Suicídio por obsessão

Um espírito obsessor pode levar uma pessoa ao suicídio? — Lucimara Alves, Andradina, SP.

Por Redação

Sim, mas isso não exime o suicida da responsabilidade pelo ato, pois ele dispõe sempre do livre-arbítrio para ceder ou resistir às sugestões a que é submetido.

 Allan Kardec traz essa explicação no livro O céu e o inferno, que reúne depoimentos de vários espíritos sobre suas passagens para o mundo espiritual, o momento da desencarnação e os desafios da adaptação para a vida sem o corpo físico.

Através de entrevistas com espíritos elevados, medianos e inferiores, Kardec separa em um capítulo a pesquisa que fez com espíritos suicidas, dentre os quais Antoine Bell, que dizia ter sido levado por um obsessor ao suicídio. Ele era o caixa de uma casa bancária do Canadá e suicidou-se em fevereiro de 1865.

Um dos correspondentes da Revista Espírita, médico e farmacêutico residente na mesma cidade, informava que ele era um homem tranquilo e chefe de numerosa família. Dizia que havia comprado um ‘tóxico’ na sua farmácia, servindo-se dele para envenenar alguém. “Muitas vezes vinha suplicar-me para lhe dizer a época de tal compra, tomado então de alucinações terríveis. Perdia o sono, lamentava-se, batia-se no peito. A família vivia em constante ansiedade.

Antoine Bell foi evocado em Paris, em abril de 1865 e, dizendo que tinha horror ao crime praticado e que estava arrependido, contou:

— Um espírito obsessor e vingativo, que não era outro senão o pai da minha vítima, se apoderou de mim e fez reviver no meu coração, como em mágico espelho, as lembranças do passado. Fascinado por ele, deixei-me arrastar para o suicídio.”  

Antonie revelou que na penúltima encarnação amava uma moça, mas que ele, pobre, foi repelido pela família. Ao ser avisado de que ela se casaria com o filho de um negociante, louco de dor, resolveu acabar com a vida, não sem deixar de assassinar o rival no dia do seu casamento.

 Na sessão em que foi evocado, Antonie pede que orem para que o espírito que o obsidiou renuncie à sua vingança, e também por ele, para que tenha forças para não ceder novamente à prova do suicídio voluntário, a que seria ainda submetido na próxima encarnação.

Evocando o guia do médium,  Kardec então pergunta se um espírito obsessor pode, realmente, levar o obsidiado ao suicídio. E obtém como resposta:

— Certamente, pois a obsessão que, de si mesma, já é um gênero de provação, pode revestir todas as formas. Mas isso não quer dizer isenção de culpa, porque o homem sempre dispõe do seu livre-arbítrio para ceder ou resistir às sugestões a que o submetem.

O guia explica também que o espírito que tem a ação instigada por outrem é menos culpado e repreensível do que quando ela é voluntariamente cometida. Mas nem por isso se inocenta de culpa, porque, afastando-se do caminho reto, mostra que o bem ainda não está em seu coração.

O guia do médium responde como, apesar da prece e do arrependimento terem libertado esse espírito da visão tormentosa da sua vítima, pôde ele ser atingido pela vingança de um obsessor na última encarnação:

— O arrependimento é apenas a preliminar indispensável à reabilitação, mas não é o bastante para libertar o culpado de todas as penas e que não bastam promessas; é  preciso a prova, por atos, do retorno ao bom caminho. O espírito é submetido a novas provações que o fortalecem, resultando-lhe um merecimento ainda maior quando delas sai triunfante. Ele só sucumbe com a perseguição dos maus, dos obsessores, enquanto estes não o encontram suficientemente forte para resistir-lhes.