Jonathan

Por Maria Mener

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Jonathan, o pastor é o último livro da série Às margens do Eufrates, psicografado pela médium Dolores Bacelar, que desencarnou em 2006.

Jonathan é o epílogo exuberante. É o pêndulo a oscilar entre romance e história. Leva-nos a perguntar: aonde você vai nos levar? Uma enorme surpresa! Em Jonathan, a surpresa é deixada para o fim. Ele não aludiu a ela nem induziu a qualquer conclusão, guardou segredo. Estava sobre o Tabor, um dos mais altos montes da cordilheira da Galileia. Ali, Jonathan encontrou o Caminho, a Verdade e a Vida. E esse encontro nos emociona.

Ao narrar o destino final do  pastor Jonathan, como o seu próprio, ele mostra a sua grandeza de autor: conta-nos tudo de imprevisto, em menos de uma página, provando que tinha o controle completo da narrativa; como nos outros livros da série. Pedimos mais. Temos fome e sede. Porém, acabou.

Sua obra é a beleza. É primavera com vento soprando, de leve, em várias direções. Ele não escreve sobre o mundo espiritual. Nunca escreveu. Há outros autores cumprindo esse papel. Em todos os seus livros, conhecemos a História. A antiga, pois Josepho viu e viveu tudo, desde o começo. Foi capelino, inca, asteca, maia, australiano, indiano... No volume I da série, O alvorecer da espiritualidade, por exemplo, conta até sobre o Dilúvio de Noé, do qual foi vítima. Neste livro, desvenda a sua origem: “Partimos juntos, há milênios, do paraíso que perdemos... lembras-te, irmão?”– pergunta Javan a Josepho. “Deixamos no ponto sul do Infinito, a fulgir na glória divina de um novo impulso evolutivo, o nosso mundo, Capela. Tu desesperavas, inconformado com a deliberação imposta pelos dirigentes do Cosmos; eu chorava arrependido de não ter ouvido a voz do Amor...”.

No volume seguinte, era filho de assírio com escrava judia. Na poderosa Assíria, desaparecida dos nossos mapas geográficos, foi príncipe e rei. “Acode-me à mente certo dia, quando fitando o sol, caiu-me a máscara de quantas personalidades vivenciadas nos palcos da Terra. E ao relembrá-las, tão falsas e mentirosas, tão desumanas e artificiais, senti-me menos que um átomo ante a pureza, a benignidade solar. Quando eu poderia ser semelhante a um dos seus minúsculos raios... Quando?” – assim nos escreve.

Em Jonathan, conhecemos, primeiramente, João Batista, o precursor. De perto. É-nos permitido até ver a cor de seus olhos: “o olhar, de um azul intenso, refletindo a chama do Amor divino que o mantinha acima do normal dos homens”. Seus pensamentos? Também nos é dado conhecer. Isso, na prisão; aguardando o que Herodes e sua cunhada e amante, Herodíades, preparavam-lhe. O vigor da escrita de Josepho mescla-se à veemência de João. Um aplainou o caminho para a tarefa de Jesus. O outro, tenta aplainar os nossos caminhos, desviar-nos dos obstáculos.

Enquanto o Batista espera o veredicto, Josepho nos entretém com a saga de Jonathan e seu filho Daniel. O velho pastor convivera com o Menino Jesus. Fora seu vizinho. Amava-o. O destino os separou, e Jonathan vive de um sonho; reencontrá-lo.

O Evangelho é o alicerce do livro, aliás, de toda a obra. O Novo e o Velho Testamento. Cita Isaías, Malaquias, Lucas, João... A cada frase nos ensina, nos alerta. Adverte com a experiência de quem muito errou e sofreu as conseqüências inevitáveis da Lei de Causa e Efeito.

Psicografar a abundância contida no arquivo mental de Josepho, aponta-nos a grandeza da capacidade mediúnica de Dolores Bacelar. Ela se foi. Já ele despediu-se, avisando que era o seu último livro. Resta prestar detalhada atenção a que nos legou, e rogar que um dia volte a encher mais páginas de luz.

Jornalista, crítica literária brasileira, que atualmente mora em Hamburgo, na Alemanha.

Uma curiosidade sobre o autor:

Josepho é um nome bastante citado entre os historiadores e estudiosos do desenvolvimento da nossa civilização. Eles se baseavam em seus escritos, do século I. Será o mesmo? Ambos demonstram a mesma tendência para a história e muito conhecimento da matéria. Talvez a médium Dolores Bacelar soubesse. Não que seja necessário que ambos sejam o mesmo. Uma curiosidade apenas.

 

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