Em busca de um melhor atendimento aos espíritos

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Por Eliana Haddad

Para um atendimento bem-sucedido

Tarefa das mais desafiadoras das casas espíritas, as reuniões de desobsessão exigem equipe sintonizada no Bem, instrutores amorosos e esclarecidos, médiuns disciplinados, estudo, humildade e muito, muito amor.

 
O psicólogo e escritor Jáder Sampaio, em simpósio realizado no último 21 de setembro, no Centro Espírita Pátria do Evangelho (Lar da Criança Emmanuel), em São Bernardo do Campo, SP.Durante o evento, o pesquisador explicou como as teorias da psicolog…

O psicólogo e escritor Jáder Sampaio, em simpósio realizado no último 21 de setembro, no Centro Espírita Pátria do Evangelho (Lar da Criança Emmanuel), em São Bernardo do Campo, SP.

Durante o evento, o pesquisador explicou como as teorias da psicologia humanista podem auxiliar as conversas com os espíritos nas reuniões mediúnicas.

Talvez seja a atividade que mais retrate a relevância da máxima de Allan Kardec: “fora da caridade não há salvação”, por exigir todos os sentimentos que a envolvem: a humildade, a compaixão, a benevolência, a atenção, a escuta fraterna. Trata-se de trabalho espiritual de extrema seriedade e responsabilidade, onde cada um dos participantes da reunião desempenha papel essencial, principalmente na comunhão de pensamentos, na sintonia com a equipe espiritual, para que possa se estabelecer uma ponte de confiança, para que todos se coloquem em posição de auxílio. 

Exige experiência? Sim. Mas, muito mais que isso, exige amor. “Obsessores encarnados que eram, são obsessores desencarnados e agem sem serem vistos. Afastá-los pela força não é fácil, visto que não se pode lhes apreender o corpo. O único meio de dominá-los é o ascendente moral, com cuja ajuda, pelo raciocínio e sábios conselhos, chega-se a torná-los melhores, ao que são mais acessíveis no estado de Espírito que no estado corporal”, explica Allan Kardec. 

Gente como a gente

Obsessores não são demônios, criados para fazer o mal. Não são pessoas más, mas pessoas que – como todos nós – se enganam, se decepcionam e se revoltam, por resistências morais e falta de conhecimento das leis divinas. E ainda: muitos até conhecemos as leis, mas temos enorme dificuldade em praticá-las. Por isso, Kardec observa também que não nos devemos admirar mais das obsessões do que das doenças e outros males que afligem a humanidade. Elas fazem parte das “provas e das misérias” devidas à inferioridade do meio onde vivemos, atraídos ainda que somos por nossas imperfeições, até que estejamos suficientemente melhorados para merecer dele sair. Ou seja, se há imperfeições, há obsessões, e as reuniões mediúnicas são umas das formas de socorro e atendimento.


O papel da reunião mediúnica

Várias dúvidas, no nosso meio,  são levantadas em função da necessidade das reuniões de desobsessão. Por que o espírito desencarnado não pode ser atendido diretamente no plano espiritual? 

Primeiramente, é preciso lembrar que quanto mais ligado à matéria, maior o sofrimento do espírito. Por isso, o contato com o mundo material permite um ambiente mais propício para quem, por exemplo, nem percebeu ainda que já não está mais com seu corpo físico entre os ‘vivos’. Fica mais fácil compreender o ‘choque’ da transição. Outro aspecto importante é que eles também acabam por auxiliar os membros da reunião, despertando-lhes a compaixão, mostrando-lhes a consequência de enganos que também cometemos, em função do grau evolutivo em que se encontram. A desobsessão, assim, seria muito mais uma oportunidade de troca, do que a submissão de inferiores a superiores.


Estudo sobre casos de obsessão

Casos que esclarecem e emocionam foram comentados por Allan Kardec na Revista Espírita e por seus contemporâneos ao estudarem os problemas das obsessões. 

Também foram temas amplamente analisados por Bezerra de Menezes, Herminio C. Miranda, André Luiz (Chico Xavier), J. Herculano Pires, Yvonne Pereira e tantos outros expoentes espíritas. 

Recentemente, o psicólogo, também espírita, Jáder Sampaio, desenvolveu um trabalho sobre o tema, reunindo suas experiências de mais de 30 anos de reuniões mediúnicas em Belo Horizonte, MG, em seu livro Conversando com os espíritos (Lachâtre), no qual compartilha os conceitos de Carl Rogers (1902-1987) como instrumentos que podem auxiliar o atendimento aos espíritos. Psicólogo americano, Rogers traz uma abordagem diferente, recusando identificar a pessoa em terapia como paciente ou doente e apontando a importância da relação sem posição de hierarquia. 

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No final de sua vida, Rogers teve experiências pessoais com a mediunidade. E ele entendia que havia três pontos-chave para uma relação de ajuda bem-sucedida: a compreensão empática, a aceitação positiva incondicional e a congruência, passos para o sucesso no diálogo também com os Espíritos, que nos lembram da importância de reconhecermos os sentimentos, emoções e desejos do espírito, da necessidade de nos colocarmos no lugar dele para sabermos melhor sobre a sua dor, de criarmos um espaço para que ele possa falar o que pensa e sente, sem medo de ser advertido, para que repense a sua situação e deseje mudá-la. 

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Herminio C. Miranda em Diálogo com as sombras destaca que ainda há muito por se fazer e aprender nesse intercâmbio com os espíritos. "Há um universo a explorar. Há uma humanidade inteira clamando por ajuda, esclarecimento, compreensão e caridade no chamado mundo espiritual. Seus dramas e suas angústias não são apenas individuais. Os erros que cometemos prendem-nos a uma cadeia de fatos e de seres que se estende pelo tempo afora. Nunca o drama de um Espírito é apenas seu".

Empatia
Empatia não é a mesma coisa que simpatia. Significa entender como o espírito vê a forma de funcionamento do mundo e tentar colocar-se em seu lugar. Com isso, temos que ter um bom contato com nosso mundo interior, e perceber que talvez estivéssemos na mesma condição dele, se tivéssemos passado pelo que ele passou.

Aceitação incondicional
Não somos juízes, nem estamos conversando para avaliar a conduta deles. Tentamos criar um espaço para que possam falar o que pensam e sentem, sem medo de serem advertidos. Possivelmente, outras pessoas e eles próprios já se culpabilizaram por sua conduta, mas isso não foi suficiente para que se dispusessem a agir de forma diferente.

Congruência
Que reações o espírito comunicante provoca em nós, atendentes? Que sentimentos ele nos desperta? Pena? Medo? Ser capaz de reconhecer o que ele nos provoca é como ele age com as pessoas. E isso possibilita sinalizarmos como ele aparenta ser, como se mostra. Ao sermos capazes de conversar sobre a realidade, sem cobranças, ele poderá reavaliar o que vem fazendo. Isso serve para a maioria dos espíritos em condição de sofrimento ou os que agem a partir do ódio ou da vingança, seja com humor alterado ou friamente.

(Publicado no Jornal Correio Fraterno, edição 489)