestade, é o que chamamos de fé. Para fazer o melhor e auxiliar os outros companheiros, que enfrentam conosco a tempestade, precisamos desenvolver a caridade; para aceitar que a tempestade não pode ser controlada por nós, é necessária a resignação; para utilizar de todos os meios, aliando nossa inteligência a outras inteligências, e mantermos a integridade física e emocional de todos no barco, se faz indispensável a união; para tratar com simpatia, mesmos aqueles que divergem de nossas opiniões de como enfrentar a tempestade, é imperativo o respeito.
Nenhuma tempestade dura para sempre, mas os efeitos de nosso comportamento enquanto a enfrentávamos se refletirão em nossa consciência e na Lei de Ação e Reação. Portanto, seja um bom marinheiro e faça o melhor com os recursos que você tem, lembrando que o barco não está à deriva, mas nos tirando de nossa zona de conforto, provando as virtudes que pensamos já possuir.
Allan Kardec, questão 728.
*Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor de diversos livros espíritas, dentre eles: O traficante (pelo espírito Jair dos Santos) O político (Adalberto Gória) e Bastidores de uma casa espírita (Luiz Carlos), ed. Correio Fraterno.