O imortal Cairbar Schutel

Por Sonia L. Bergman

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Aquele jovem que no ano de 1885, na então Capital do Brasil, o Rio de Janeiro, observava o mapa da estrada de ferro para escolher seu destino no estado de São Paulo por certo não imaginava que ainda hoje, seu nome seria citado como O Imortal!


O Bandeirante do Espiritismo, O Apóstolo de Matão, O Pai da Pobreza, muitos foram os nomes dados a Cairbar de Souza Schutel e muitas são as instituições que levam o seu nome.
Mas quem é Cairbar e por que O Imortal?


Órfão aos nove anos de idade, desde cedo ele mostrou-se à frente do seu tempo. Inteligente, não se adequou ao sistema de ensino da escola. Aprendeu francês com o avô, foi aprendiz de farmácia e exerceu a profissão por toda a vida. Talvez ele pressentisse que a vida lhe exigiria, bem rápido, cuidasse de si próprio.


Com a mãe, aprendeu a orar; católico, só encontrou respostas para as questões que o instigavam na doutrina dos espíritos, que passou a estudar e a divulgar.

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Na pequena cidade de Matão, interior de São Paulo, ele se estabeleceu como farmacêutico respeitado, vindo a ser eleito entre os seus vereadores como o primeiro intendente. Lá enfrentou a ira dos padres que não queriam que as ideias espíritas proliferassem. Diante das portas fechadas dos jornais, resolveu lançar seu próprio meio de comunicação, o jornal O Clarim, que neste ano completa 114 anos, ainda em atividade.


Amado e respeitado por seus companheiros, Cairbar sabia como ninguém que o líder é o primeiro a dar o exemplo e o último a descansar a enxada. Ainda hoje, aqueles que conviveram com ele se apressam em dizer o quanto era nobre e gentil e como impunha respeito e admiração. Até mesmo os padres acabavam por se render à sua irresistível integridade.


Além de farmacêutico que atendia a todos — os que podiam e os que não podiam pagar —, Cairbar visitava as famílias nas localidades rurais, os presidiários. Além de editar e distribuir O Clarim, dirigia o grupo espírita, escrevia livros, mantinha comunicação com estudiosos no exterior, fazia palestras e sonhava com a edição de uma revista para abordar temas da ciência espírita veiculados pelos periódicos europeus e americanos. Foi assim que ele iniciou a Revista Internacional do Espiritismo, em 15 de fevereiro de 1925. Mais tarde, ainda vê no rádio um bom veículo para a divulgação do seu tema favorito: a imortalidade da alma!


Muitos eram os sinais de sua inquestionável humanidade, mas talvez o respeito e o amor com que tratava os animais, numa época em que nem bem as crianças eram valorizadas, seja o mais doce de todos eles. Antes de ele próprio se alimentar, garantia que seus irmãos menores estivessem alimentados. Chegou a comprar um cavalo velho e cansado apenas para aposentá-lo.

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Em 30 de janeiro de 1938, depois de curto prazo de enfermidade, Cairbar retorna à Pátria Espiritual para dar continuidade às suas intensas atividades, não sem antes deixar o testemunho da sobrevivência do Espírito para os companheiros de lutas. Manifestando-se através do médium Urbano de Assis Xavier, durante o velório de suas vestes materiais, consola e anima os amigos e sugere simplicidade para a última morada do corpo físico, onde pede conste do seu epitáfio: "Vivi, vivo e viverei, porque sou imortal."


Hoje o espiritismo é amplamente conhecido e raro é o lugarejo no Brasil que não tenha um centro espírita. Talvez, por isso, seja tão importante lembrarmos a história e os atores deste direito que a duras penas e grandes embates se conquistou.


O espiritismo que nasceu na França floresceu no Brasil com o trabalho árduo de dedicadas mãos, que sob fortes intempéries souberam vencer dificuldades e de maneira determinada abriram as picadas mata adentro.


O Bandeirante do Espiritismo é um desses, cuja história acaba de ser tão bem retratada pelo jornalista e historiador David Liesenberg, em seu livro O Imortal Cairbar Schutel (Ed. IDE, 2017). Uma história rica, de uma vida bem vivida e dedicada ao bem, que inspira pelos seus exemplos e faz crescer a esperança no coração de quem o lê. 

(Publicado no Jornal Correio Fraterno, edição 487, mai.jun/2019)