Inspiração e mediunidade

Por Izabel Vitusso

Em seu livro Sobrevivência e comunicabilidade dos espíritos1, o escritor Herminio Miranda aborda um dos assuntos que diz lhe exercer grande fascínio: a interferência dos espíritos no processo de criação através da mediunidade. 

Em um capítulo, ele cita inúmeros casos do livro The creative process (O processo criativo)2, do americano Brewster Ghiselin, com depoimentos de intelectuais que contam sobre suas experiências e métodos de criação. 

Herminio lembra que para o espírita é natural compreender que muitas das experiências envolvendo o momento da criação sejam autênticos fatos mediúnicos e anímicos. “As grandes inspirações, quase sempre súbitas como um flash, não são mais que fagulhas divinas, que ateiam o fogo sagrado no qual se funde a obra de arte ou a descoberta científica”, destaca. 

O poeta e pintor William Blake (1757-1827), considerado como um dos maiores poetas ingleses e um dos pensadores mais originais, declarou que alguns de seus poemas lhe vinham sem nenhum preparo prévio, como se lhe fossem ditados. Sobre ele, o poeta inglês William Wordsworth chegou a comentar: “Não há qualquer dúvida de que este pobre homem é um louco; mas há algo em sua loucura que me interessa mais do que a sanidade de Lord Byron e Walter Scott”, igualmente poetas.

Há inúmeros registros também de experiências mediúnicas envolvendo os grandes nomes da música clássica. Mozart confessava não saber de onde nem como vinha a inspiração, mas informava que, em estado de quietude, ouvia linhas melódicas completas e acabadas, que ele ia retendo em sua magnífica memória. 

O poeta Samuel Taylor Coleridge, dizendo-se certa vez indisposto, depois de medicado, adormeceu por cerca de três horas, período em que teve estranhas visões. As imagens levantavam-se diante de seus olhos, como se fossem vivas. Ao acordar, tinha tudo muito claro na memória e se pôs a escrever ansiosamente o poema que lhe ficara na lembrança. Só não foi possível terminá-lo por ser interrompido por uma visita, reconhecendo com tristeza, ao voltar a escrever, que o restante da genial ideia havia se apagado totalmente da memória.

A poetisa americana Amy Lowell declarou certa vez: “Não ouço uma voz, ouço palavras; só que a pronúncia é destituída de som. Parecem ter sido pronunciadas na minha cabeça, mas ninguém as enuncia”. 

Extraindo ainda da obra The creative process, Herminio Miranda reproduz em seu livro o que teria dito o filósofo Friedrich Nietzsche sobre a possibilidade de se comunicar com algo fora dos limites corporais. Nietzsche chegou a perguntar se, ao finalizar o século 19, haveria alguém que pudesse ter uma noção distinta sobre o que os poetas de um dos períodos mais vigorosos queriam dizer quando falavam em inspiração. “Mesmo que se possa guardar o mais ligeiro resquício de superstição, é difícil rejeitar completamente a ideia de que somos simples encarnação, porta-voz ou médium de algum poder superior”, conclui o grande pensador.

Referências:

1 Ed. FEB, 1ª edição 1975.

1 Ed. New American Library.