Chico Xavier e a carruagem de Castro Alves em Brasília
Com mais de 450 livros publicados em diversos idiomas e que já venderam mais de 50 milhões de exemplares, com todos os direitos autorais cedidos, Chico Xavier marcou a história recente do espiritismo, principalmente no Brasil. Todos os anos, em 2 de abril, os espíritas lembram do nascimento do médium mineiro, em 1910, em Pedro Leopoldo, MG.
Referência pelas milhares de cartas consoladoras que psicografou, foi também por sua mediunidade que surgiram inúmeras mensagens de poetas brasileiros e portugueses famosos, cujas produções se encontram em Parnaso de além-túmulo, FEB, lançado em 1932. O livro provocou alvoroço no mundo literário à época, afinal muitos se perguntavam como um ex-vendedor, tecelão e datilógrafo, apenas com o curso primário, poderia ter dado continuidade com precisão de estilo ao legado de tantos poetas mortos.
Observado, estudado, analisado, criticado e idolatrado, enfim, Chico Xavier é tema sempre lembrado quando o assunto é mediunidade e caridade. Teve uma vida simples que foi marcada por histórias interessantes, que envolvem tanto jornalistas, políticos, artistas e escritores como muita gente amiga que com ele conviveu.
Nena Galves, por exemplo, no livro Chico Xavier, luz em nossas vidas, Ed. CEU, conta várias passagens desse convívio amigo com o médium mineiro. Em uma delas, a autora relata que, em abril de 1976, Chico foi convidado a participar do VI Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores Espíritas, em Brasília, quando recebeu o poema ‘Encontro em Brasília’, de Castro Alves (1847-1871)
O encontro reuniu mais de 20 mil pessoas no Ginásio Nilson Nelson e a emoção tomou conta de todos. Castro Alves falou sobre o Brasil.
Terminado o evento, no caminho de volta, no carro em que estavam, Nena escreve que Chico contou-lhes a visão que antecedeu a mensagem recebida:
– Quando Castro Alves entrou no recinto, as paredes se abriram para dar passagem a uma carruagem com quatro cavalos, dirigida por ele. A carruagem estava envolta em luz, o recinto e o palco ficaram inundados da luz emanada de Castro Alves e da carruagem. O amor dele para o Brasil e o espiritismo promoveram um belíssimo espetáculo.
O berço da Renascença
Era um viveiro de sóis
Consagrado ao pensamento
De gênios, santos e heróis.
Nas retaguardas medievas,
Jaziam agora as trevas
De Átila a Tamerlão;
Entre as cinzas das Cruzadas,
Multidões desesperadas
Pediam renovação.
Aos gritos da Humanidade,
Cansada de grandes réus,
Sanando a angústia dos povos,
Explodiam tempos novos,
Vinham respostas dos Céus...
Na Europa aflita e insegura,
Dante ilumina a cultura,
Gutemberg amplia a escola,
Ante a fé, Savonarola
É o novo facho a brilhar;
Copérnico estuda e espreita,
Da Vinci é a forma perfeita,
Colombo é o poder no mar...
No entanto embora o progresso
Anunciando o porvir,
Não se via no horizonte
Réstia de paz a surgir;
Discórdia ferindo o mundo
Era tormento infecundo,
Intérmino vendaval
Pelas fornalhas da guerra
O ódio agitava a Terra
Em luta descomunal.
Foi então que a Voz do Alto
Conclamou no Imenso Azul:
“– Descobre-se no planeta
Novo Lábaro no Sul!...
Povo heroico se levante
Sobre o maciço gigante,
Marcado a estrelas no além;
Obreiros de mãos armadas
Levantarão nas estradas
O Reino do Eterno bem."
Surgia o Brasil nascente
Nos braços de Portugal
Que lhe deu, ao pé dos Andes,
Visões de altura imortal!...
Chega ilustre caravana,
Lisboa é a voz soberana,
Tomé de Souza conduz;
No entanto, entre os companheiros,
O armamento dos obreiros
Era a mensagem da Cruz.
O ensinamento de Cristo
Faz-se verdade e clarão
Nas forjas em que se erguia
O País em ascensão.
Nóbrega, Anchieta, Gregório
Espalham no território
O Evangelho do Senhor
E o Brasil grava, na história,
A fé cristã por vitória,
Traduzida em paz e amor.
Nos domínios do Universo,
Ninguém evolui a sós,
A humanidade na Terra
É a soma de todos nós.
Mas, de olhar alçado aos cimos,
Por súplica repetimos,
Em Brasília, aos céus de luz:
" – Brasil de perenes brilhos,
Pela união de teus filhos,
Deus te conserve em Jesus."
(De Castro Alves, psicografia de Chico Xavier, abril de 1976.)