Álcool: mitos e verdades em tempos de coronavírus

Por Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo*

“Consciência é a parte da psique que se dissolve em álcool.” - H. D. Lasswell

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Coisas ruins e boas continuam acontecendo no Brasil, enquanto estamos vivendo e sendo surpreendidos pela pandemia do coronavírus.

O isolamento social atualmente vigente em razão das medidas necessárias à contenção do coronavírus, com bares e outros estabelecimentos comerciais fechados e muitas pessoas passando mais tempo em casa, vem sendo acompanhado de um aumento expressivo no consumo de álcool e de outras drogas por parte da população.

Conforme pesquisa da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), houve uma alta de 38% nas vendas em distribuidoras de bebidas e de 27% nas lojas de conveniência desde a decretação da pandemia.

Isso se reflete no aumento de busca por ajuda, conforme apontam as organizações de mútua-ajuda como Alcoólicos Anônimos (AA) e Narcóticos Anônimos (NA) e também as reuniões de recuperação, em um novo modelo (online), que cresceram expressivamente no Brasil. Ainda segundo o AA, também aumentaram os pedidos de informação por e-mail, que passaram de cinco, em média por dia, para 12,5.

Os impactos do consumo excessivo de álcool, considerando os efeitos no sistema imunológico e na saúde física e mental dos indivíduos, levaram a Organização Mundial de Saúde (OMS) a recomendar que os países limitem a venda de bebidas alcoólicas durante a pandemia da Covid-19, orientação que não foi seguida pelo Brasil (fora fechamento de bares e demais estabelecimentos comerciais em razão do isolamento).

Um dos desdobramentos desse consumo se reflete no acréscimo de casos de violência doméstica. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) realizou levantamento, no qual, embora seja observada uma diminuição nos registros de boletins de ocorrência de casos de violência doméstica, o número de mortes de feminicídio aumentou.

Importante também lembrar e desmistificar: o consumo de álcool não protege de forma alguma contra a Covid-19 nem previne que você seja infectado pelo vírus.

Há relatos de que já houve em alguns países mortes relacionadas à ingestão de diversos produtos alcoólicos (inclusive detergentes e produtos de limpeza) em função da pandemia, com base na crença equivocada de que eles, de alguma forma, oferecem proteção contra o vírus.

Fatos e fakes
Pesquisas de especialistas em saúde, coordenadas pela Organização Mundial da Saúde – OMS 1 apuraram alguns mitos sobre o consumo de álcool e a Covid-19, tais como:

O consumo de álcool destrói o coronavírus.
Fato: O consumo de álcool não destrói o vírus que causa a Covid-19 e provavelmente aumenta os riscos para a saúde se a pessoa contrair o vírus. O álcool (a uma concentração de pelo menos 60% por volume) funciona como um desinfetante para a pele, mas não tem esse efeito dentro do seu organismo quando ingerido.

Bebida alcoólica forte mata o vírus inalado no ar.
Fato: O consumo de álcool não mata o vírus inalado no ar, não desinfeta a sua boca e garganta nem oferece nenhum tipo de proteção contra a Covid-19.

O álcool estimula a imunidade e a resistência ao vírus.
Fato: O álcool tem um efeito nocivo sobre o sistema imunológico e não estimula a imunidade nem a resistência ao vírus. O que sabemos é que o álcool afeta, tanto a curto como a longo prazo, quase todos os órgãos do corpo, e seu uso excessivo debilita o sistema imunológico, reduzindo sua capacidade de enfrentar doenças infecciosas.

De modo geral, as evidências indicam que não existe um “limite seguro” de consumo. Realmente, o risco de danos à saúde aumenta com cada unidade de álcool consumida e pesquisas indicam que, mesmo em quantidades muito pequenas de consumo, ele é causador de certos tipos de câncer. Também se sabe que o seu uso excessivo aumenta o risco da Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA), uma das complicações mais graves da Covid-19.

(1) https://www.uniad.org.br/wp. Com bases em documento elaborado por Maria Neufeld, consultora do Escritório Europeu da OMS.

Álcool, mulheres e envelhecimento
Pesquisa elaborada pelo departamento de psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo alerta que mulheres estão bebendo mais do que os homens ou tanto quanto eles. Reportagens sobre a questão do álcool mostram que mulheres, tanto sozinhas quanto acompanhadas de parceiros ou amigas, afirmam que a bebida alcóolica as deixa mais à vontade, desinibidas e relaxadas. Muitas ainda dizem preferir bebidas mais fortes, evocando a igualdade de direitos para homens e mulheres. As mulheres estão mais libertas das amarras das opressões sociais. Estão sendo mais felizes? Em décadas anteriores, para cada sete homens que bebiam encontrava-se apenas uma mulher; hoje a média está em torno de 1,5 homens para uma mulher. Existe outro ponto importante que talvez muitos ainda não tenham se dado conta. Beber demais causa envelhecimento precoce. De acordo com estudos dos pesquisadores da Universidade de Milão, também apresentados na conferência anual da Associação Americana de Pesquisa do Câncer, a bebida acelera o processo natural de envelhecimento das células e pode também aumentar as chances de desenvolvimento de câncer.

O risco da dependência química

Outro dado interessante que as pesquisas apontam é que quanto maior o grau de instrução, maior o consumo de bebida alcoólica.

Hipócrates (460 -377 a.C.), considerado o Pai da Medicina, o mais célebre médico da Antiguidade e o iniciador da observação clínica, afirmava: “Antes de curar alguém, pergunte-lhe se está disposto a desistir das coisas que o fizeram adoecer”.

É muito triste quando alguém fica com apenas uma ideia na cabeça – a ideia de beber, porque nada mais lhe dá prazer. E aqui há de se considerar as influências espirituais, lembrando-se que a mais difícil obsessão de ser tratada é a fascinação ( veja quadro), motivo que justifica plenamente o médico grego ter aconselhado perguntar se a pessoa deseja se curar.

A verdade é que, pelas mais recentes estatísticas, para cada dez pessoas que consomem álcool, uma vai se tornar dependente química dele. É claro que, quando toda a sociedade abusa do consumo de álcool, mais esse número cresce. E sabe-se que a dependência química é uma doença física (a compulsão no organismo e a síndrome de abstinência) e psíquica (a ideação de uso, ou seja, a obsessão pelo consumo).

Muitos desconhecem os efeitos nocivos do álcool no organismo e na mente. Há psicólogos, médicos e professores recebendo tratamento clínico por que, mesmo sabendo, não acreditaram nos perigos do alcoolismo.

É bem fácil pedir a Deus para nos livrar das tentações, difícil é vigiar a si mesmo, afinal somos o inimigo mais perigoso que podemos encontrar pela frente, em função ainda das nossas más tendências e imperfeições.

Ninguém nasce perfeito e sabemos que há uma escalada evolutiva para se atingir a perfeição. Pode-se até dizer: “Ah, mas Jesus era perfeito”. Isso só foi possível porque ele também fez a sua escalada em milênios, em outros mundos; ele era um ser “extraterrestre” para nós. Somos todos seres ainda imperfeitos, mas criados com todas as potencialidades do Bem, destinados à perfectibilidade estabelecida por Deus. A nossa finalidade é viver diversas experiências para que possamos desenvolver o conhecimento e o amor para que nos conscientizemos de todas oportunidades de descobrirmos a beleza e a misericórdia do maior desígnio de Deus: a felicidade de todos.

O perigo da fascinação
Em O livro dos médiuns, o problema da obsessão é explorado em seus detalhes, mostrando-se como se dá esse controle que alguns Espíritos exercem sobre certas pessoas. “Nunca é praticada senão pelos Espíritos inferiores, que procuram dominar. “Os bons Espíritos nenhum constrangimento infligem”, já logo inicia Kardec no item 237, em capítulo especial da obra sobre o assunto. “Os bons aconselham, combatem a influência dos maus e, se não os ouvem, retiram-se. Os maus, ao contrário, se agarram àqueles de quem podem fazer suas presas. Se chegam a dominar algum, identificam-se com o Espírito deste e o conduzem como se fora verdadeira criança”, explica. A obsessão apresenta caracteres diversos, cujas principais variedades são: a obsessão simples, a fascinação e a subjugação. Conforme alerta Kardec no item 239, a fascinação tem consequências muito mais graves. É uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium e que, de certa maneira, lhe paralisa o raciocínio. O fascinado não acredita que o estejam enganando: o Espírito tem a arte de lhe inspirar confiança cega, que o impede de ver o embuste. (...) Muito mais graves são as consequências da fascinação. Efetivamente, graças à ilusão que dela decorre, o Espírito conduz o indivíduo de quem ele chegou a apoderar-se, como faria com um cego, e pode levá-lo a aceitar as doutrinas mais estranhas, as teorias mais falsas, como se fossem a única expressão da verdade. Ainda mais, pode levá-lo a situações ridículas, comprometedoras e até perigosas. Para chegar a tais fins, é preciso que o Espírito seja destro, ardiloso e profundamente hipócrita, (...) Por isso mesmo, o que o fascinador mais teme são as pessoas que veem claro. Daí o consistir a sua tática, quase sempre, em inspirar ao seu intérprete o afastamento de quem quer que lhe possa abrir os olhos. Por esse meio, evitando toda contradição, fica certo de ter razão sempre. (Allan Kardec, O livro dos médiuns)

A escola de Hipócrates

O grego Hipócrates (460 a.C.-377 a.C.) foi o mais célebre médico da Antiguidade e o iniciador da observação clínica, considerado o Pai da Medicina.

A escola de Hipócrates ensinava além dos princípios da Medicina, as relações pessoais adequadas entre médico e paciente.

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Antes de Hipócrates o exercício da Medicina estava nas mãos dos sacerdotes de Esculápio, o deus grego e romano da cura. Via-se a doença como o resultado da zanga dos deuses com os homens.

Hipócrates procurava explicação das doenças no mundo que os cercava e não nos caprichos dos deuses. Ensinava que o médico deve observar cuidadosamente o paciente e registrar os sintomas da doença, dando atenção ao aspecto dos olhos e da pele, à temperatura do corpo, ao apetite e à eliminação dos resíduos. Considerou que as doenças resultavam do desequilíbrio entre o que denominou Doutrina dos quatro humores: o sangue, a fleuma (estado de espírito), a bílis (amarela) e a atrabile (bílis negra).

Para ele, todo corpo traz em si os elementos para a sua recuperação. Mas o Também conhecimento do corpo só é possível a partir do conhecimento do homem como um todo.

Uma de suas principais defesas é de que existem pessoas que não podem ser curadas porque não querem abandonar o que as adoeceu. Daí a sugestão de se perguntar primeiro ao doente se ele quer mesmo se curar.

A companhia espiritual
Sendo os espíritos nada mais do que os homens desencarnados, é fácil compreender-se que as relações possíveis entre homens e espíritos, no campo afetivo e mental, permitem as ligações de espíritos viciados com homens de tendências viciosas. Esse novo tipo de vampirismo que surgiu das pesquisas espíritas em meados do século 19. Os problemas da perversão sexual, do alcoolismo, dos tóxicos e das tendências criminosas entram assim numa nova perspectiva, escapando ao círculo fechado da hereditariedade biológica, dos processos endógenos para a abertura dos processos exógenos. As pesquisas de Kardec nesse sentido foram decisivas. O tratamento desses casos tornou-se mais seguro, confirmando-se a teoria pelos fatos de cura, particularmente dos casos considerados incuráveis. Posteriormente, os resultados obtidos nos centros espíritas e em muitos hospitais espíritas deram de sobejo a plena confirmação dessa descoberta ao mesmo tempo assustadora e consoladora.
J. Herculano Pires, Vampirismo, Paideia/1996

*Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é diretor da Editora EME, bacharel em direito, com especialização em dependência química pela USP/SP-GREA.