Therezinha Oliveira: clareza no entendimento e na expressão

Por Rita Cirne*

Uma das vozes mais atuantes do movimento espírita brasileiro fez mais do que divulgar e incentivar o estudo da doutrina espírita. Therezinha Oliveira foi a responsável pela criação de cursos de espiritismo com uma linguagem didática no CEAK, Centro Espírita Allan Kardec, em Campinas, onde trabalhou por mais de 50 anos. Esses cursos foram transformados em livros e também serviram de base para muitas outras casas. 

Com sua facilidade de interpretar textos e tratá-los de forma clara produziu uma rica obra literária que trouxe nova luz para os temas básicos do espiritismo, como mediunidade e reencarnação, e também para os temas evangélicos, deixando uma dos seus maiores legados: a importância da coerência doutrinária nos estudos e práticas espíritas. 

Divulgação do conhecimento

Ela sabia também adaptar-se às mudanças nas formas de divulgação. Começou datilografando as apostilas dos cursos, tirando cópias em mimeógrafo, mas em 2010 já estava criando o blog Therezinha Oliveira onde, embora contasse com apoio técnico, ela mesma respondia aos posts.

Como resultado da dedicação que teve como pesquisadora e estudiosa da doutrina espírita, ao desencarnar, em 28 de agosto de 2013, dois meses antes de completar 83 anos, já havia dado mais de 2 mil palestras em todo o Brasil e no exterior e suas obras ultrapassavam a marca de 700 mil exemplares publicados, sendo 300 mil em livros e 400 mil em livretos. 

Chegada ao campo para o trabalho

Nascida em Cravinhos, no estado de São Paulo, em 2 de outubro de 1930, passou parte da infância em Santos e se mudou para Ribeirão Preto em 1940, após a morte do pai, cidade onde aos 10 anos começou a frequentar as aulas de catecismo espírita no Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo. Em Ribeirão, frequentou a Escola e Biblioteca dos Pobres, que teve como um dos seus fundadores Gustavo Marcondes, também um dos criadores do CEAK. Através de ingressou na mocidade espírita do CEAK, quando mudou-se com a família para Campinas. 

“Tive a felicidade de me mudar para Campinas em 1956 e chegar ao Centro Espírita Allan Kardec. Foi uma grande alegria, pois parece que estávamos aguardando essa oportunidade de um ambiente estimulador, que desse campo para o nosso trabalho”, disse Therezinha. 

Na década de 1960, ingressou no Movimento de Unificação Espírita de Campinas, do qual foi presidente por dois períodos. Naquela época conheceu pessoalmente Chico Xavier, que passou a encaminhar pessoas da região de Campinas para serem orientadas por ela no CEAK. Além de se dedicar às atividades de divulgação doutrinária da instituição e de orientar os que a procuravam, fez parte da diretoria da Casa, chegando a ocupar a presidência por quatro gestões, de 1980 a 1988. 

O reconhecimento 

“Lembro-me do dia em que a vi pela primeira vez na mocidade espírita. Eu tinha 15 anos e ela 26. Era uma figura jovial, simpática, que me entusiasmou para a vida espírita. Sabia ser firme, mas usava uma linguagem simples e objetiva. Sabia motivar as pessoas com um jeito especial e também dividir as tarefas”, recorda Julieta Côva Checchia, de 82 anos, uma das trabalhadoras do CEAK que conviveu de perto com Therezinha.

O filme Na luz de Therezinha Oliveira, produzido pelo CEAK, traz depoimentos de muitas pessoas que a conheceram. Uma delas é o filósofo e escritor Emanuel Cristiano, que afirma que no movimento espírita, antes da obra literária de Therezinha, se as pessoas quisessem conhecer a história de Jesus, encontravam apenas as elucidações evangélicas de Antônio Luiz Sayão (1829-1903) e Cairbar Schutel (1868-1938). 

“Ela fez uma obra de análise histórica fantástica ao longo dos anos no CEAK. Lamentável que as pessoas, de uma forma geral, não consigam reconhecer a importância do estudo do aspecto histórico da vida de Jesus. Conseguiu fazer isso com uma linguagem didática e científica, porque todas as fontes são citadas, todas as informações, confirmadas”, analisa o escritor.

“Ela foi uma figura excepcional, lembra o ex-prefeito de Campinas, Lauro Péricles Gonçalves. “Firme, um amor, uma dedicação completa à doutrina espírita. Penso que ela, dona Daysi [Machado] e dona Julieta foram as continuadoras da obra de Gustavo Marcondes, o fundador do CEAK. Foram colunas firmes para manter a pureza doutrinária dentro do CEAK, não aceitando misticismo, deturpação na mediunidade, interpretações pessoais de texto, mas o espiritismo simples, bonito”. 

*Jornalista, colaboradora do Grupo Espírita Batuíra e do jornal Valor Econômico.

Algumas de suas obras:

Obras literárias

Iniciação ao espiritismo
Mediunidade
Reuniões mediúnicas
Fluidos e passes
Oratória a serviço do espiritismo
Estudos espíritas do evangelho
Orientação mediúnica
Espiritismo a doutrina e o movimento

Livretos

Ante os que partiram
Deixe-me viver
Reencarnação é assim...,
Suicídio? Um doloroso engano
Chegando à casa espírita.

Coleção

“Na luz”
Na luz do evangelho
Na luz do espiritismo
Na luz da reencarnação
Na luz da mediunidade