A morte e o seu mistério

Camille Flammarion: nos cem anos de sua desencarnação, o reconhecimento por seu trabalho, como um dos iniciadores da ciência experimental espírita

Por Abel Sidney*


Camille Flammarion (1842–1925), astrônomo francês, divulgador da ciência e amigo de Allan Kardec, mereceria mais ampla cobertura jornalística nos seus 100 anos de desencarnação. O seu trabalho como pesquisador psíquico é digno de louvor, seja pelo rigor empregado em suas investigações, seja pela coragem em colocar em risco o seu prestígio no mundo científico.

A sua obra literária mais profunda e consistente foi A morte e o seu mistério, uma sequência de três volumes, com mais de mil páginas, publicadas entre 1920 e 1922.

No início da obra ele nos propõe questões que vêm atravessando os milênios: Qual é a nossa verdadeira natureza? Qual é o nosso futuro destino? Somos apenas chamas efêmeras brilhando um instante antes de nos extinguirmos para sempre? Não tornaremos mais a ver os que amamos e que nos precederam no túmulo?

Para ele, “existe no homem outra coisa além daquilo que se vê, se toca ou se pesa”, havendo, portanto, fartas evidências em favor da “existência da alma humana, independente do organismo corpóreo”.

Ao final da obra, após trazer sólidas argumentações em torno da questão da sobrevivência espiritual além da morte, ele reconhece ter aberto uma “rota da ciência nova”, que podemos denominar de ciência experimental espírita, que mais e mais se torna robusta, a despeito dos preconceitos humanos. Em síntese, ao final, eis a conclusão que nos traz alento: “O corpo passa. A alma vive no infinito e na eternidade.”

Uma carta dirigida ao célebre “astrônomo e pensador”, por uma viúva espanhola, cujo filho desencarnara em 1907, situa a importância das investigações, para além do mundo científico: “Diga-me, suplico-lhe de joelhos, se as almas sobrevivem, se posso conservar a esperança de tornar a ver meu filho e se ele me vê! Existirá algum meio de comunicar com ele?”

Não existiria um propósito maior, por meio da ciência psíquica, justificando todos os esforços, como o de nos orientar e, ao mesmo tempo, consolar a respeito da morte e do nosso destino no além?

Para Flammarion, reunir dados, por meio de um rigoroso método experimental, poderia ir além da mera hipótese da sobrevivência da alma. Fatos bem documentados e observações consistentes seriam capazes de abrir caminho a uma convicção racional.

Importa para encerrar, como no caso da viúva espanhola, apreciarmos o quanto a ciência experimental espírita, bem conduzida, pode curar feridas, consolar corações e trazer a esperança do reencontro com os entes queridos após a morte.

* Abel Sidney é escritor, educador, colaborador da causa espírita em Porto Velho e trabalha no Centro Espírita Irmão Jacob. Autor de Lições de um suicida: um estudo do clássico Memórias de um suicida (Allan Kardec) e coautor de O mistério da cabana (FEB).