Jornalista inglês envia mensagem a Rui Barbosa

Estavam numa estação de águas o escritor Rui Barbosa, Ataliba Nogueira (secretário de educação de São Paulo) , e inúmeras senhoras e moças. Corria o mês de abril de 1912. A conversa, alegre, de súbito versou sobre a possibilidade dos fatos espirituais. Rui Barbosa já se encontrava em seus aposentos, recolhido. Alguém, então, lembrou-se das experiências com o 'copinho'. Todos aprovaram a tentativa de comunicação com o Alto. Aproximaram-se de uma mesa, sobre ela distribuíram em forma circular pedaços de papel, cada qual representando uma letra do alfabeto. No centro, colocaram um copo. O genro de Rui Barbosa, o historiador, Antônio Batista Pereira, a um lado, sorria para o grupo. O professor Ataliba Nogueira, porém, dizia que o grupo dedicava-se "a uma espécie de distração, de modo algum consoante com as leis religiosas, porém, que as senhoras praticavam como se fossem inocente jogo de damas".
"Inocente jogo de damas", diz Ataliba Nogueira. Veremos, porém, a que resultados chegaram essas pessoas com o inocente 'jogo'.


Certa noite, porém, Batista Pereira, que assistia à sessão, de pé, disse que o cálice estava denotando alguma inquietação, manifestando ter que revelar algum segredo.


Batista Pereira, então, sentou-se à mesa e, com as moças e senhoras, 'colocou a ponta do dedo sobre o cálice', o qual continuava a percorrer as letras, formando sentenças, cujo significado não dizia respeito a nenhum dos presentes. Verificou-se que era uma mensagem em inglês, dirigida por algum 'espírito' ao ilustre escritor. Batem à porta, Rui Barbosa, de pijama, recebe o papel e fica emocionado:


– "É o estilo dele, o estilo perfeito! E o assunto! O mesmo que conversamos em nossa despedida em Haia." Trata-se de William Stead – explica Rui –, o meu amigo e grande jornalista inglês, cuja morte os periódicos noticiam hoje, no afundamento do navio Titanic.

 Por Jorge Rizzini

Fonte: Escritores e fantasmas, de Jorge Rizzini, Correio Fraterno, 1992.

Obs: William Thomas Stead foi um escritor e esperantista inglês, um dos jornalistas mais polêmicos do Reino Unido na era vitoriana. Seu novo estilo de jornalismo estabeleceu uma forma mais sensacional para o jornalismo atual. Seu trabalho como jornalista mostrou como a imprensa pode ser usado para influenciar a opinião pública e as políticas governamentais.

 

(Publicado no jornal Correio Fraterno - edição 463 maio/junho 2015).

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