A origem da data do Natal
Quem estabeleceu a data do nascimento de Jesus e quando foram iniciadas as festas de Natal? - Maria Silvia Almeida, Itupeva, SP
Por Eliana Haddad
Essa mesma pergunta sobre a data do nascimento de Jesus foi feita por uma ouvinte do programa de rádio No Limiar do Amanhã, realizado pelo professor e filósofo J. Herculano Pires na década de 1970. Ele respondeu que esta definição era um dos problemas mais curiosos. “Sabemos que a data do Natal deu muito trabalho para a Igreja. Houve muitos debates a respeito. Uns queriam que Jesus tivesse nascido em abril ou fevereiro, e outros queriam adotar o 25 de dezembro, a data dedicada às festas solares da Antiguidade”, informou.
Herculano lembrou que as festas de natal haviam sido iniciadas há muitos e muitos séculos, muito antes da vinda de Jesus. “O dia 25 de dezembro sempre foi dedicado às comemorações do messias. O messias, não no sentido judaico, mas no sentido das antigas civilizações agrárias, as civilizações do Oriente, em que a natureza sempre predominava. Comemorava-se o Advento do Sol, a volta do Sol após o inverno. Passado o inverno – estação durante a qual parecia que o mundo havia morrido e estava sepultado na neve –, o Advento representava a renovação da vida, sendo o Sol aquele que trazia as messes, trazia novamente as safras, as colheitas, a vida e, portanto, era o messias. O natal, portanto, era o culto do nascimento do Sol, considerado deus nas antigas civilizações.
A resposta de Herculano também incluiu a observação de que, com o advento do cristianismo, houve naturalmente uma tentativa de se modificar essa comemoração, pois a Igreja cristã primitiva não se importava com esses assuntos. “No início da Idade Média, tornando-se um grande poder substitutivo do Império Romano, a Igreja católica se interessou em estabelecer um novo calendário de festas religiosas, que não fossem as mesmas comemoradas pelos pagãos, fato que acabou gerando grande resistência às modificações”, destacou Herculano. “Diante da resistência, e não se tendo a data exata do nascimento de Jesus, a Igreja determinou que se adotasse a mesma data do calendário pagão, atribuindo o nascimento de Jesus ao dia 25 de dezembro, sustentando, portanto, uma tradição de muitos milênios das civilizações antigas”, complementou.
Herculano Pires disse que via tal resolução como uma atitude até providencial, porque o dia 25 de dezembro, assim impregnado de vibrações de adorações a Deus, vindas de povos da mais alta Antiguidade, das profundezas dos tempos, passou a figurar no cristianismo com o mesmo sentido, canalizando para a Era Cristã também essas vibrações espirituais através dos milênios. “Houve uma ligação que me parece justa, porque esses povos antigos estavam caminhando realmente para a compreensão cristã. A evolução humana é sempre a mesma. Os povos modernos se constituem em grande parte daqueles mesmos espíritos que encarnaram nesses povos antigos. (...) E, assim, não tendo sido vencidas pela igreja, as tradições pagãs continuaram a comemorar as festas de Natal.”
Herculano também se referiu em um dos seus programas à questão do ano em que Jesus havia nascido. Explicou que um monge católico italiano, matemático e historiador, chamado Dionísio, o Curvo, ou Dionísio, o Pequeno (c.470-c.544), tentou fazer os cálculos para estabelecer o evento.
Ele comenta que, entretanto, por mais que houvesse se esforçado, o monge teria se enganado em quatro anos na fixação da data. Ou seja, segundo consideram os pesquisadores, Jesus teria nascido quatro anos antes da era cristã, determinada pela Igreja. A oficialização do calendário foi instituída no século IV, pelo papa Julio I.
O último programa foi ao ar em 9 de março de 1979, dia da desencarnação de Herculano. Todos os programas estão disponíveis no site da Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires - www.fundacaoherculanopires.org.br