Educandário Pestalozzi: nos moldes de Yverdon
Por Izabel Vitusso
Na década de 40, Tomás Novelino, uma das mais importantes influências na educação e no movimento espírita na cidade de Franca e também no Brasil, teve inúmeros motivos para fundar o Educandário Pestalozzi, reconhecido pelos próprios suíços como o colégio que mais se assemelha ao modelo idealizado por Pestalozzi, o mestre da educação do Instituto de Yverdon, na Suíça, onde estudara Allan Kardec.
Órfão aos 7 anos de idade, com mais três irmãos, Tomás Novelino foi interno por cinco anos no orfanato Anália Franco, em São Paulo, outra grande educadora e espírita que não concebia educar-se uma criança sem a presença do complemento moral e da formação para o espírito.
Aos 12 anos, de volta para Minas Gerais (nascera em Delfinópolis, MG), Novelino foi para a cidade de Sacramento, beber diretamente em outra fonte genuína de educação: o Colégio Allan Kardec, junto a Eurípedes Barsanulfo, um espírito de ilibada competência, que entendeu e priorizou o valor da educação na edificação do ser. No Colégio Allan Kardec prêmios e castigos não faziam sentido. O que se propunha era a autodisciplina, com avaliação contínua e atenta de todos os alunos, em seus potenciais e suas carências, não tendo as provas finais, por exemplo, o efeito de aprovação, mas de compor o conjunto das observações dos professores, um modelo bastante avançado para os moldes da educação no começo do século passado.
Com toda essa vivência em sua formação, o impulso derradeiro para que Tomás Novelino efetivasse a fundação de uma escola surgiu quando, morando na cidade de Franca e já casado com a educadora Maria Aparecida Rebelo Novelino, o ex-aluno de Eurípedes Barsanulfo indignou-se com a expulsão de um aluno de uma escola da cidade, pelo fato de ele ser espírita.
O casal então pôs mãos à obra e fundou no ano de 1944 o Educandário Pestalozzi, destinado a crianças desde a primeira infância, e que iria se transformar num dos estabelecimentos de ensino mais tradicionais do país, inclusive com aulas de evangelização à luz do espiritismo.
Em 1949, a escola transferiu-se para suas instalações definitivas, construídas com todo os requintes pedagógicos, guarnecidos pelas linhas arquitetônicas coloniais que lembram um castelo, quando foi possível ampliar-se a educação que chamamos hoje ensino médio.
Foi o próprio Novelino quem contou que, ao ser levado para Suíça para ser homenageado, na ocasião dos 250 anos do nascimento de Pestalozzi, teve oportunidade de conhecer o castelo onde Pestalozzi atuou, surpreendendo-se com a similaridade dos pátios de ambas instituições.
No início dos anos 50, no intuito de atender à demanda de crianças órfãs e carentes, o casal iniciou também o trabalho de um orfanato, dentro da própria escola.
E quem pensa que a educação foi o único pendor de Tomás Novelino engana-se. Em 1928, ainda solteiro, ele recebia no Rio de Janeiro seu diploma de médico, profissão que abraçou e à qual se dedicou, além das incumbências como espírita atuante requisitado na cidade e das atribuições familiares. Foi pai de seis filhos.
“Papai era muito empreendedor, tanto é que ele fez isso tudo e nunca pensou nele mesmo. Faziam bem feito. Ele e minha mãe. A escola sempre primou pela qualidade. Não é porque os alunos que a frequentavam eram simples que tudo podia ser mais ou menos”– analisa seu filho, Cleber Novelino, que também é médico e diretor da Fundação Pestalozzi.
“Conviver com meus pais foi uma verdadeira lição de vida. Lição como: conviver com os órfãos, com a simplicidade... Nós nos alimentávamos com eles, vestíamos o que eles vestiam. Meu pai era médico, minha mãe professora do estado, tinham condições [financeiras]. Mas se houve em algum tempo, algum sofrimento por não desfrutarmos dos bens materiais, houve também o tempo do crescimento para o nosso espírito. Uma grande oportunidade!”– conclui.
Passados quase 70 anos de fundação e uma incontável coleção de histórias de lutas pela sobrevivência, o Educandário Pestalozzi orgulha-se por ter conquistado condições para ajudar a formar milhares de alunos por ano, da pré-escola ao ensino superior. Orgulha-se também por sustentar em seu portal de atividades, em pé de igualdade, com tantas possibilidades se formação, uma opção diferenciada para os alunos: ATIVIDADES DOUTRINÁRIAS.
(Artigo original publicado no Jornal Correio Fraterno, edição 445 mai/jun 2012)